The one with the game

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"É a sua vez, Shou-chan! Gira!" a voz de Izumi podia ser ouvida alta e empolgada ao meu lado.

Eu estava eufórico e ansioso; tremendo, para ser mais preciso. Por um momento, a voz de todos  que gritavam sem parar "Gira! Gira!" ─ foi sumindo gradativamente, até que eu só pudesse ouvir meu próprio coração batendo descontroladamente. Engoli em seco e tomei a pior decisão da minha vida: girar aquela maltida garrafa. A roda ficou em silêncio e tudo o que podíamos ouvir era o barulho da garrafa girando no assoalho de madeira da sala de estar de Kouji. E então, a garrafa parou, e eu dei de cara com quem eu menos esperava.

"Oh, Shou-chan…" a voz de Izumi saiu em um sussurro de compaixão. Eu senti meu coração apertar e tudo se tornou preto, até que eu só ouvia uma voz falando meu nome.

"Shouyou?"

─ Shouyou!

Abri os olhos, acordando em um sobressalto.

─ Céus! Você está atrasado! ─ dei de cara com a face emburrada de minha mãe, essa definitivamente não era uma das melhores maneiras de se acordar em uma manhã de segunda.

─ Que horas são? ─ Resmunguei emburrado, meu humor não estava dos melhores.

─ Hora de tomar vergonha na cara e ir pra escola! ─ Ela falou, puxando as cobertas que cobriam meu corpo, me deixando destapado. ─ Se você não estiver pronto em dez minutos, vou vir aqui e te levar 'pra escola pelos cabelos!

─ 'Tá, mãe ─ resmunguei novamente, me arrastando durante meu caminho para o banheiro.

Me olhei no espelho ao chegar lá. Estava parecendo um figurante do clipe "Thriller" de Michael Jackson; não! Estava pior.

Aquele sonho sempre me deixava assim. Argh! Só de lembrar daquele dia me dá vontade de morrer de vergonha e raiva.

Sacudi a cabeça, decidido a afastar esses pensamentos vergonhosos da minha mente. Me arrumei o mais rápido possível e antes que o prazo de minha mãe acabasse, desci rapidamente as escadas, nem parando para comer ─ obviamente me arrependeria disso mais tarde ─ e segui meu caminho para o inferno, mais conhecido como escola.

Chegando lá, já avisto Kenma, esbanjando seus cabelos loiros mal tingidos. Sua face demonstrava que ele havia passado a noite em claro jogando, e que ele definitivamente não queria estar ali.

─ Ah! Shouyou! ─ Ele falou ao ver eu me aproximando ─ Nem sabe! Virei aquele jogo que te falei ontem a noite! ─ Não falei? Passou a noite jogando.

─ Ah… — suspirei ─ queria ter passado a noite assim. ─ Lamentei, enquanto caminhavamos pelos corredores da escola, que estavam uma bagunça nessa época do ano.

─ O que houve? Você está bem? ─ Kenma me questionou, franzindo o cenho.

─ Sim, estou bem ─ respondi. ─ É que… Argh!

─ Ah, entendi. Você teve aquele sonho de novo.

─ Sim! E parou bem na parte em que a garrafa apontou para… ─ tive minha fala cortada ao esbarrar com uma parede de músculos.

─ Hey! Olhe por onde anda, imbecil! ─  A voz que atormentava minha vida ecoou pelos meus ouvidos. De todas as pessoas, tinha que ser logo ele?

─ O rei 'tá com tudo esse ano. ─ Kenma falou em um tom irônico, logo após aquele projeto de anticristo sair andando, com sua legião de fãs seguindo ele.

─ Argh! Eu odeio essa desgraça! ─ falei alto e com raiva, olhando ele se afastar cada vez mais.

Aquele, meus caros, é Kageyama Tobio, o mal em figura de gente. Nos corredores, é conhecido como o rei da escola; nos jogos, rei da quadra. Capitão do time de vôlei e o mais popular do colégio, Kageyama não passa de um clichezinho sem graça de filmes adolescentes; um idiota de primeira! E eu o odiava com todas as forças.

Meio clichêOnde histórias criam vida. Descubra agora