capítulo 2

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Ultimamente minha mãe tem tido vários conflitos emocionais, eu encontro ela chorando na cozinha, no quarto, na sala, e as vezes ela simplesmente está tão feliz que eu nem tenho palavras pra descrever. Aí ela fica sorrindo olhando pro celular e a vezes ela escreve no diário dela. Foi assim que eu ganhei gosto por escrever diários, a minha mãe tem alguns de quando ela tinha nove anos de idade. Eu li alguns, eram muito engraçados, a maneira de escrever e as histórias cotidianas. A história que eu mais gosto é quando ela diz sobre o dia em que minha vó ficou doidinha procurando um pacote de absorvente e minha mãe tinha pegado e grudado todos dentro do guarda roupa, ela disse que quando minha vó usava aquilo ela virava uma pessoa ruim, mal sabia minha mãe que não tinha nada a ver com o absorvente e sim com o que ficava nele. Tem outra história legal também sobre como minha mãe se apaixonou pelo meu pai, mas depois fica triste quando ela começa a falar que ele vai ficando estranho e eles acabam se separando.
Acho que todos esses sentimentos da minha mãe tem a ver com o cara com que ela tá saindo, ela obviamente está apaixonada. Por que eu nunca a vi assim.
Se fosse por conta de dinheiro eu saberia, mas ela tem um emprego fixo, eu trabalho e a vovó que nos deu essa casa então ela não precisa pagar aluguel e nem hipoteca.
Só pode ser o cara casado que está tentando se separar.
- Briana, você já terminou o seu desenho?- meu professor pergunta encostado em sua mesa de madeira.
- Sim, eu acho... Só falta o senhor dar uma olhada.
- Tudo bem, me dê ele.
Levanto da cadeira e dou alguns passos até ele, entrego o desenho e fico lá esperando a crítica ansiosamente.
- Seus traços estão bons, mas você precisa esfumaçar um pouco para as sombras ficarem mais reais. Precisa a ver um jogo de sombras.
Talvez eu estivesse distraída demais pensando na vida pessoal da minha mãe e esqueci das sombras.
- Ok, só isso ?
- Por enquanto sim. Você precisa estar mais atenta as aulas Juliana. E quando quiser desenhar o rosto de alguém comece olhando pra pessoa e depois apenas com a imagem na sua cabeça. Porque pode-se perceber que está bom, mas ainda falta alguns detalhes que só se percebe de perto.
O problema professor, é que eu desenhei um cara que eu só vi uma vez na vida!
- Tá obrigada.
Ele me entrega o desenho e eu me sento.
- Traga o desenho pronto amanhã, que a aula já está acabando. Vai valer cinco na nota final em galera. Não me tragam coisas feitas de última hora.
Beleza... Mas... Como eu vou desenhar o Vinícius olhando pra ele, se eu não tenho coragem nem de passar perto da sala dele, fora que no intervalo ele deve ficar com a Chatini ou com os amigos.
Após a aula terminar eu fico com os pensamentos a mil, preciso daquela nota, pego minha pasta e o estojo e saio.
Por que eu tive que desenhar logo ele? Ele vai achar que eu sou uma perseguidora quando eu tiver que pedir pra desenha-lo de perto.
INFERNO!
Ando pelos corredores com medo da onde meus pés estão me levando.
Que ele esteja sozinho, que ele esteja sozinho, por favor Senhor !
Quando estou perto da 21b avisto Vinícius sendo o mesmo lindo que conheci  de calça jeans rasgada no joelho e uma camiseta com estampa de um óculos 3D.
Ele me vê e diz algo para um garoto do seu lado, então vem em minha direção.
Pelo menos ele está sozinho!
- Se perdeu Montez? - sorri de lado.
Estou me perdendo no seu sorriso. E nossa ele se lembra do meu segundo nome.
- Não é que.... - não consigo.
- Fala.
- Preciso te... Desenharparaumtrabalho! - digo o mais rápido que consigo, por que se fosse devagar eu não teria coragem.
- Como assim? - arqueia as sobrancelhas.
Droga!
- Eu desenhei você hoje na aula e... Meu professor é exigente e quer algo mais detalhista, então preciso desenhar olhando pra você. - saiu, ok, me sinto aliviada.
- Sério?! Posso ver o desenho? - ele está surpreso.
- Bom... Acho que sim.- tiro o desenho do tubo e mostro. - Não tá lá essas coisas mas foi o que me meio a cabeça. E acabei desenhando sem perceber.
Isso se entrega! Idiota!
- Está bem parecido. Ficou muito bom. Se quiser eu posso aparecer na sua casa pra você terminar. - me olha apreensivo.
Mas o que? Ele quer ir na minha casa ? Mas e a Chatini? Foda-se ela.
- Só se for depois que eu voltar do trabalho. Tem algum problema pra você ?
Por favor diga que não !
- Tem não é até bom por que depois da escola eu tenho treino e hoje tem um jogo importante pra escola.
Sim, o jogo, como eu tinha me esquecido disso, ele vai pro Wyn com os amigos eheheheh!
- Am... Você vai pro Wyn depois do jogo? - pergunto como quem não quer nada.
- Sim. - sorri. - Que tal eu te levar pra casa depois do Wyn?
Claro!
- Acho que não seria uma boa idéia, sua namorada não ia gostar de saber que você tá dando carona pra uma garota.
- Eu explico pra ela, relaxa.
O sinal do intervalo toca.
- Tudo bem, te encontro no Wyn.
Ele acena um tchau e abre aquele sorriso brilhante. Rsrsrs.
- Até mais tarde gatinha.
- Até.
Fico com meu rosto quente enquanto ele sai, e vou a mil por hora pra minha próxima aula.
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Prego alguns adesivos de bola nas paredes enquanto Devlin coloca alguns enfeites nas mesas pra decorar a lanchonete pra espera dos garotos do futebol.
Wyn está animado e estressado , por que hoje vai ter um fluxo maior de pessoas então ele está instruindo todos nós para que tudo ocorra bem, desde a entrega dos pedidos até a organização no final do dia.
- Hoje vocês vão vestir o novo uniforme que eu comprei, a Devlin que me ajudou a escolher. Então acho que vão gostar.
Royal dá uma olhada pra Devlin que pisca divertida. E eu fico pensando como deve ser esse novo uniforme.
Devlin pega uma sacola grande que está em cima de uma das mesas e abre tirando pacotes menores de dentro e entregando um para mim, Royal e o Andrew.
Eu abro o pacote e encontro uma saia de líder de torcida e uma blusa que deve mostrar um pouco da barriga. Até que é bonito o conjunto mas parece um pouco vulgar. Tinha que ser coisa da Devlin.
Royal parece ter gostado mais do que eu.
- Só você mesmo Devlin. Tá querendo ganhar gorjetas bem altas com esse uniforme né ?
Royal sorri maliciosa pra ela. As duas são uma comédia.
- Essa é a intenção meu amor! Esses jogadores vão ficar piradinhos quando nos ver servindo nesses uniformes.
O Andrew pega o dele que é apenas um boné e uma blusa com a logo do time e sai, rindo das meninas.
- Pensei que ia ter que vestir uma sainha dessas também meninas! - ele força um jeito afeminado.
Todas nós rimos dele.
Após nos vestirmos eu coloco todos os cardápios nas mesas, organizo o dinheiro pro troco ficar mais rápido e checo se tem sabão e papel nos banheiros.
Royal está preparando molhos pra cachorro quente e caldas diversificadas para o sorvete. Já que a industrial não é tão boa quanto a que ela faz.
Aquele gatinho de cabelos escuros não sai da minha cabeça.
E fico o todo tempo viajando na maionese.
Ele vai te dar uma carona Brianna! Imagina. Você vai poder ficar olhando para aquele rostinho lindo! Hehe.
Vou para de trás do caixa e espero até com um pouco de desespero a chegada dos jogadores e torcedores. Por enquanto só há um casal tomando milk shake e um velho com um café lendo o jornal.
Ainda existem pessoas que gostam de ler jornal. Eu por exemplo.
O telefone toca e eu atendo.
- Wyn Burg's boa tarde. - falo automaticamente. Pegando o bloco de anotações.
- Quero três porções pequenas de batata, três cremes um de cupuaçu e dois de morango. - a voz é feminina e diz rápido com eficiência.
Anoto rapidamente abreviando a maioria das palavras de um jeito que só eu entendo.
- Vai querer algum tipo de molho para a batata? - pergunto.
- Sim. Maionese caseira e barbecue.
- Hum... Ok. Qual o endereço?
- Grove Street 940.
- São $ 42 dólares e a taxa de entrega é de três dólares.
- Tá.
- Seu pedido será entregue em no máximo trinta minutos, obrigada pela preferência.
- De nada.- desliga.
Vou até Royal que está conversando com Devlin e arranco a folha do bloco e entrego a ela.
- Acabaram de pedir tem que agilizar.
- Tá. - disse.
Sinto que se eu fechar os olhos com muita força, consigo me imaginar beijando fervorosamente o Vinícius R.
Pensar esse tipo de coisa só me tortura, mas quando eu tenho uma paranóia na cabeça só Deus. Me lembrar que ele tem namorada faz eu voltar a vida real.
Essa minha paixonite pelo VR ( vou abreviar até não existir mais nada) vai acabar comigo chorando e com o coração partido. Até parece que ele vai gostar de alguém como eu, namorando uma menina tão bonita e influente como a Larissa.
É deprimente pensar que eu tenho pensamentos quentes com ele quando ele não me vê nem como uma colega. Claro que ele está certo né, quem iria namorar com um cara que olha com malícia pra outras mulheres?
Será que ela vai aparecer por aqui também ? Espero que não, ninguém merece aquelas amigas dela. Muito menos ela!
Andrew passa por mim com pacotes.
Algumas pessoas com camisetas com logo do time da escola começam a aparecer , confiro as horas. 16:00. Tá tão cedo.
- Quero uma porção de batata completa e dois refris de laranja. - diz um garoto gordo com uma menina loira mais alta que ele.
Anotei no bloco e disse:
- Está um pouco cedo, achei que o jogo ia acabar lá pelas sete.
- Vai sim. É que só assisti um jogo, deu fome aí decidi vir pra cá.
- Imagino.
Eles se sentaram e eu fui pra cozinha.
Devlin levou os pedidos. Aproveitei para passar um gloss e um pouco de gel no cabelo.
Wyn me pediu para arrumar o estoque, então a Devlin vai atender até eu terminar, espero que não demore.
Depois do que parece uma eternidade eu termino de limpar e organizar a última prateleira de sacos de pão para hambúrguer Devlin aparece na porta e faz uma cara de maliciosa.
- Quê? - digo.
- Seu gatinho tá te procurando, ele não para de olhar pra porta que dá pra cozinha esperando você aparecer .
- Que gatinho ? Não tenho namorado. - sei quem é.
- Para de ser besta Brih e vai logo lá pra fora. Ele tá tão gostoso com aquele uniforme de futebol. Miauu - ela arranha o ar e pisca pra mim.
- Credo, Devlin, deixa seu pai saber que você fica secando os clientes . - brinco.
- Pelo menos eu não tenho sonho erótico com nenhum deles.
Meu rosto esquenta e eu bufo.
- Como se eu tivesse né. Sai daqui, já estou indo pra lá.
Empurro ela pra fora e respiro fundo antes de sair pela cozinha.
O olhar do Vinícius encontra com o meu e ele fica tenso.
Tô suja ?
Vou até a mesa em que ele está sentado com os amigos e antes que eu esteja lá ele já está em pé vindo de encontro a mim.
- Você tá... Caramba... Nunca te vi de saia... - parece que ele viu um fantasma.
- É o uniforme novo.
Se ficar assim toda vez que eu vestir saia, vou usar saia para o resto da vida.
- Tô vendo. Ele te deixa... - me encara.
- Esquisita ?
- Diferente. - engole seco. - Você se bronzeia? Tem um tom de pele bonita.
- Obrigada.
Nunca sei como agir quando recebo elogios, na maioria das vezes eu fico sem graça e minha cara quer entrar pra dentro que nem bebês quando provam suco de limão.
Alguns longos segundos se passam enquanto ficamos olhando um para o outro e um cliente me chama.
Droga.
Atendo, e vou para o caixa organizar as notas pra facilitar o troco. Vinícius senta na banqueta de frente para o caixa.
- Quer alguma coisa. - pergunto.
- Uma coca de latinha por favor.
Se ele tivesse falado que era eu teria sido mais interessante.
Enquanto ele brinca com o canudo eu fico reparando nas feições dele e meu rosto esquenta na hora quando eu me lembro do sonho que tive com ele noite passada, ele me beijava com vontade e eu me derretia toda.
Abaixo meu olhar na velocidade da luz quando ele me olha.
- Daria tudo pra saber o que você tá pensando, tão corada como tá. - dá um meio sorriso brincalhão.
- Com certeza não é tão interessante quanto os seus. - levanto a sobrancelha, provocando.
- Quer saber o que eu tô pensando ? - se inclina pra chegar mais perto.
- Não sei se deveria!
Carambolas vou criar foguete nos pés e voar pra lua.
- Tô pensando como você tá interessante nesse uniforme de líder de torcida, vai animar todos os caras do time.
Piadas de duplo sentido, garotos amam isso.
-  Ata. - digo sem saber mais o que falar. Essa conversa está me deixando desconfortável.
Ele começa a ver que está sendo inadequado para um homem com compromisso, e então muda totalmente sua postura.
- Então... Você acha que vai demorar muito pra terminar o desenho.- ele sorri sem graça.
Coloco o dedo no lábio e respondo:
- Desde que você fique bem parado, eu posso terminar em uns 30 minutos .
- Entendi.
- Não se preocupe vou desenhar o mais rápido que eu puder, nem vai dar tempo de você sentir dor no pescoço por ficar parado.
Sorrimos e eu volto pra ajudar a Devlin atender os clientes. Tem garotos vestido de jogador pra todo lado, e as líderes de torcida da escola também, que parecem que beberam um barril de café , por que não param de pular e gritar frases feitas. Bem típico mesmo.
Devlin me entrega uma bandeja com dois milk shakes e pega no meu braço antes de virar para voltar ao caixa:
- Seu gatinho não para de te olhar, ele tá tão na sua ! - diz e solta uma risada - Chatini que se cuide em ahahahaha.
- Aí Dev você é uma doida, até parece que ele largaria aquela princesinha falsificada pra ficar com uma garota como eu. - olho pra trás e Vinícius tá em uma conversa animada.
- Aí amiga, que auto estima baixa, você é linda e gostosa e muito inteligente, coisa que aquela lá não é. E se ele não tivesse interessado não ficaria olhando pra sua bunda cada vez que você passa por lá pra atender alguém, ele tá caidinho.
Aí meu coração, não posso nem pensar em ficar com um garoto comprometido!
- De qualquer forma ele namora. Não vou ficar com um garoto que tem outra. E também não quero ser pivô de separação.77
Um dia eu ainda vou queimar minha língua por isso, aguardem!
- Deixa de ser besta. Agora vai logo antes que isso aí vire leite com achocolatado.
- Chata. - digo.
Ela mostra a língua e eu mostro pra ela também.
Olho o número da mesa de quem pediu e um dos garotos me olha de cima a baixo.
- Olha Henrique, temos líderes de torcida como garçonetes. - sorri como o gato de Alice e pisca pro amigo.
- Com certeza vou vir aqui mais vezes.
Eles conversam como se eu não estivesse lá, e estivessem apenas admirando algo.
- Querem mais alguma coisa.- Falo impaciente.
- Seu número passa aí gatinha.
Lembro do Vinícius no mesmo instante. Até que esse Henrique é uma gracinha. Acho que não tem problema.
Tiro uma folha do bloco que estava na bandeja e anoto meu número. Se o Vinícius tem namorada eu não vou ficar esperando ele terminar com ela, vou sair com alguém pra esquecer ele.
- Aqui.
- Te mando uma mensagem mais tarde. - ele diz.
Só aceno com a cabeça e saio, quando estou a uns cinco passos dele, o amigo diz:
- Carai mano, não acredito que você conseguiu o número de um piteo daqueles, sortudo demais.
Sorrio com o comentário e vou atender outras pessoas.

Me Apaixonei Pelo ErradoOnde histórias criam vida. Descubra agora