Só mais cinco minutos

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Ela apertava o cardigã sobre o corpo. Sentia o vento frio balançar o cabelo curto enquanto a água quente em seus pés amenizava a temperatura. Sentada à borda da piscina ela tentava encontrar uma lógica em meio ao caos que se encontrava.

Henrique no momento estava em uma despedida de solteiro, a animação dele chegava a ser quase contagiante, quase, porque ela não conseguia compartilhar do mesmo sentimento que ele, e parecia que seu noivo fechava os olhos quando se tratava dela. Margarida tentou arrastá-la para algum lugar naquela noite, mas a Montine bateu o pé e disse que não iria a lugar nenhum, por fim a organizadora acabou aceitando e foi terminar os detalhes para o casamento que estava muito próximo.

Talvez fosse o destino ou a força do pensamento, mas quando ela olhou para o lado e viu quem a observava, quis acreditar que era carma. Aquele definitivamente era um péssimo momento para ele aparecer. Quem em sã consciência estaria em uma piscina de um hotel às duas horas da madrugada? A resposta era óbvia, Lia Montine e Gabriel Almeida.

- Ora, ora. O que uma noiva perdida está fazendo sozinha em plena madrugada? - perguntou com um sorriso se aproximando dela que mantinha o olhar fixo em seu anel dourado.

- Vou começar a achar que você está me seguindo. - retrucou sentindo ele sentar ao seu lado.

A proximidade fazia seu coração acelerar, ela sentia vontade de sair correndo para o mais longe possível, mas ao mesmo tempo queria se afogar naquela sensação que ele lhe proporcionava.

- Eu estava trabalhando como ajudante de DJ da festa que estava acontecendo aqui. - explicou observando ela que tentava a todo custo não encara-lo. Era incrível como a garota que ele deixou para trás ainda se mantinha nos detalhes da mulher ao seu lado. Desde o nariz delicado ao sinal na ponta da orelha, tudo o lembrava daquele tempo. Um tempo menos complicado e cheio de possibilidades.

- Se você parar de me encarar eu vou agradecer muito. - pediu séria finalmente o olhando. E foi naquele olhar que ele percebeu a pontada de tristeza. O que não fazia sentido, ela iria se casar em poucas horas, mas não tinha o famoso brilho no olhar que ele tanto viu no decorrer dos anos.

- Por que você está fazendo isso?

- Fazendo o quê? - perguntou confusa.

- Se casando. - respondeu vendo ela abrir a boca para argumentar. - Eu sei que você nunca quis um casamento assim. - a interrompeu enquanto ela assumia uma expressão de indignação.

- Assim como?

- Um casamento em um hotel chique, com comidas, músicas, decoração que não refletem quem você é. Eu conversei com a Marga. - explicou antes que ela perguntasse.

- Margarida Fernandes. - resmungou baixinho sentindo a impaciência tomar conta de seu corpo. - E como você sabe que essa não sou eu? Você passou anos longe Gabriel, anos. Muita coisa mudou, inclusive eu. - disse se levantando para sair de perto dele, mas antes o Almeida se colocou à sua frente impedindo sua passagem.

- Muita coisa pode ter mudado, mas você ainda tem muito da antiga Lia. Eu sei pelo seu olhar, pelo seu sorriso, pelos seus pequenos gestos quando é contrariada. - citava se aproximando dela que estava paralisada pela sua ação. - Você não está feliz. - afirmou enquanto ela o empurrava se afastando abruptamente.

- Quem é você para dizer se eu sou feliz ou não?! Já estou farta de todos me dizendo o quê eu devo ou não fazer, como eu devo ou não falar ou o quê eu devo ou não sentir. Merda, eu não preciso que redijam a minha vida por mim, e você é a última pessoa que tem o direito de opinar na minha vida! - gritou, derramando algumas lágrimas e tentando voltar de novo para o hotel, mas foi impedida novamente por Gabriel que a puxou para um abraço apertado.

- Me desculpa. - pediu baixinho sentindo ela lhe apertar mais forte. Vê-la daquele jeito o desmontava inteiro. - Você tem toda a razão, eu não tenho o mínimo direito de opinar na sua vida. Eu só quero que você seja feliz, mesmo que não seja comigo. - confessou se afastando dela que cruzou os braços começando a andar nervosa à sua frente.

- Você não pode fazer isso. Não pode, não pode, não pode. - repetia sem olha-lo. - Você não tem o direito de aparecer depois de anos, horas antes do meu casamento e falar uma coisa dessa. - afirmou se aproximando vermelha sem conseguir controlar as lágrimas. - Você sabe quanto tempo eu te esperei? Tempo esse em vão. Você nunca me procurou, nunca deu o mínimo sinal de vida. Eu sofri Gabriel, principalmente para tentar te esquecer. - confessou vendo ele quase desabar à sua frente.

Os olhares trocados, o silêncio que era quebrado somente pelo som das folhas se movendo por conta do vento, o frio que já começava a se fazer presente em seus corpos os puxava para essa realidade. Ela tinha acabado de dizer com todas as letras que não o havia esquecido, e tinha a plena certeza de ter feito uma das maiores burradas da sua vida. Fechou os olhos se virando de costas para ele. Gabriel suspirou se aproximando dela que chorava baixinho.

- Eu tive que sumir, foi o melhor para você. - disse suspirando enquanto ela se virava com uma expressão confusa estampada em seu rosto. Ele a puxou pela mão seguindo em direção a uma pequena mesa perto da piscina, e ela não recusou seu toque. - Eu não quero que você fique magoada com ela, nem quero...

- Fala logo Gabriel. - mandou séria sentando na cadeira à sua frente.

Ele batia os dedos na mesa de madeira pensando se seria melhor revelar tudo ou manter aquela conversa em segredo, no fim decidiu contar toda a verdade.

- No dia da nossa formatura a sua mãe veio conversar comigo. Ela me explicou que a melhor coisa a se fazer era eu ficar longe do Luca, e principalmente de você. - revelou vendo ela cerrar o punho enquanto respirava fundo.

- Eu não acredito que ela fez isso.

- Ela fez pensando ser o melhor para você, e eu acho que ela estava certa. - falou triste.

- Nunca mais diga isso. Ter você fora da minha vida foi a pior coisa que me aconteceu. Ela não tinha o mínimo direito de decidir com quem eu podia ou não ficar. - afirmou irritada vendo ele abrir um pequeno sorriso.

- E você teria ficado comigo? - perguntou enquanto ela suspirava desviando o olhar para a piscina.

- Você sabe que sim. - respondeu voltando a encara-lo. Com aquela afirmação o coração dele se aqueceu, e se encheu de esperança. Ele sabia que era errado, toda aquela situação na verdade, mas ele não podia disfarçar aquele sentimento que o dominava desde os quinze anos de idade. O mesmo sentimento que aumentava a cada vez que a mulher à sua frente o olhava, o tocava ou abria o sorriso mais doce que ele já viu. - Será que dá para você parar de me encarar assim. - pediu envergonhada o fazendo sorrir.

- Isso é impossível Lili. Perdi tempo demais sem conseguir te olhar. - falou, a fazendo ficar mais vermelha ainda, mas no fim ela abriu um sorriso envergonhado.

- Acho que já está na hora de eu voltar. - disse se levantando, mas ele segurou em sua mão a impedindo.

- Ficamos tanto tempo sem nos falar. Só mais cinco minutos, por favor. - pediu enquanto ela alternava o olhar entre suas mãos entrelaçadas e os olhos convidativos e familiares à sua frente.

- Só mais cinco minutos. - deixou claro voltando a se sentar.

Entre histórias, lembranças e novidades os cinco minutos viraram dez, vinte, uma hora, duas horas. Estavam tão absortos nas risadas um do outro, nas palavras de carinho e nas memórias que nem perceberam o tempo passar e conversaram até os primeiros raios de sol os despertarem.

O começo de um novo dia, o alerta para a realidade que se fez presente como um peso nos ombros dos dois.

 

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