II

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Aproximadamente 5 horas

Acordei quando o sol estava mais fraco, o mar estava mais agitado do que antes. O que significa que eu não poderia caçar peixes. Iria ficar com fome. O vento estava gelado. Peguei meu paletó e me vesti, passando as mãos freneticamente nos meus braços para me esquentar. Sentado completamente sozinho olhei para o céu ficando alaranjado, ergui minhas pernas na altura do meu queixo e deitei minha cabeça nos meus joelhos olhando ao meu redor. Após alguns segundos apenas ouvindo a agitação do mar e me equilibrando para não virar a canoa. Ergui minha cabeça e me virei para trás ao ouvir barulho de peixes sendo jogados perto de mim. Olhei para eles pulando tentando escapar dali com vida, mas não conseguiram. Em seguida ergui meu olhar vendo novamente minha alucinação, o homem peixe boçal. Me senti intimidado. Ele me olhava sério e curioso. Eu estava em uma distância segura e nenhum de nós disse algo ou fez algum gesto. No entanto ele parecia tranquilo, quanto a mim estava morrendo de medo. Nos encaramos até que ele se movimentou, pegou em um peixe e arrancou a cabeça, era um casção. Arrancou as nadadeiras e abriu o peixe no meio tirando o osso. Ao terminar, pensei estar menos lúcido do que antes, mas da mão dele saia sal grosso, ele estava temperando o peixe? Juntei minhas sobrancelhas não entendendo.

⸻Sal. ⸺ ele disse em um tom como se fosse meu mestre. ⸺ para temperar.

Não falei nada, ele me olhou, pegou um peixe e jogou perto de mim. Deixou um punhado de sal próximo aos outros peixes e saiu. Olhei para o peixe que ele abriu, o sal e os outros peixes. Demorei um tempo para tocar naquilo. Com o dedo indicador toquei no sal, nada aconteceu, não desapareceu e eu estava vivo. Toquei no peixe que ele "temperou", não houve nada. Peguei aquele e comi um pedaço. Ainda era horrível, porém com o sal era melhor do que cru. Comi o peixe inteiro e ao terminar, abri outro peixe o limpando e colocando sal. Comi mais um e deixei outro peixe de "reserva". O mar estava mais agitado o que era péssimo para mim, não tinha um remo se quer. Me segurei na lateral da canoa para não cair, a noite seria o inferno para mim. O tempo foi passando e o céu estava cinzento e feio, o mar estava tão agitado que tive de sobreviver a ondas até que grandes, eu já estava encharcado. Já estava perdendo as forças nos meus braços, provavelmente, eu iria morrer. O que não é tão ruim, estaria livre de toda essa alucinação e finalmente acordar. Errado! A criatura homem peixe apareceu novamente segurando a ponta da canoa. Ele Dizia algo sobre não controlar o fluxo do mar, algo parecido. Não entendi nada o barulho do mar era alto demais. Uma onda grande estava se formando, era agora, eu estava morto da Silva. Segundos antes eu tentei segurar o fôlego o máximo que pude. A onda me atingiu em cheio, dessa vez não consegui me segurar. A canoa virou e eu cai no mar que me balançava e me levava com ele. Tentei nadar para a superfície, mas a correnteza estava me levando para longe. O homem peixe se aproximou de mim, agarrou firme no meu pulso e subiu a superfície. Recuperei meu ar. Olhei para o céu, continuava escuro e feio, uma tempestade estava pra mim. Era a minha deixa e da minha alucinação.

⸻Oh, Zeus! ⸺ A criatura disse quando me soltou olhando para o céu. Ergueu os braços. ⸺ Oh, Poseidon! Não briguem no meu mar!

Olhei para ele e em seguida olhei para o céu. O homem peixe estava implorando. De repente, uma onda fortíssima nos atingiu, nem mesmo O homem peixe conseguiu nadar. Eu não tive tempo de respirar. Estava desesperado de baixo d'agua. Novamente salvo pelo homem peixe e de volta a superfície.

⸻Me desculpe. Eu quis dizer, no mar que protejo, não briguem nele! ⸺ mais uma vez implorou olhando ao céu. Eu o olhava como se ele fosse um maluco fora do manicômio.

As ondas aos poucos estavam cada vez menores, mas o céu continuava feio. O homem peixe me soltou e entrou na água. Que ótimo! Sozinho, sem canoa e com frio. Tentei ficar deitado na água como as pessoas costumam fazer, não tive sucesso. Aí que vontade de morrer. Vou esperar ser comido para um tubarão. O mar ficou calmo com o passar do tempo. Em parte estava aliviado. A minha frente eu via algo vindo em minha direção, não podia acreditar, era minha canoa! Parou a minha frente e eu subi nela com cautela e me deitei. Fechei meus olhos, mas por alguns instantes. Estava me sentindo incomodado. Havia uma presença. Abri meus olhos e dei de cara com o homem peixe me olhando sem piscar. Era estranho.

⸻Olá. ⸺ Ele disse em um tom de voz cordial. Ergui uma sobrancelha não queria responder o homem peixe, era demais conversar com a minha alucinação. ⸺ Olaaaa!

Ele gritou tão alto que acho que minha esposa ouviu e eu devo ter ficado desprovido da audição. Em resposta também gritei "Olá" bem alto para ele. Ele pareceu impressionado.

⸻ Oh! O humano fala! ⸺ disse ele impressionado. Seus cabelos molhados pingavam no seu rosto.
⸻ é claro que falo! ⸺ eu disse revoltado. Agora eu endoidei de vez! Falando com a minha alucinação!
⸻Oh! O humano escuta! ⸺ Ele continuou impressionado, minha expressão não era nada Feliz, parece que estava sendo taxado de bobo. ⸺ Seu nome? ⸺ Revirei meus olhos, não queria responder. Era demais. Coloquei as mãos em meu rosto cobrindo toda minha face deprimida. Senti a mão dele empurrar meu braço. ⸺ Humano você não tem nome?
⸻Thierry! ⸺ respondi impaciente.
⸻Pierro? ⸺ bati na minha testa.
⸻Thierry! ⸺ Pronunciei devagar.
⸻Pierre. ⸺ ele disse devagar também, porém errado.
⸻Thierry! Não tem inteligência?

Opa. Acho que não fui bom com a minha alucinação. Seu queixo enjireceu e sua expressão era séria. Respirei fundo.

⸻ É Thierry... ⸺ dessa vez eu fui devagar e paciente.
⸻Pierre. ⸺ Não foi devagar, ele apenas disse sério.
⸻Qual seu nome? ⸺ resolvi não protestar mais meu nome. Era inútil. Ele demorou uns segundos para dizer.
⸻Misael.

E se abaixou entrando no mar. Me sentei observando o horizonte. Minha alucinação não estava me causando mais tanto medo assim, logo me acostumaria.

Melancolia Dos MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora