Capítulo 5

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Continuo a contemplar o teto do meu quarto enquanto os minutos passam.
Minha mãe foi um pouco sacana com toda essa história e tudo aconteceu na velocidade da luz e eu não pude nem me preparar.
Será que ele conseguiu dormir? Ou é apenas eu que estou viajando na maionese?! Aaah que se dane isso tudo, não tenho outra escolha. Não quero ter que me mudar agora . Meus planos era me casar primeiro. Mas como vou encontrar o amor da minha e me casar, se o cara que eu quero está morando na mesma casa que eu e ainda por cima é comprometido?! Nunca pensei que fosse ser tão ruim me apaixonar depois da adolescência. Pensei que as coisas se tornariam menos complicadas.
  A minha história é típica de se escrever em um livro, que eu poria um título como "meu meio irmão" ou " o garoto do quarto quase em frente" .
Dou uma risada sem humor pensando que no final das contas a diferença entre o livro e minha vida é que quando acaba a história eu não fico com o garoto que eu gosto e ele não vai subitamente se apaixonar loucamente por mim e largar a perua com quem ele supostamente está.
Que grande merda!
Levanto e me sento na beirada da cama. Estou com sede e decido ir a cozinha. Agora seria a hora para ele aparecer também e me prensar contra o balcão dizendo que não aguenta ficar sem mim.
Sorrio outra vez com meus pensamentos idiotas. E como toda vida real ele não aparece. Subo para o meu quarto de volta e ao olhar no meu celular vejo que já são quase cinco da manhã e eu ainda estou acordada. Ir assistir TV é algo que ronda minha cabeça, então vou. Dou um pulo quando a TV liga e o volume está lá nas alturas, quase deixo o controle cair, mas abaixo rapidamente. Sorrio de nervoso.
Como sou desajeitada hahahaha
Esperando que ninguém tenha acordado vou para debaixo dos lençóis e coloco em um desenho animado. Assistir filme a essa hora me daria um sono doido e eu agora não estou a fim de dormir.
Assisto vários episódios de hora de aventura. Vasculho minha gaveta do criado mudo e acho uma barrinha de chocolate. Vou comendo devagar para demorar acabar e depois sou obrigada a pausar o desenho e ir escovar os dentes, já que eu não escovei quando acordei.
Escovo os dentes e volto para o quarto. Olho no celular novamente já são quase sete horas agora. Vou tomar meu café da manhã.
    Assim que saio do meu quarto para o corredor lembro que deixei algumas coisas minha no banheiro mas ele está fechado. Enquanto estou encarando a porta fechada feito uma idiota um Vinícius sonolento e sem camisa sai do banheiro flexionando os braços se espreguiçando. Quase babo olhando aqueles músculos sendo flexionados. Na minha cabeça aquilo é muito sensual mas para ele com certeza é muito comum.
   Quando vê que estou observando, Vinicius me lança um olhar confuso e eu me viro para o chão com vergonha de estar secando ele logo tão cedo.
  – Bom dia gatinha ! - ele diz e sorri meio sem graça.  Retribuo da mesma forma.( sem chamá-lo de gatinho é claro hehehehehe)
Ele voltou a te chamar de gatinha isso quer dizer que ele não está com raiva!
– Dormiu bem ? - pergunto.
– Na verdade não. E quando eu estava quase levei um susto com um barulho de tv. - faz uma careta.
Você foi pega Briana !
– Me desculpe eu estava sem sono e queria assistir televisão. - escondo meu rosto com as duas mãos como se fosse uma criança com medo da bronca do pai.
Ele da uma gargalhada e eu fico derretida com aquele som masculino e gutural.
Queeee delícia!
– Vamos tomar café ? - digo tentando esquecer o episódio da tv.
– Claro, só vou vestir uma camiseta por que agora temos mulheres à mesa. - sorri de canto e entra em seu quarto.
Desço as escadas correndo como se a cada passo eu fosse esquecer o sentimento que sinto por ele. O estranho é que lá no fundo eu não quero esquecer. Eu quero sentir.
Masoquista!
Mamãe já está na cozinha e o senhor Marcos está tomando café em uma caneca grande no balcão. Dou bom dia a todos e abro a geladeira procurando por pães para fazer torrada e iogurte.
Enquanto os pães estão na torradeira, coloco geléia de frutas vermelhas e manteiga em cima da mesa. Organizo tudo bem bonitinho para ficar apresentável. A torradeira apita.
Quando tudo já está na mesa Vinícius desce as escadas ( que demora para vestir roupa) e eu fico encarando ele até que seu olhar encontra o meu e eu desvio logo em seguida. Ele da um sorrisinho.
Isso vai acabar se tornando um hábito!
Enquanto comemos minha mãe pergunta como dormimos e eu minto dizendo que muito bem, VR só da de ombros.
– Vinícius agora que está aqui em casa pode levar a Brih pro trabalho. Eles dividem a gasolina. - diz minha mãe.
Ela com certeza quer que nós tenhamos uma boa convivência. Mas isso está fazendo com que ela pareça folgada.
– Claro que não mãe. Ele deve ter mais o que fazer. E também eu posso ir a pé não há problema algum com isso. - me apresso respondendo.
– Eu posso te levar Briana. O Wyn é no caminho para o campo e eu como vou treinar quase todos os dias, não vai ser contramão para mim. Posso te buscar assim que voltar dos treinos. Beleza ?
Minha mãe e o pai dele olham para mim e eu aceno afirmativa.
– Ok. Mas dividimos a gasolina tá ?
– Tá. - dá de ombros.
Minha mãe sorri satisfeita. Talvez ela pense que está juntando dois possíveis irmãos mas na verdade ela está contribuindo para o meu masoquismo.
– Você trabalha hoje Briana ? - senhor Marcos pergunta.
– Sim. Apenas entro um pouco mais tarde que no meio da semana.- falo tomando um pouco do meu iogurte.
– O milkshake ainda continua o melhor da região ? - ele pergunta sorrindo.
– Sim. As pessoas na verdade preferem o combo com batata frita e calda extra no milkshake. Esta noite vai estar bem cheio por causa dos jogos.
O pai do Vinícius é uma pessoa muito boa, da para se notar. Animamos a conversa falando sobre os jogos e logo aquela tensão de ontem foi esquecida e todos estão se dando melhor.
– Hoje talvez depois do cinema podemos passar lá né amor ? - Senhor Marcos pergunta à minha mãe.
– Claro que sim. Eu gostaria mesmo de provar essas famosas batatas. - minha mãe sorri.
É ali que eu noto que as coisas realmente mudaram. Desde o tom corado em suas bochechas até o jeito como ela sorri descontraída.
Ela está feliz!
– Agora você pode trazer sua namorada para conhecer sua casa filho. Acho que agora não tem nenhum problema né ?! - Senhor Marcos diz com uma expressão de expectativa.
Vinícius olha para mim e depois para o pai.
Não entendi .
– Acho que não há problema também pai. Desde que a Valéria permita. - diz se referindo à minha mãe.
Minha mãe sorri como se quisesse dizer " eii eu deixo tudo que você quiser, quero te agradar"
– Por mim tudo bem. Acho que vai ser bom ter mais movimento nessa casa. - minha mãe toma o café e sorri.
Quando terminamos de comer levo tudo para a cozinha e lavo a louça. O senhor Marcos está vendo o noticiário e mamãe foi tomar banho. Parece que eles vão sair mais tarde. Como vou trabalhar no Wynn á noite não me importo. Não é de todo ruim trabalhar nos finais de semana. É uma forma de eu ver as meninas da lanchonete e também me interagir com outras pessoas e não ficar louca em casa sem fazer nada.
E agora com VR morando aqui, quanto mais tempo eu passar longe dessa casa melhor.
Mesmo meu quarto estando limpo parece que ainda vejo pó em cima dos móveis. Estou muito estressada. Parece que tive uma semana tão difícil quanto um CEO que precisa assinar um contrato importante.
Ouço batidas na porta. É mamãe.
– Estou saindo pra comprar algumas coisas no walmart. Você precisa de algo? - mamãe diz.
Penso por um instante mas nada me vem à mente.
– Acho que não.
Mas então uma luzinha se acende na minha cabeça. Não acredito que ia me esquecer disso.
– Espera. Preciso de absorventes. - sussurro a última palavra para mais ninguém escutar.
Minha mãe sorri balançando a cabeça. Ela está debochando por que eu já tenho dezenove anos e ainda tenho vergonha de falar a palavra absorventes em voz alta. Não sei por que mas tenho. Não me julguem.
– Tudo bem Brih. Tchau. - fecha a minha porta e ouço seus passos pelo corredor.
Pelo silêncio só posso dizer que não tem ninguém em casa. Todos saíram.
Que alívio!
Nunca me senti tão aprisionada na minha própria casa. Sou uma pessoa compreensiva e todos sabem disso até o porteiro da escola.
Mas essa situação está um tanto difícil de engolir. Um padrasto que logo de imediato veio morar na minha casa (não tive nem a chance de conhecer direito) junto com seu filho que por um acaso é o garoto por quem estou caidinha e tem uma namorada cujo status é de muita popularidade e minha menstruação que está para descer. Como eu fui ser tão azarada ?
Só Deus sabe!
Minha mãe parece gostar mesmo do senhor Marcos ( não sei quando esta formalidade irá ter fim) mas mesmo assim ainda foi uma decisão prematura da parte dela trazê-lo para morar aqui. Talvez ela pensaria um pouco se eu dissesse que também quero formar um par com o filho do namorado dela.
Sinto que minha cabeça vai explodir a qualquer momento. ( como sou boa com dramaturgia)
Já são quase meio dia e as coisas estão calmas demais. Sei que sempre foi minha mãe e eu depois que papai foi embora. Mas agora com mais duas pessoas em casa ainda parece um tanto quieto.
Uma mensagem chega no meu celular. Mamãe.
~ Mamãe~
Faz o almoço. Demoramos mais que o normal para comprar tudo. Tem bife temperado no congelador.
Mando um ok e vou para a cozinha. A falta de coragem está me consumindo um pouco, mas eu amo cozinhar e depois que eu puser música no iPod com certeza vou me animar mais.
Sia está cantando chandelier enquanto estou grelhando bifes e cebola. Alguns legumes acompanham a carne. Minha mãe me ensinou a colorir o prato desde pequena e eu nunca mais parei. Gosto de me sentir saudável, e com o tempero certo tudo fica muito gostoso.
Canto o refrão como se estivesse com uma plateia enorme em um estádio.
Sia que se cuide hahahaha!
Paro com minha cantoria assim que ouço um barulho de porta sendo aberta. É a da frente.
VR entra tranca a porta de novo e vem a cozinha.
Sia já acabou. Agora quem canta é Sam Smith.
Meu iPod está tão apaixonado quanto eu.
Vinícius franze o cenho para a música que está tocando. " Bom em dizer adeus" Sam canta como se estivesse lamentando um fim.
– Você precisa escutar umas musicas mais animadas sabia. Isso é meio depressivo.
Coloco o dedo no queixo pensativa.
– Eu gosto do jeito como ele canta.- digo apenas.
– Hum ok. Posso escolher uma música?
– Claro. - olho a panela de arroz enquanto ele fuça meu iPod. George erza começa as primeiras frases de Budapest.
Boa escolha. A comida aos poucos fica pronta e mamãe chega com seu namorado e uma pilha de sacolas do Walmart. Vejo que os dois colocam no balcão e voltam para pegar mais logo em seguida.
– Acho que eles trouxeram o supermercado todo pra casa - VR cochicha sorrindo e eu sorrio também.
– Com certeza isso é para durar pelo menos uns dois meses. - digo.
Agora com dois homens em casa precisamos ter um estoque maior de comida. E como minha mãe gosta de agradar, com certeza deve ter feito uma lista das coisas que o senhor Marcos e o VR estão acostumados a consumir, desde produtos de higiene até as comidas.
Eu poderia dizer que minha mãe é a louca das listas. Ela tem uma para tudo (risos).
Falando em listas, faz um bom tempo que eu não escrevo no meu diário. Os dias parecem estar passando rápido demais e eu esqueci completamente do meu amigo de capa dura.
Acho que faz um bom tempo que não faço amizades no meio escolar. Desde que saí do ensino médio eu não quis mais fazer nenhuma amizade e somente focar nos meus estudos.
Minhas amigas fora de lá são as da lanchonete e já está de bom tamanho. Afinal meu maior amigo de todos é Deus, que me escuta pacientemente e entende as coisas sem eu ter que explicar. Humanos são muito difíceis.
Mamãe guarda todas as compras e começa a arrumar a mesa do almoço com a ajuda de seu namorado. Será que ele era tão prestativo assim na antiga casa dele ou ele está tentando impressionar ?! Só com o tempo saberemos.
  Mamãe faz um sinal para mim com o dedo e eu vou em sua direção sem saber ainda o que ela quer.
  Ela tira uma sacola da bolsa e me entrega.
  Absorventes.
  Vinícius está encarando a sacola. Depois olha para mim, de um jeito estranho. Eu fico corada.
   Corro para o meu quarto, guardo os absorventes dentro do armário do banheiro e volto pra cozinha.
Legal, agora ele deve estar pensando que eu estou naqueles dias. Ae eu estou.
   Na cozinha eu pego um pano de prato para pegar nas alças da panela.
   Vinícius vem para o meu lado. Posso sentir seu cheiro.
  Huuum!
– Quer que eu ajude a levar as panelas para a mesa? - VR pergunta.
– Sim. Obrigada. - digo saindo do transe e passando um pano de prato para ele.
Mamãe trouxe suco, então não preciso fazer. Todos devidamente sentados começamos a comer. O almoço ocorre num clima leve e eu agradeço mentalmente.
*** Vestida de uniforme e com o cabelo devidamente preso, estou quase pronta para o expediente no Wyn. Devlin me mandou uma mensagem com uma ideia de a gente usar patins para atender os clientes. Apesar de parecer divertido eu fiz uma lista dos prós e contras e sobraram contras. Como por exemplo o espaço que não é tão grande e o fato de que até eu aprender a me equilibrar em um squad já vou ter derrubado muitos lanches e quebrado alguns ossos.
Mas se bem que a ideia de ter um patins pode ser interessante!
O som de batidas na porta ecoam pelo meu quarto e eu saio do banheiro depois de ficar me encarando um pouco pelo espelho.
Abro a porta e é mamãe outra vez.
– Já vou sair agora. Se precisar de alguma coisa me liga ok?! - ela me da um beijo na testa e em seguida sai.
– Ok.
Deito na minha cama e abro o WhatsApp para passar o tempo antes de ir para o trabalho.

~ mamãe ~
Vinícius vai levar você para o trabalho. Sem objeções.

Mamãe me conhece muito bem, ela sabe que sem ela por perto eu com certeza iria recusar a carona do meu meio irmão.
Meio irmão ? Ata!

Ok mamãe sem objeções. Mas só por que estou tentando ser legal. ;)

Me Apaixonei Pelo ErradoOnde histórias criam vida. Descubra agora