Once in Goldenville | Larry Stylinson

Episódio I: Três segundos de coragem.

Coragem.

Três segundos de coragem.

Isso já é o suficiente.

Louis sempre teve o costume de pedir três segundos de coragem para o universo. De três em três. Ele consegue fazer coisas inimagináveis depois, mas, ele precisa de três segundos. Sempre. O primeiro empurrãozinho para fora das barracas rumo ao campo de batalha. Precisa de uma ajuda para prender sua armadura com mais resistência, que alguém alimentasse seu cavalo e se possível não o deixasse esquecer sua espada. E mais milhões de referências a guerras e esse tipo de coisa que você pensa quando sente que vai enfrentar o mundo.

Então, na manhã da entrega de seu projeto para a Srª Donaldson ele fica um tempo na frente do espelho quadrado de seu banheiro e pede por só mais três segundos. Ele não tinha pedido muitos naquele mês. Ele sabia que precisaria de três para sair de seu pequeno apartamento, mais três para entrar na sala de aula número quatro, mais três para levantar a sua mão quando a mulher alta de longos cabelos acobreados perguntar: "alguém deseja apresentar seu projeto para a turma? "

Veja bem, Louis Tomlinson, o garoto dos três segundos, é aluno de Artes Cênicas na Universidade de Goldenville, que se localiza numa bonita cidade da Inglaterra de mesmo nome. Goldenville, a cidade de ouro. Onde espera-se que alunos de ouro cruzem os limites do interior e cintilem brilho dourado de genialidade em todo o mundo.

Existe uma disciplina em seu curso chamada Encenação Teatral II e nela os alunos são desafiados a manifestar a frente de uma plateia todo o seu suposto talento na atuação. Mas, na classe de Elizabeth Donaldson, é preciso ir além. Como escrever uma produção teatral e convencer a turma de que eles deveriam investir e atuar nela.

Durante mais de mês, Louis se dedicou a escrever sua primeira produção. Seu primeiro trabalho com roteirista na faculdade. Ele usou a obra Romeu e Julieta de William Shakespeare – o que pode ser considerado muito ousado de sua parte – como base para a sua escrita, de modo que escreveu uma reinterpretação contemporânea da tragédia. Transformando a antiga Verona em uma cidade norte-americana fictícia, conservadora e retrograda, Romeu e Julieta em dois rapazes e a guerra entre as duas famílias em uma jogatina de culpa mútua das mesmas sobre qual foi aquele que destruiu a heteronormatividade, que na verdade nunca existiu, e o futuro de seu filho.

Ele acredita que fez um bom trabalho com a obra. Seus dois melhores amigos e sua irmã caçula, que devoraram cópias online de seu roteiro, o garantiram que esse é o pensamento correto a se manter. Mas, enquanto ele tranca a janela do único quarto existente e a porta da frente do apartamento em que ele vive, sua certeza de qualquer coisa vai se esvaindo. Ele nem ao menos toma o café que colocou de manhã cedo em sua garrafa térmica. Ele nem ao menos consegue se distrair repassando mentalmente que precisa tirar as roupas do varal dobrável da lavanderia compacta que ele tem dentro do espaço da cozinha.

Ele nem ao menos se preocupa com qualquer um dos outros problemas que se apossam da sua vida.

Apenas fica nervoso.

Muito ansioso.

Mordendo a pele solta de seu lábio inferior e arrancando pedacinhos de sua cutícula do dedão com os dentes.

Mas, o universo lhe dá seus três segundos.

Ele os usa para se colocar para fora de casa.

Arrumado em seu raro estilo casual chique – jeans escuros, camiseta branca, assim como o par de all star, e uma jaqueta com as mangas erguidas, não dá para errar –, com sua mochila de lona preta nas costas, cheia de seus broches da adolescência, e seu projeto teatral impresso e encadernado nas mãos vai caminhando e, por sorte, acha o elevador parado. Lá dentro, ele se vira para a parede encarando seus cabelos lisos penteados para a lateral, seu bronzeado de verão que aos poucos está sumindo, seus olhos azuis – que uma vez um homem disse que eram tom "paraíso escondido" – aterrorizados pela ansiedade e pede: