Final de tarde do dia vinte e três de junho. Para muitos na cidade de Boston, aquele sábado estival seria igual a muitos outros; um dia de trabalho para alguns, e de descanso para outros. Mas para nós três — Javi, Nick e eu —, era a data mais aguardada do mês, ou até mesmo do ano: O nosso aniversário de formatura. Desde a nossa formatura no colegial, o compromisso de nos reunirmos, em um bar qualquer da cidade, para comemorar a tal data era uma regra que nós seguíamos a risca. Era nosso momento de prestarmos uma homenagem aos anos nos quais a nossa única preocupação era tirarmos boas notas e nos divertir nos finais de semana. Porém, pela primeira vez em sete anos, essa regra áurea seria quebrada.
Quando liguei para o Nick para convidá-lo para a nossa comemoração, ele havia me dito que passaria a tarde e um pedaço da noite com sua amiguinha escritora na Downtown para ajudá-la em um tal laboratório para um conto que ela estava a escrever. Sabe aqueles momentos em que você pensa "Aí tem coisa"? Não é todo dia que o Nick saía com uma mulher para se divertir. A única saída naquele caso era nós dois sairmos para aproveitar a nossa 'Bro Night*' — só nós, e o mais puro Rock n' Roll, sem qualquer mulher no meio.
Depois de encontrar o Javier na estação do metrô, andamos um pouco pela Downtown para tentar descobrir onde o Nick estava e tentar arrastá-lo para a nossa farra. Porém, mesmo rodando aquela região umas três ou quatro vezes, não conseguíamos encontrar o nosso amigo revisor. Até tentamos ligar para ele, mas sempre caía na caixa de mensagens (a primeira vez que isso acontece em muito tempo). Vendo que não teríamos sucesso em encontrar a peça que faltava do trio, decidimos que seria melhor nós irmos ao Boulevard, um pub irlandês que ficava perto do Píer Fan, para comemorar o nosso aniversário de formatura. Aproveitando o gancho da conversa durante nossa caminhada, convidei o técnico de T.I para o churrasco que eu faria no dia da independência — a segunda data mais importante do calendário, atrás apenas do Super Bowl. Porém, para minha indignação, Javi havia recusado o convite.
– Ah qual é, Javi! Tem certeza que você não vai poder ir no churras de quatro de julho? – perguntei. – Toda a galera vai!
– Vai ser impossível pra mim, Colton – respondeu Javier, guardando os seus óculos de sol no bolso de seu casaco. – Eu prometi a Hayley que iria tomar conta do Ziggy enquanto ela ia visitar os pais dela no Oregon. Você sabe como ela adora aquela bola de pelo.
– Entendo... Mas aí... Algum plano para o final de semana que vem? Eu tenho entradas para o show da turnê de despedida do Black Sabbath – Eu dei uma cutucada em seu braço com o cotovelo –, e eu sei que você se amarra.
– Mas é claro que aceito, cara! – Os olhos do Javier começaram a brilhar. – Essa pode ser minha última tentativa de ver o Ozzy e o Tommy Iommi juntos ao vivo.
– Por que será que o Madman não bebeu da mesma água que o Keith Richards? – comentei. – Mesmo se entupindo de pó e de Jack por anos a fio, aquele maracujá de gaveta ainda continua vivo!
– Eu também queria saber – confessou Javier. – Mas o cara já está tão esclerosado que talvez tenha que apelar para um teleprompter para se lembrar das letras.
– MEU DEUS! EU ESTOU ATRASADA!
Nós estávamos tão distraídos com o papo que não percebemos que uma asiática estava correndo em disparada em nossa direção, trombando com a gente logo em seguida. Ela caiu no chão e rolou por mais alguns metros, deixando cair uma bolsa de tecido lotada de livros e quadrinhos. Um deles, que parecia ser um caderno de anotações e esboços, foi o que caiu mais perto de nós. Javi foi prontamente ao seu socorro, enquanto eu recolhia um pedaço do conteúdo da bolsa dela. Dentre os livros que recolhi, a grande maioria era composta por mangás. O que mais me chamou a atenção foi as capas deles, com várias imagens um tanto picantes de homens se abraçando.
– Você está bem, garota? – indagou Javi enquanto ajudava a desconhecida a se levantar. – Se machucou?
– Eu... eu estou legal – disse ela, ajeitando os óculos no rosto. – Desculpe-me se eu acertei vocês. Eu estava tão apressada que não os vi no caminho. – Ainda envergonhada com o que aconteceu, ela começou a colocar os livros de volta na bolsa, como se quisesse escondê-los de mim e do Javier. Após uma rápida conferida, seu pulso acelerou ainda mais ao descobrir que faltavam alguns - entre eles, o seu amado sketchbook.
– Era isso que você procurava? – perguntei enquanto entregava os livros que faltavam. Aproveitei para tirar um pouco de poeira e algumas folhas de seus ombros. – Vê se toma mais cuidado, está bom? – Ela anuiu, pondo-se a correr logo em seguida.
– Por que será que ela queria esconder os livros? – perguntei ao Javier, um tanto encafifado, coçando a cabeça. – Era como se não quisesse que descobríssemos o seu conteúdo.
– Eu também não sei, Colton. – Ele parecia ter a mesma impressão que eu. – Eu acho que ela só devia estar com pressa. Mas, se te serve de consolo, eu estou tão pensativo quanto você.
Mesmo ainda surpresos com o que aconteceu entre nós dois e a nerd asiática, decidimos seguir até o pub para aproveitar a noite juntos, tomando algumas cervejas. Por garantia, mandei uma mensagem ao Nick com o nome do local e o endereço caso ele e sua amiga quisessem nos encontrar mais tarde. Afinal, o que seria do trio sem o nosso revisor?
* Um encontro social, geralmente envolvendo álcool ou outras substâncias, nos quais a presença de mulheres é estritamente proibida.
E aí pessoal, como vão vocês?
Depois de uns quase dois meses queimando massa cinzenta (e mais um mês e pouco acertando as coisas e criando coragem para publicá-lo), trago-lhes um novo texto para vocês. Decidi pegar outro dos meus personagens e colocá-lo numa experiência que faria qualquer um de nós aqui ficar branco igual um lençol.
Quer saber o que rolou? Não perca o próximo episódio na semana que vem.
Deixem o seu comentário (eu dou um jeito de responder, ok?), deixem o seu voto e, o mais importante, espalhe para aquela sua amiga que curte um shipp e um BL bem maroto!Um abraço e até o Episódio 2!
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Nós fomos Shippados!?
General FictionAo longo da história da humanidade, a curiosidade foi a motivação dos principais avanços e descobertas. Porém, conforme o tempo passou, nos esquecemos de que a mesma tem o poder de nos enganar e nos levar a uma experiência bem desagradável. Enquanto...