– Meu shipp – gritou ela, pulando em minha direção. Instintivamente, eu a segurei para que ela não caísse no chão. Quase que ela me roubou um beijo no processo. Seu rosto, ligeiramente vermelho, estava tão perto do meu que eu podia sentir um pouco do cheiro do Jack Daniel's em seu hálito. – Só de te ver, meu coraçãozinho está fazendo muito Doki Doki* – disse-me ao pé do ouvido, agarrando-me fortemente. O seu padrão de voz me deu a dica de que ela tinha bebido um pouco além da conta. Mas foi tanto uísque a ponto de me confundir com o Javier? – Você poderia me ajudar a desacelerá-lo?
Ela estava a milímetros de me beijar. Para minha sorte, as outras conseguiram me separar dela. Ela até tentou me agarrar novamente para tirar mais uma casquinha minha. Mas a latina conseguiu segurá-la firmemente pelos ombros, igual a um gato quando segura um de seus filhotes pelo pescoço.
– Megan! Sua besta quadrada – ralhou Catherine, dando um beliscão bem forte na orelha de Megan. – Eu te falei para não tomar o Banana Jack todo em um gole só!
– Mas ele estava tão 'totoso', titia Cathy. – Era evidente que aquela ruiva estava fora de si. – Deixa eu 'apetá' meu shipp só mais um 'puquinhu'... – implorou, em um tom de voz mais infantil, tentando se desvencilhar das garras da latina. – Ele é tão 'fufinhu' que dá vontade de 'mudê'! – Chorosa, ela estendeu os braços em uma tentativa de me alcançar. – Deixa eu 'mudê' ele, titia... 'Dexa eu mudê'... 'Dexa de sê má cumigu'. – Mas Catherine conseguiu puxá-la para mais perto de si, e dar um abraço de urso, a imobilizando, fazendo-a chorar ainda mais. Quem diria que eu seria recebido desse jeito por uma garota mais jovem que eu...
– Perdoe-me pela euforia da minha amiga – disse Alexis, dando mais um beliscão na ruivinha para ver se ela sossegava, ou, ao menos ficava mais sóbria. – Ela bebeu três Banana Jacks em uma única noite.
– Eu bem que notei. – Ri um pouco para disfarçar meu espanto com tal acontecimento. – Acho que ela deve ter me confundido com outra pessoa. – Eu deixei o chaveiro na mão dela. – Mas voltando ao assunto, quando ela estiver mais sóbria, você entrega isso a ela por mim? – Eu pude ver um dos garçons deixando um hambúrguer na mesa onde Nick, Julie e Javi estavam. – Eu tenho que voltar para minha mesa. – A afro-americana iria agradecer o meu gesto, mas ambos fomos surpreendidos por um flash de luz vindo do celular da asiática. A nerd maliciosa de cabelos e olhos cor de ébano aproveitou que eu estava distraído entregando o chaveiro de Megan para a afro-americana para tirar uma última foto minha e usá-la nos retoques finais de sua obra-prima. Mas o que diabos aquela garota estava pensando na hora que ela me fotografou?
Enquanto ela dava os retoques que faltavam em seu desenho, eu me aproximava do seu ambiente de trabalho improvisado. Ela forçava um pouco a vista em alguns momentos para dar um último meticuloso retoque em sua obra. A desenhista estava tão concentrada no seu trabalho que nem ouviu o que eu disse. Eu só consegui chamar a atenção dela quando dei leves batidas no tampo da mesa, fazendo com que ela soltasse alguns palavrões, visivelmente indignada com o fato de não conseguir trabalhar em sua arte com o sossego que ela precisava. Porém, quando ela levantou sua cabeça para direcionar o seu olhar ao possível alvo de seus xingamentos, a primeira pessoa que ela notou a sua frente era eu, o que deixou seu rosto tão vermelho quanto um tomate maduro.
– Posso saber o motivo de você ter tirado aquela foto sem minha autorização? – perguntei, irritado pela conduta dela. Ela não me respondia. Era bem provável que nunca passaria por sua cabeça ter um dos modelos que ela usou no desenho a centímetros de distância.
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Nós fomos Shippados!?
General FictionAo longo da história da humanidade, a curiosidade foi a motivação dos principais avanços e descobertas. Porém, conforme o tempo passou, nos esquecemos de que a mesma tem o poder de nos enganar e nos levar a uma experiência bem desagradável. Enquanto...