Me Apaixonei Pelo Errado

Capítulo 4

Como expliquei, na sexta foi um dia meio esquisito. Depois que o Vinicius foi embora eu percebi que não dava para a gente ser amigos. Eu estava me apaixonando cada vez mais, e a menos que eu tivesse alguma esperança de que fôssemos ficar juntos, eu preferia me afastar.
Não quero a minha consciência gritando de novo dizendo que é errado eu ficar cobiçando o que é dos outros.
Voltando do Wynn eu encontrei a Larissa, foi péssimo ter que conversar fingindo que eu era amiga dela. Eu disse a ela que o Vinicius tinha me chamado para conversar e que o pai dele conseguiu se separar da mãe e ele está um pouco abalado. Não prolonguei mais a conversa, estava me sentindo desconfortável.
Cheguei em casa tirei o uniforme do Wynn e coloquei para lavar. Mamãe estava em casa e pelo cheiro de cebola e outras hortaliças ela só podia ter passado no supermercado.
Escutei uma música animada e fui para a cozinha. Minha mãe cantava e cortava legumes.
– Oi . - ela falou sorrindo e me dando um beijo na bochecha.
– Oi. - arqueei uma sobrancelha – Tá bem animadinho em. - sorri.
– Espero que você goste dele. Ele é uma pessoa muito boa. Nunca pensei que fosse gostar tanto de alguém depois do seu pai.
Fiquei surpresa com o que ela disse.
– Que bom. Espero que te faça muito feliz.
– Já está fazendo. - ela suspirou, como se estivesse pensando em algo.
– Uhum.- brinquei. - Você quer que eu te ajude em alguma coisa?
– Primeiro coloca um avental Brih. Faz o seu bolo que eu vou terminar de cortar os tomates pra salada.
Confirmei e fui procurar o avental na gaveta do armário. Coloquei os ingredientes sob a mesa e fui organizando tudo pra ver se eu tinha esquecido alguma coisa. Faltava mais um ovo.
   Peguei tudo que precisava e enquanto estava medindo o leite meu telefone vibrou dentro do short.
  ~Vinicius~
  Sumiu. Fui no Wynn mas não te vi.
É claro que eu passei o dia todo evitando mandar alguma mensagem ou ver ele. Eu sei que ele apareceu na lanchonete a Devlin me disse e eu continuei escondida dentro da cozinha até ele ir embora.
Não quero ficar nutrindo mais sentimentos por ele.
Eu não respondo a mensagem.
~Vinicius~
Você tá bem ?
Por que ele tem que ser tão legal. Caramba.
Eu estou tentando não morrer de amores por você idiota!
Resolvo responder por que ele pode desconfiar e eu não estou com paciência.
~ eu ~
Estou em casa e estou bem. To fazendo um bolo pro namorado da minha mãe.

~ Vinicius ~
Ouvi dizer que eles são ótimos em ... kkk
Se sobrar você leva um pedaço pra mim na escola ? (Implorando)
Sorrio com a última frase e minha mãe acaba me pegando.
– E essa carinha aí em filha, tá apaixonada ? - brinca.
Coro. Não quero ter que falar dele pra ela. Mas uma hora ou outra ela vai descobrir.
– É um amigo, querendo um pedaço de bolo.
– Sei . - ela sorri e volta a cozinhar o macarrão da lasanha.
~ eu ~
Talvez. Quem sabe. Kkk. Agora preciso terminar de misturar os ingredientes. Tchau.

~ Vinicius ~
Hum... Eu QUERO. (Isso está virando uma ameaça. Tchau.

Ele às vezes me faz rir por tão pouco.
Te aquieta coração, não sofra mais do que pode.
Quando a massa está pronta para o forno eu decido deixar minha mãe com a lasanha dela e ir tomar um banho. Afinal eu tenho que estar apresentável.
Opto por um vestido florido ombro a ombro que vai até os joelhos e um chinelo de dedo com pedrarias. Por que não vou calçar tênis e nem sapatilha dentro de casa. Quero ficar bonita mas também quero estar simples.
   Lá pelas sete e quarenta quando eu desço para cozinha, fico vigiando a lasanha no forno enquanto minha mãe vai se arrumar.
   Descendo já pronta eu fico boquiaberta com a forma em que ela está e ela cora.
   – Você está... Realmente... Mãe do céu, muito linda.
   Ela estava como um pimentão. Aí você se pergunta aonde eu herdei essa vergonha de elogios.
  – Obrigada Brih. Você também está linda.
  Giro era na ponta do dedo e solto um assobio baixo fazendo ela sorrir.
   Ela vai para desligar o forno e eu fico na sala um pouco ansiosa de ter pessoas estranhas em casa.
   Minha mãe está tensa. Tem medo de eu não gostar do namorado dela. Mas parece ser algo mais importante que isso, por que ela está tentando achar um jeito de roer as unhas sem estragar o esmalte, o que é impossível e a cada minuto ela fica mais inquieta.
   – Tem algum problema mãe ? - digo preocupada.
  – Não, está tudo bem. Só estou ansiosa mesmo.
  – Ok.
  Estou constantemente olhando para o relógio na parede. Já são 20:02.
    Minha mãe e eu estamos tão nervosas que quando a campainha toca damos um pulo e ela vai atender. Fico apreensiva. Minha mãe lança um olhar nervoso para mim. Agora eu sei que tem algo errado. Mas só se confirma quando eu vejo quem está na porta e o misto de confusão e nervosismo me deixa estática.
   Lá estão os olhos negros cheios de confusão assim como os meus, me encarando sem saber o que dizer ou como agir, e ao seu lado orbes tão negras quanto as suas, mas encarando minha mãe com um sorriso sem graça.
   – Entrem. - minha mãe diz abrindo espaço com um sorriso sem graça.
  Eu ainda estou parada ao lado do sofá sem saber como agir.
  – Brih.  Venha conhecer o Marcos .
   Me obrigo a sair do lugar e caminho em direção ao cara que faz meu pensamentos tomarem rumos difíceis.
  – Oi Vinicius. - digo apertando em sua mão depois virando para o seu pai. - Oi senhor Marcos, prazer em conhecê-lo... De novo.
Minha mãe ruboriza e eu viro para ela olhando com expressão de aquisição.
   – Oi Brianna. - O pai do VR diz suspirando. Devia estar aliviado por eu não armar um barraco.
    – Vamos todos sentar para que possamos conversar. Sei que vocês dois devem estar confusos com tudo isso.
Então é por isso que a senhora ficou olhando esquisito pro Vinicius outro dia né ?!
  Vamos todos nós sentar. E o Vinicius não para de me encarar. Começo até a ficar sem jeito.
Minha mãe despeja um pouco de vinho nas taças e fico esperando suas explicações.
  – Como você sabe Brih eu e o Marcos estamos namorando a um tempo e eu queria muito ter marcado o encontro antes, mas em respeito da ex mulher do Marcos que ainda estava na casa dele resolvemos que seria depois que ela assinasse o divórcio. - suspira.- Esperamos para contar que vocês se conhecem no jantar para não causar desentendimentos na escola.
  Fico estupefata.
– Eu pensei que o filho dele era uma criança mamãe. - sussurro, mesmo sabendo que todos na mesa vão ouvir.
– Eu também filha, mas depois que eu vi o Vinicius aqui em casa e o Marcos me explicou que ele já era maior de idade eu não tive coragem de te dizer a verdade.
  Tudo bem eu podia aguentar tudo isso.
  – Agora que estão todos apresentados acho que podemos comer né ?! - diz minha mãe sem jeito. - Você pode me ajudar meu bem? - minha mãe se vira para Marcos e ele compreende algo.
  Enquanto os dois vão para a cozinha o Vinicius está observando cada canto da minha casa, fugindo do meu olhar.
– Vai continuar assim até quando? - pergunto tentando quebrar o gelo.
  Ele se vira para mim e da um sorrisinho que eu traduzo como debochado.
  – Parece que somos irmãozinhos agora Brih. - fala num tom amargo.
  – Isso é ruim ou bom ? - pergunto.
  – Estou com raiva por que ele podia ter me dito que te conhecia e que era sua mãe a mulher com quem ele estava saindo. Acho que não custava muito né.
  Compreendi seu lado. Mas não gostei do tom de voz.
  – Se acalma. Imagina como seria estranho se a gente soubesse antes.
  Ele pensa por um instante e assente.
  – Você está linda com esse vestido.- me encara.
  Ele sabe que como eu fico quando recebo elogios, ainda mais vindos dele. Acho que ele gosta de provocar a reação em mim.
  – Obrigada. - olho para meus chinelos.
  Minha mãe volta com a travessa de lasanha na mão enquanto o senhor Marcos está com um balde de gelo com um vinho. Parece que vamos beber até as coisas se tornarem confortáveis.
  Durante o jantar minha mãe conversa animadamente sobre as coisas da semana no trabalho. Admiro a forma como o pai do Vinicius escuta tudo que minha mãe está falando e comenta hora ou outra demonstrando interesse.
   VR ainda está me encarando. De repente ele solta um sorrisinho e olha para seu colo na mesa. E meu celular vibra em cima da mesa.
  Pego rapidamente para que minha mãe não possa me repreender, ela não nota por que está distraída conversando e bebendo vinho.
~ Vinicius ~
Nós fizemos as malas antes de sair de casa. Ele disse que depois do jantar tudo estaria definido. O que será que ele quis dizer com isso? (Confuso) ((gostei mesmo do seu vestido, poderia me emprestar amiga :D ))
 
Quase explodo de tanto rir e minha mãe e o senhor Marcos não entendem nada. Eu digo que lembrei de uma piada. Péssima desculpa.
  Comecei a ligar os pontos de tudo e minha preocupação cresceu. VR notou minha expressão.
~ Vinicius ~
  Algo errado?

Não respondi. Apenas olhei para minha mãe e o pai dele e fiquei mais preocupada ainda. O vinho exagerado, as malas, a omissão de fatos importantes.
  Pigarreei olhando para aqueles dois que estavam nos deixando ficar bêbados para conversar de verdade.
  – A senhora tem mais alguma coisa para dizer mamãe? - digo firme.
  – Na verdade sim Brih. - ela olha para o seu namorado pedindo confirmação e ele assente.– O Marcos e o filho dele vão se mudar para cá. Afinal a casa é bem grande e já que nossa intenção é nos casarmos, não tem por que ele comprar ou alugar outra casa.
  Meu queixo foi para o núcleo da terra.
Isso sim que é uma bomba em !!!
Eu ? Morando com o cara que eu tenho sonhos inapropriados ? Como vai ser isso? Que calooooor!
A expressão no rosto do Vinicius é um poema. Eu quase sorrio. Mas não posso ser tão insensível. E eu também estou ferrada com isso.
– Sério isso pai ? – VR pergunta.
– Sim. Se acostume.
Uiii.
Eu estou rindo mas é de nervosa !
O jantar termina. Mas minha mãe e o senhor Marcos continuam tomando vinho. Creio eu que para aguentar eu e o Vinicius em estado de fúria.
  Minha mãe retira a mesa com ajuda de seu namorado e eu fico parada esperando a próxima reação do meu meio irmão querido.
Meio irmão gostoso.
– Brih, ajuda o Vinicius a guardar as malas dele onde era meu quarto por favor. - grita da cozinha.
Ele pega a chave do carro do pai dele de cima da mesa e eu abro a porta. Ele retira uma mala grande do porta malas e depois aperta o alarme novamente.
Pelo jeito que nós dois estávamos agindo qualquer pessoa diria que estávamos conformados com toda aquela situação. Mas a verdade era que nenhum de nós queria falar sobre isso por que a ficha ainda não tinha caído. Se não falássemos talvez ainda pudesse ser mentira. Eu mesma não queria acreditar, uma hora somos amigos depois eu tento me afastar por problemas com a namorada dele, agora ele vai morar na mesma casa que eu. Vou perder toda minha privacidade e vou ter que sumir com todos os meus sentimentos para que ele não perceba.
– O que você está pensando? - Vinicius diz me assustando.
O que eu poderia dizer ?
– Em como tudo isso é muito esquisito. Você acha que vai dar certo isso? De a gente morar na mesma casa ? Por que você e não vamos ter mais a mesma privacidade de antes.
Ele me olha e olha e enfim responde :
– Calma. A gente se dá bem. E podemos fazer isso pelos nossos pais. Nunca tinha visto meu pai tão feliz. Ele e a minha mãe não tinham toda essa química. Fico feliz por ele.- diz com um sorriso tristonho.
Você é tão lindo, meu senhor, eu estou ficando cada vez mais apaixonada. Me ferrei.
– Ok ! - digo por fim.
No corredor eu aponto aonde vai ser seu quarto.
Quando meus avós compraram a casa eles pensaram que papai e mamãe teriam mais de um filho. Então a casa tem três quatros. Como minha avó pensa em tudo o maior quarto fica no andar de baixo, para que os adultos pudessem ficar em paz enquanto seus filhos escutam música alta e jogam vídeo game. Mas acabou que mamãe só teve eu e quando se separou do meu pai mudou para o andar de cima para ficar mais perto de mim.
Agora ela vai voltar para o antigo quarto e o filho que ela não obteve vai ficar no quarto perto do banheiro. Para a minha sorte o meu quarto tem um banheiro. Me da calor pensar no VR de toalha na cintura com água escorrendo no seu abdômen.
– Você está corada. O que está pensando? - sorri em desafio.
Nem queira saber!
– Nada. - sussurro.
– Uhum tá.
Ele sorri e eu fico ainda mais sem jeito. A convivência com esse menino vai ser difícil.
Abro a porta do quarto e vejo que está bem arrumado e cheiroso.
Minha mãe não perde tempo!
Sento na cama e observo ele abrir a mala.
– Posso ficar aqui enquanto você arruma suas coisas ? Por que tenho quase certeza que nossos pais estão se pegando muito lá embaixo e eu ainda não estou com sono. - digo.
– Pode. - responde.
Quando ele está guardando as últimas coisas meu celular vibra e ele me olha de soslaio.
~ mamãe ~
Chama o filho do Marcos para ver um filme no seu quarto, por que o nosso jantar aqui ainda não acabou. Vamos comer um pouco do seu bolo. Rsrsrs.
Respondo com um ok e fico com vergonha pensando na festinha que eles vão fazer lá embaixo. Minha nossa isso é tão estranho, tenho muita vontade de rir mas fico quieta.
– Depois de terminar você quer assistir um filme ? Pode escolher se quiser.- digo apreensiva.
– Não sei. Estou cansado. - responde tenso.
– É que nossos pais querem que a gente não escute o que supostamente eles estão fazendo lá embaixo. - coro .
– É engraçado como garotas virgens falam de sexo. - dá uma risada de deboche.
Idiota!
– É engraçado como garotos que se acham são idiotas!
To vendo que isso não vai dar certo.
– Calma Brih, estou brincando.
– Tá. - falo ríspida.
Uma luzinha se acendeu em cima da minha cabeça e eu lembrei de algo. Me deu vontade de roer as unhas por isso.
– Você vai contar para a Larissa que agora nossos pais estão juntos e você vai morar aqui ?- falo rapidamente.
– Acho que ela merece saber né. - diz.
– É que você não contou a historia dos seus pais para ela. Então achei que fosse omitir isso também.
– Como você sabe que... - para com um semblante irritado . - Você contou pra ela ?
– Não. Claro que não. Só disse que você estava com um problema pessoal e não queria que ela ficasse preocupada.- digo tentando não me irritar também.
    Ele suspira e coloca a mala vazia em um canto do quarto.
   – Acho que eu quero ficar sozinho. Preciso pensar sobre tudo que está acontecendo com calma, antes que eu exploda. - diz.
   É como um banho de água fria em mim. Mas também o que eu podia esperar. Que ele fosse meu irmãozinho legal ou que me fizesse companhia sendo que nem temos essa intimidade ?!
   É pedir demais Brianna, abra seu olho.
– Ok. Se precisar de mim sabe aonde é o meu quarto. É só bater.
   Eu e minha forma de ser tão prestativa. Deve estar muito na cara que eu quero ficar perto dele.
– Beleza. Boa noite.
  Saio sem dizer mais nada e vou para o meu quarto caindo na cama de frustração. Essa noite foi péssima. Preciso tirar essa roupa e tomar mais um banho antes de dormir.
   Tiro meu vestido e me enrolo na toalha enquanto procuro uma roupa para dormir. Prendo meu cabelo e coloco o conjunto de roupas em cima da cama. Eu sempre gosto de organizar tudo antes de tomar banho.
   Ouço uma batida na porta. Deve ser minha mãe para me dar boa noite.
   Afinal o VR praticamente me expulsou do quarto dele !
  Quando abro a porta tomo um susto.
– Você pode me dar um pouco de... - ele para abruptamente notando que eu estou apenas de toalha. Engole seco e sacode a cabeça. - Shampoo.
     Eu ruborizo. Como sempre. Quando eu vou saber lidar com esses olhares ?
  Nunca, está aí a resposta!
  – Claro. Só um minuto que eu vou pegar.
Ando rápido até meu banheiro e só então percebo que estava segurando a respiração.
  Controlar meus sentimentos vai ser muito difícil com esses momentos acontecendo.
   – Aqui está ! - entrego o shampoo.
   Ele continua me encarando e eu fico sem entender.
  – Isso vai acontecer sempre né ?
   – Isso o que ? - falo.
  – Te ver assim.
  Se você quiser eu tiro a toalha não tem problema hahahahaha
   – Não se você não vier bater a minha porta sempre que eu for tomar banho. - digo simplesmente.
  Ele da um sorriso malicioso e depois se vira para ir pro seu quarto.
  – Obrigado. - diz entrando no banheiro de frente para o corredor.
  Meu sangue esquenta só de pensar nele se despindo. Eu estou virando uma garota esquisita e depravada. Meu senhor, as coisas com as quais eu ando pensando ultimamente são erradas em muitos níveis. Quando eu me tornei isso ?
    Sorrindo feito uma idiota ligo o registro e deixo a água que cai fria começar a esquentar sobre as minhas costas. Banho quente é tão relaxante.
Delicia!
  Só agora percebi que vou ter que ver o Vinicius trazer a Larissa para cá. Merda. Acabou minha privacidade com meus sentimentos idiotas.
   Deito para dormir mas a única coisa que consigo é ficar pensando no garoto que está do outro lado do corredor.
   Acordo assustada e olho no meu celular para verificar as horas são 4:06 da manhã de um domingo e eu estou acordada. Porcaria.