Antes do sim

Final

Ela respirou fundo abrindo um enorme sorriso em seguida. Levantou rapidamente da melhor forma possível batendo no painel que a separava do motorista.

- Moço, por favor para agora.

- Que parar o que Lia? - perguntou sua mãe confusa, ela a ignorou e continou a gritar para o motorista parar. Ele atendeu ao seu pedido e estacionou ao lado de uma calçada.

- Mãe, com licença. - pediu com um sorriso forçado para Lílian que bloqueava a entrada.

- Você não vai sair daqui. O que deu em você garota?

- Eu acordei mãe. Simplesmente acordei. - respondeu tentando passar por ela que continuava em frente à porta.

A Montine revirou os olhos e saiu pela outra porta quase sendo atropelada ao sair. Ela levou a mão ao coração e correu para a calçada encontrando sua mãe de braços cruzados e com uma expressão furiosa no rosto.

- O que você pensa que está fazendo Lia Montine?! Eu não acredito que você vai largar o Henrique no altar. - disse indignada.

- Eu não posso fazer isso mãe. Não posso casar com alguém que eu não amo só para satisfazer seus desejos. Eu não sou seu fantoche, não sou uma extensão do que você não foi. Não me use pra viver uma vida que você não teve. - acusou vendo ela ameaçar derramar algumas lágrimas, mas Lílian logo se recompôs, não iria desabar tão fácil.

- Eu sempre fiz o melhor para você. As melhores escolas, os melhores cursos e as melhores companhias, e é assim que você me agradece? - perguntou se aproximando e segurando seu pulso. - Você vai entrar nesse carro agora e vai se casar com aquela pessoa maravilhosa que está à sua espera. - mandou a puxando para dentro, mas Lia conseguiu se desvencilhar de sua mão a encarando incrédula com lágrimas nos olhos.

- Eu não acredito que você vai me forçar a casar. Não consigo acreditar que depois de tudo o quê eu lhe falei, de tudo pelo o quê a gente passou você ainda quer redigir a minha vida. Eu. Não. Vou! - gritou virando às costas e começando a andar determinada.

- O Henrique te ama Lia. Não faça isso com ele. - disse furiosa vendo ela a encarar com um pequeno sorriso.

- Fazer o quê? Dar a ele a chance de ser feliz com alguém que realmente o ama? Se for isso o que eu estou fazendo, faço com o maior orgulho. - afirmou aliviada.

- Você vai jogar tudo fora por causa dele? - perguntou irritada sem conseguir pronunciar o nome de Gabriel.

- Não só por ele, eu estou fazendo isso por mim. - respondeu enquanto sentia pelo olhar que sua mãe lhe lançava que ela não seria perdoada tão cedo. - Eu cansei dona Lílian. Vou seguir a minha vida da forma que me faz feliz. - falou se virando novamente. - Independentemente de tudo eu ainda te amo! - gritou antes de correr ignorando as pessoas que a encaravam confusas e os gritos frustados que sua mãe soltava.

Ela se escolheu e no meio dessa escolha estava ele, o motivo do seu sorriso, das borboletas animadas em seu estômago e do frio em sua barriga. Correu muito tempo em círculos para descobrir que só precisava de uma pequena brecha para relembrar como era bom ser ela mesma.

Já ele, rodou o mundo a fim de esquecê-la, quando a viu naquela manhã percebeu o quão bobo foi ao pensar que um dia iria conseguir esquecer aquele sorriso doce, olhos curiosos e aquele coração enorme que sempre colocava os outros à frente de si. No momento ele abraçava forte a pequena noiva que chorava em seus braços. O bar parou para olha-los e eles se desligaram para o mundo.

Ela se separou um pouco o fitando intensamente, se perdiam no olhar do outro, se afundavam naquele sentimento tão puro e intenso. A letra da música embalava os corações de duas almas que enfim se encontraram, de forma atrapalhada e confusa, mas mesmo assim igualmente mágica.

Eu procuro um amor
Que ainda não encontrei
Diferente de todos que amei

- Ainda não acredito que você está aqui. - sussurrou limpando delicadamente suas lágrimas enquanto a encarava com um sorriso emocionado.

- Naquela madrugada você perguntou se eu te escolheria e agora eu reforço a resposta, mil vezes sim. - afirmou levando a mão ao seu rosto fazendo um carinho em sua bochecha.

Pode ser que eu a encontre
Numa fila de cinema
Numa esquina
Ou numa mesa de bar

- Eu te amo Lia Montine. Todos esses anos que passei tentando te esquecer só reforçaram esse sentimento. Quando soube que você iria se casar senti uma dor que nunca imaginaria que iria sentir, mas quando a Margarida me contou o quão triste você estava eu vi ali a oportunidade de te fazer feliz. Nunca quis acabar com os seus planos, causar uma briga em sua família ou acabar com o seu casamento, eu só. - iria continuar se não tivesse sido interrompido por ela que o puxou para um beijo apaixonado.

Ela o puxava para mais perto sentindo as mãos dele apertarem sua cintura tentando aproximar seus corpos o mais humanamente possível. A pele contra pele, as respirações misturadas, a colisão dos corpos provocando uma explosão de sentimentos os envolvia ainda mais naquele pequeno universo que criaram para si.

E eu vou tratá-la bem
Pra que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer
Os meus segredos

Se separaram ofegantes sem noção de tempo ou espaço. As pessoas os observavam encantadas sem terem coragem de desperta-los daquele mundinho. A chefe de Gabriel, uma romântica incurável, os olhava com um sorriso estampado no rosto. Quem os visse sabia que existia um sentimento único que era compartilhado pelos dois, um sentimento que possui quatro letras e infinitos significados. Tal sentimento é expresso em atitudes, pequenos gestos ou na forma mais comum, em três palavras que não devem ser ditas ao vento, e sim sussurradas a quem merece.

- Eu te amo Gabriel Almeida. - declarou colando suas testas e fechando os olhos para aproveitar sua presença.

- Também. - falou simples a fazendo sorrir.

- Também o que meu fugitivo? - perguntou abrindo os olhos e compartilhando um sorriso com ele que continha um brilho apaixonado no olhar.

- Eu te amo. - afirmou a puxando para outro beijo, o segundo dos muitos que se sucederiam por aquela noite, e por todos os dias que passariam juntos.

Eu procuro um amor
Que seja bom pra mim
Vou procurar
Eu vou até o fim...