VI

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Passaram-se alguns dias desde aquele incidente. Depois de termos apresentado o trabalho, Haddad e eu ainda conversávamos, mas não com tanta frequência como naquela semana pois, sempre que começavamos a conversar, alguém acabava nos atrapalhando. Pensando nisso, eu mesmo havia decidido que, o melhor a fazer, era me afastar. Talvez aquele fosse um sinal divino dizendo que não deveriamos ficar tão próximos. Além disso, queria evitar brigas com Jair ou com a Manuela.

Ainda assim, eu sentia falta de nossas conversas, ele era um garoto legal, eu realmente gostava dele.

Como sempre, fui para o colégio junto com Marina, que não conseguia ficar nem sequer um segundo sem falar sobre a tal festa à fantasia, que ocorreria na noite seguinte.
Assim que chegamos, vimos Haddad conversando com, ninguém mais, ninguém menos, que Bolsonaro.

Era só o que me faltava. Agora ele vai ficar dando em cima do meu garoto?

Tudo bem, ele não era meu, mas podia ser. Então, o fato de Jair estar falando com ele, já me deixava profundamente irritado. Calma Ciro, não seja tão possessivo.

Eles conversavam, riam e trocavam olhares, o que era estranho, já que eles nunca haviam sido muito próximos.

- Eu vou socar a cara dele - cochichei para Marina.

- O que? Mas por que você vai bater no Haddad? Você não gosta mais dele?

- Não é dele que eu estou falando - revirei os olhos - me refiro àquele... coiso.

Sim, alguns dias atrás, eu estava com medo de Jair, mas depois de vê-lo trocando olhares com Haddad, minha única vontade era acabar com ele.
Ciro, não se iguale a ele.

Bolsonaro reparou em como eu observava aquela cena absurdamente ridícula, e sorriu, aproximando-se ainda mais de Haddad.

- Já posso bater nele? - perguntei para Marina.

- Ei, se acalma, olha só quem está chegando.

Assim que prestei atenção, percebi que Manuela estava se aproximando. Pelo menos ela pode separar os dois, pensei.

Ela deu um beijo em Haddad e sorriu ao se afastar. Sorte a dela...

- Aonde você está indo, Ciro? - Marina me perguntou, ao notar que eu estava me afastando.

Assim que me virei, reparei que algumas pessoas nos encaravam e, Haddad, era uma delas.
Nossos olhos se encontraram por um segundo, mas eu logo peguei Marina pelo braço, arrastando-a para a nossa sala de aula que, naquele momento, ainda estava vazia.

- Marina, quer saber? Eu cansei! Ele nunca vai ligar para mim, sejamos sinceros.

- Claro que vai! Você é uma pessoa legal, divertida-

- Mas não sou eu a pessoa com quem ele quer estar, ele tem a Manuela - Parei de falar por um segundo - eu não posso me aproximar dele...

Contei a ela sobre o que o Bolsonaro havia feito, além de algumas ameças que eu havia recebido durante todos aqueles dias.

- Não acredito - ela gritou incrédula - e você não me falou nada?

- É, eu... Fiquei com medo...

- Deixa disso, Ciro! Você nunca foi assim! Você pode se aproximar de quem você quiser, Jair não manda em você! E se ele não quiser, tem quem queira!

Marina tinha razão. Eu precisava me resolver com Haddad o quanto antes. Tudo o que havia acontecido, aquele quase beijo, não havia sido nada? Foi apenas pelo calor do momento? Ciro, não viaja! Vocês nem chegaram a se beijar!

- Tudo bem, eu irei falar com ele hoje.

O sinal tocou e todos entraram.

Durante a aula de matemática, passei um bilhete para Haddad, pedindo para que pudessemos conversar a sós. Ele me olhou e assentiu.
Assim, quando a aula acabou, esperamos todos se retirarem da sala e finalmente pudemos conversar.

- Hã... Sobre o que você queria conversar? - Haddad me perguntou.

- É que... Bem... Eu não sei como dizer isso, mas eu... Hã...

- Ei Haddad, você não vem com a gente? - Lula apareceu, questionando-o.

- Ah, sim, já estou indo. Pode ir na frente, eu te encontro.

- Espere - pedi, segurando-o pelo pulso - se eu não te falar isso agora, eu não sei se terei outra chance.

Esse era o momento; eu precisa contar a ele.
Parei para escolher as palavras e só então, comecei a falar.

- Olha, eu só queria dizer que eu - respirei fundo - eu te amo, é isso.

Ele me encarou, surpreso com a revelação. Se aproximou e colocou uma de suas mãos em meu rosto.

- Está falando sério? Não está apenas brincando comigo ou-

- Nunca falei tão sério em toda minha vida - ele sorriu -sou apaixonado por você. Na primeira vez que eu te vi, pensei que nunca chegaria ao ponto de me confessar. Eu sei que você tem namorada, sei que você pode me rejeitar, mas eu não posso continuar fingindo que está tudo bem.

Nesse momento, senti como se um peso tivesse saído de meus ombros; eu finalmente havia me confessado.
Senti meu rosto sendo molhado por uma lágrima.

- Está tudo bem - ele disse - não precisa chorar - Fitei o chão, sem saber o que dizer.

- Me desculpe - respondi, secando as lágrimas que insistiam em cair - Apenas me diga se você sente o mesmo por mim.

- Ciro, se eu dissesse que não, estaria mentindo - Foi a minha vez de sorrir - mas eu não posso, nós não podemos.

Continuei olhando para ele, sem dizer uma palavra. Tudo bem, eu já estava esperando por isso, pensei. Eu esperava, eu sabia que levaria um fora. Então por que doía tanto? No fundo, eu ainda possuía o mínimo de esperança? Eu ainda acreditava que poderia haver um "nós"?

- Você está bem? - finalmente pude ouvir sua voz novamente.

- Não se preocupe, tá tudo bem. Nos vemos depois.

- Ciro, espere - Haddad gritou, quando eu já havia me afastado - me desculpe.

- Eu já disse, tá tudo bem - mas não estava.

Apenas fui embora.
Eu precisava de um tempo para pensar, pois aquilo tudo era muito confuso. Se eu havia entendido bem, ele sentia o mesmo que eu. Por que não podiamos ficar juntos? Talvez ele não quisesse terminar com a sua namorada ou estivesse incerto em relação aos seus sentimentos. Talvez, bem lá no fundo, ele não sentisse nada por mim.

Eu não deveria ter criado esperanças.

***

Oioi gente
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Hoje, provavelmente sairá mais um capítulo, que será especial de halloween, mas se não sair hoje, com certeza sairá amanhã!

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