O lobo Vittório

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 O Colégio Pitágoras iniciou suas atividades na década de 1900, como uma instituição de ensino preparatório. Em 1910, a marca já era consolidada no Rio de Janeiro, com o funcionamento da primeira e maior unidade de ensino da época, o Colégio Pitágoras no Morro do Castelo. 

Vittório Mancini Lacerda, um italiano naturalizado brasileiro que  pertencia a elite de mais alta renda  da classe A carioca, foi treinado pelos maiores professores e idealizou um dos mais plausíveis projetos educacionais. 

Afora isso, Vittório Lacerda colecionava inúmeros admiradores - entre eles o prefeito Pereira Passos - era amigo de jogo de personagens famosos como  Alberto Santos Dumont e, como de praxe, existiam também mulheres que suspiravam  em sua presença ao menor gesto educado de sua parte. Nos anos desse romance, mesmo tendo alcançado  a meia idade contando com 45 anos, ele mantinha conservada sua beleza singular, com tez muito alva e cabelos negros - sua pele parecia muito jovem, apesar do aspecto maduro - e olhos azuis expressivos e sedutores.   

Este senhor, por incrível que pareça meu caro leitor, era livre de laços matrimoniais. Desfilava com as vestimentas e acessórios da última moda. Era um verdadeiro dândi -  homens que se preocupavam com a aparência e não tinham pudores em demonstrá-lo, vestiam-se com apuro e lançavam moda - e um assíduo frequentador das festas e eventos sociais da alta sociedade.

Vittório e Ana Lira se deram muito bem no primeiro ano de relações profissionais. Ele a tinha como exemplo a ser seguido por todas as outras docentes, pela dedicação infindável com o colégio, por ser um modelo de conduta ilibada e sua polida ética pessoal fascinava-o. Dedicava os mais cândidos elogios à jovem. O nome de Ana Lira era como mel em seus lábios. É óbvio que não demorou muito para que Vittório e Os lira se tornassem mais íntimos. Sua presença nos jantares de família, os convites para o chá que fazia e recebia numa reciprocidade efervescente construíram a fraternidade entre eles. Carlinhos e Cecília abriram as portas de sua casa muito afeiçoados à  figura dele, que enxergavam ser, apesar de toda a fortuna e prestígio social, uma alma solitária e carente de envolvimentos pessoais mais profundos e  sinceros. 

É bem verdade que Vittório era ligado à amizades gloriosas e no entanto supérfluas, mas crer que ele era solitário não passava de uma fantasia. Que coração ingênuo o dos Lira!  A aproximação para com eles não passava de sua rede de pesca sendo lançada no mar de sua propriedade. E Ana Lira era o peixinho que Vittório ambicionara fisgar. Como lobo experiente que era, espreitava o território dos Lira com muita cautela. Procurava manter-se neutro à presença de Ana Lira, limitando-se a um cortejo sutil e quase imperceptível. Somente quando se aproximou a data de congratulação dos vinte e quatro anos de sua tão querida presa, Vittório decidiu que era chegada a hora da primeira investida: deu-lhe uma grande festa de presente, um lindo vestido azul turquesa acetinado escolhido à dedo, uma infinidade de flores e um par de luxuosos brincos da joalheria Cartier. 







Ana LiraOnde histórias criam vida. Descubra agora