The Gerard's secret world

Frank

Acordei com o rabo de Andy na minha cara. Esse gato quer me matar.
Começo a tentar tirá-lo de cima de mim, mas ele não se mexe.
Fiquei bem quieto. Ele lentamente sai de cima de mim, saltou para o chão e sumiu.
Respiro fundo. Tento tirar alguns pelos de Andy presos no meu cabelo.
Que dia maravilhoso.
Fantástico.
Hoje tenho aulas. To a morrer de sono. Não dormi nada bem. Comecei a desenhar para me distrair, mas fiquei tão cansado, que atirei o caderno para o meio do chão passei a noite toda a olhar para o teto, à espera  de que algo acontecesse, sei lá.
Levantei-me.
Tropecei num monte de roupa... mas não caí.
Fui olhar-me no espelho na porta do meu armário. O meu cabelo parece um animal atropelado. Está horrível. 
Dispo-me e vou tomar um duche. Tenho que lavar esta merda de cabelo.
...
Hummmm... hoje vou vestir... sei lá.
Vou vestir aquela t-shirt dos Nirvana. Sim.
Visto uns skinny jeans pretos velhos como tudo. Puxo-os com dificuldade para cima. Porque minha bunda é tão grande? Odeio isso.
Sou tão feio que nem devia sair de casa. As pessoas iam vomitar só de me verem.
Eu não bato realmente bem.
Penteio o cabelo ainda molhado e ponho um pouco de eyeliner.
Calço os meus all star vermelhos. Eles estão a dar as últimas.
Pego na minha mochila e enfio lá o meu caderno de desenho e o meu ipod.
Desço as escadas. Na cozinha está a minha mãe juntamente com Mikey a devorar cereais.
-Bom dia, Gerard! 
A minha mãe está a fazer panquecas. Eu amo panquecas. Ela pousa um prato com panquecas na minha frente. Tira-me o cabelo da frente dos olhos e sorri, como se estivesse a alimentar um cão bebé abandonado.

-Tu és lindo. Não precisas de esconder essa cara bonita atrás do teu cabelo fofinho, querido.

Mikey quase se engasgou.
...
Saio de casa.
Ando nos cantos escuros das ruas de New Jersey. Não quero que ninguém me veja. Não queria sequer acordar. Só queria adormecer eternamente.
Meu deus, hoje estou muito depressed.
Entro nos portões da escola. Ando o mais rapidamente que as minhas pernas permitem. Chego até à entrada daquele inferno. Parece tudo ótimo...

-OLHA O VIAAAADO!

OK...
Não... não... isto não pode estar a acontecer... PORQUE TODO O MUNDO ME ODEIA? O QUE EU FIZ DE MAL PARA MERECER ISTO?
Ele puxou-me para o chão.
Sinto-me a cair. Tudo parece sumir. Fecho os olhos com força. Ouço a minha mochila a cair no  chão e as minhas coisas a espalharem-se à minha volta. Sinto o frio do chão na minha cara. E o sangue quente a sair do meu nariz, a escorrer até meu queixo. Ouço vozes. Muitas vozes. A rirem-se da minha desgraça. Outras provavelmente com pena tentam defender-me, mas eu já era, não vale a pena fazer mais nada. Um círculo de pessoas reuniu-se à minha volta. Para mim não  passavam de uma névoa. Meu funeral.
Sinto algo a puxar-me. É só o satanás em pessoa. Me empurrou contra uma das paredes geladas e húmidas daquele inferno. Tento fugir. Mas ele não me larga. Ouço o toque de entrada nas salas. As pessoas vão desaparecendo de minha volta. E eu fico ali. No chão a tremer.
Odeio minha vida.
Levanto-me lentamente. Ando pelos corredores desertos até à minha aula. Tento não olhar para ninguém na sala, mas sinto os olhos de todos a queimar-me as costas. Nem consigo falar. Sento-me no fundo da sala. Acho que sou o último que chegou... espera...
A porta abre-se. Entra alguém...
Era um rapaz baixo. Cabelo preto raspado dos lados. Parece um tipo punk qualquer sei lá. Pediu desculpa pelo atraso ao professor, olhando em volta à procura de um lugar vago.
Ele sentou-se à minha beira, lá no fundo daquela prisão. Olhou para mim. Os olhos dele eram verdes e grandes e fixaram-se na minha cara. Eu tinha ainda um pouco de sangue a escorrer do meu nariz e os olhos vermelhos e inchados de chorar. Apenas escondi a minha cara por detrás do meu cabelo. Ele sorriu de lado. Provavelmente não tinha visto aquela cena de há bocado.
Ele aproximou-se de mim, até ficar a poucos centímetros de mim. Sentia um ligeiro cheiro a fumo a sair da sua boca.
-Oi!
A sua voz era meio rouca e hipnotizante.
Eu fiquei calado e quieto. Não conseguia sequer reagir.
Tentei não olhar diretamente para ele. Ele só parecia divertido com a situação.