3 | O motoqueiro

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Duas horas, meus olhos estavam quase fechando enquanto ouvia o médico dizer que, mesmo tendo atropelado o paciente, não poderia o ver, mas a boa notícia, era que ele realmente está ótimo e caso ele desejasse uma visita minha, poderia voltar no outro dia. Não podia ver um paciente dopado, ah que drama dos infernos.

Ainda incerta se deveria ir, pedi que o hospital me ligasse e me desse notícias do paciente. O seguro, com quem fiquei conversando por uma hora no celular, cobriu os gastos da moto do bêbado desgraçado e do meu carro, óbvio. É, parece que meu pai iria receber uma conta muito grande. Sabia que ia ter que dar explicações, porque foi quem me deu o carro, entregou a chave na minha mão e falou: tome cuidado para não atropelar ninguém.

Olha que ironia, não é mesmo?

Entrei dentro do táxi, sentindo meu corpo relaxar quando me cobri com o casaco escuro e fechei minimamente meus olhos, soltando um pequeno suspiro.

O mínimo que tive em meu rosto, foi um caco em minha sobrancelha e a batida forte, que apenas fez doer meu corpo por breves momentos, foi feito todos os exames, apenas para garantir que estava tudo bem.

Ah, eu queria gritar de frustração.

Minha cabeça ainda estava doendo quando abri o portão de casa e vi que tudo estava iluminado, o carro do Erick estava na garagem e apenas consegui soltar um suspiro. Meu corpo estava começando a ficar mais dolorido e tudo que precisava era de um banho quente, esfriar a cabeça e enfim fechar meus olhos e sonhar com alguma porcaria.

Possivelmente com o atropelamento? É, talvez.

Tirei o casaco quando cruzei a porta.

Silêncio, muito silêncio.

― Então você atropelou uma pessoa, Julieta? ― Me virei devagar, piscando algumas vezes e vendo Erick ao lado da minha mãe.

No instante que deixei meu olhar fixo sobre meu amigo, vi as bochechas dele ganharem um tom avermelhado, como se estivesse envergonhado.

― Nossa, eu to bem, sabia mãe? Sabe o que é melhor ainda? Não comi a porcaria do chocolate que fiquei imaginando pela porra de seis meses. ― Respirei fundo, sentindo a raiva subindo por todo o meu corpo e do nada, comecei a tremer, sentindo mais frio ainda, meu corpo se arrepiando quando ela abriu minimamente a boca.

― O seguro me ligou...

― O seguro é da porcaria do meu carro, que o meu pai me deu. Satisfeita em ouvir isso? Ótimo, vou tomar banho e dormir, a menos que queira importunar mais o meu dia, dê três batidas na porta, porque tenho certeza de que a noite ainda nem terminou. ― Remexi meus braços, completamente frustrada.

E em passos rápidos, caminhei pelo corredor, sentindo raiva de Erick. Claro, ele possivelmente me seguiu e me viu no meio do acidente, mas ao invés de ir ver se estava bem, veio fofocar para a minha mãe.

Hump, claro, por que não né? Era tudo que eu precisava, ficar ouvindo minha mãe reclamar sobre o carro que usamos, o dia todo, na porra do meu ouvido.

Eu estava tão cansada.

Só queria dormir, só isso.

Nem mesmo fome estava sentindo.

Quando escutei passos atrás de mim, enquanto entrava em meu quarto para poder pegar minhas coisas, apenas ouvi o pigarreio de Erick. Meu suspiro saiu completamente angustiado e enraivecido.

Por que ele tinha feito isso comigo?

Ele não é o meu melhor amigo?

― Não quero falar com você, Erick. ― Apertei a toalha dobrada contra meu corpo e me virei pra ele, suas bochechas ainda estavam levemente avermelhadas, seus olhos com um tom de mágoa e seus lábios tremiam, como se quisesse dizer algo. ― Por favor, vá pra casa.

A Bailarina e o Bad Boy | Vol.1 [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora