O Diário

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Tenho sono.
Comprei este caderno para servir de diário, desenhar e assim apesar de não ter nada que impeça alguém de o ler, tipo um cadeado ou assim.
O meu psicólogo achou bem eu desabafar os meus sentimentos num diário. Só fui à consulta porque a minha mãe me obrigou. Ela acha que eu não tenho amigos e não tenho auto-estima. Odeio-me, mas o que ela tem a ver com isso? Tenho 16 anos. Faço o que quero da minha vida.
Primeiro achei isso uma grandessíssima merda, mas agora acho que realmente me pode ajudar, já que não tenho pessoas de confiança com quem possa desabafar. Não tenho amigos. Não consigo confiar em ninguém. Não considero isso um problema, não existem amigos verdadeiros: existem apenas pessoas que nos enganam e nos apunhalam nas costas quando as coisas não são como elas desejam. Usam as palavras como armas e magoam quem os ama.
Pessoas falsas.
Enfim.
Não sei que dizer.
Hoje foi um dia de merda. A sério. Odeio minha vida.
Acho que tenho algumas razões...
Demasiadas razões.
Não quero pensar nelas. Já basta vivê-las. Posso parecer dramático, mas eu sou assim... sei lá o que eu sou.
Ok. Vou parar com isto.
Estou sozinho e em silêncio no meu quarto. Acho que este é o único sítio que eu suporto estar. Não tem ninguém a não ser eu e Andy, o meu gato que por vezes entra aqui. A melhor coisa do meu quarto é ele ser silencioso. Não ouço ninguém nem ninguém me ouve.
E é pequeno e abafado. Cheio de BDs e posters. Até É bom estar aqui. Odeio sentir-me observado. Sinto-me em casa.

Mds to a morrer de sono.
Mas doí-me a cabeça. Não consigo dormir assim.
Vou vestir uma cena mais confortável e tirar a maquilhagem. Não me apetece sujar a almofada toda com eyeliner.
...
Já voltei... e peguei neste caderno estúpido.

Amo vestir a minha roupa de mendigo e ir para a cama ver a chuva a cair. Estou aborrecido.

Hum... tenho fome.

Hoje não jantei. Algo bem impossível para um gordo.

Há snickers na mochila? Acho que sim... Vou procurar.

Sim! Devoro-o. Yhum!

Sou um autêntico gordo feioso.
Embrulho-me num cobertor preto com estrelas. Adoro-o desde pequeno.
O meu gato espreitou de uma caixa onde se costuma esconder. Ele é muito fofo mesmo. Como é preto e eu(não sei como) estava obsecado com Black Veil Brides há uns tempos, chamei-lhe Andy, de Andy Black.
Ele miou baixo e começou a correr de um lado para o outro.
Sigo Andy com o olhar.
Amo gatos.
Lá fora a chuva cai furiosamente.
Fico em silêncio a comer o ultimo bocadinho de snickers.
Observo as pessoas lá fora, os meus vizinhos. Dá para ver praticamente tudo o que se passa nos outros apartamentos... Bem, eu vejo apenas sombras, pedaços das vidas que os outros não escondem.
Andy fica bem quieto a olhar para um poster de Avenged Sevenfold e começo a desenha-lo. Ele é muito fofo.
Amo desenhar. Relaxa-me e faz-me pensar em outras coisas sem ser a minha vida.
Distraio-me a olhar lá para fora. A chuva acalmou, dando para ver perfeitamente as casas iluminadas dos vizinhos dos prédios da frente.
Vejo Lindsey, uma vizinha que vive no apartamento logo em frente à minha janela. Ela estava sentada, numa mesa encostada à sua janela. Ela parecia estar concentrada a escrever... talvez a desenhar.
Lynz anda na mesma escola que eu. Está noutra turma, mas temos horários parecidos, por isso vejo-a quase todos os dias, na escola ou na janela. Sei que isto parece meio perverso, estranho ou assim, mas eu não tenho culpa de ela não pensar em fechar a merda da janela.
Ela nunca notou em mim... acho eu. Parece uma rapariga vulgar, no entanto ela não fala com ninguém, tipo, ela não é popular. É só uma garota gótica ou punk sei lá que toca guitarra numa banda qualquer. Ela é um ano mais velha que eu. Como se ela fosse notar uma pessoa insignificante como eu... Passa os dias sozinha, no mundo dela. Ignora tudo e todos, menos as suas amigas estranhas, claro.
Será que ela me vê?
Sei lá.
Gostava se saber o que os outros pensam de mim e se chegam sequer a pensar em mim.
Ouço alguém a bater na porta do meu quarto. Quando ia levantar-me, a porta já se abria. Na minha frente, estava uma criatura loira de 1.85m, que não me parecia muito satisfeita.

-Gerard, onde está a minha guitarra?

-Eu... eu não sei.

-Não me mintas!

Levantei-me e procurei a guitarra de Mikey no meio da roupa suja. Não sei como, mas encontrei-a. O meu irmão olhava para ela com nojo.

-Porque pegaste nela?

-Estou a tentar tocar e...

-Não tens desculpas. Odeio que mexas nas minhas coisas. E tu nem sabes tocar direito.

-Mas...

Ele fechou a porta na minha cara.

Meu quarto está realmente uma bagunça.

Vou dormir.

Xauh

x x x

The Gerard's secret worldOnde histórias criam vida. Descubra agora