CAPÍTULO V : FURACÃO KATRINA

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"Não aguenta mais ficar aqui. Sem água, Sem comida, sem protecção. Apenas com o amparo do chão duro de cimento, tortuoso e feito às pressas. Ela não pode fazer isso comigo. Não pode, não pode mesmo - Deus, por favor, estou aqui de joelhos, sem forças, mas com tamanha fé que o Senhor poderá me socorrer deste abismo. Eu sei que o senhor deve estar com problemas bem maiores por resolver, mas, eu te imploro, eu te imploro que amoleça o pobre coração daquela mulher para que tenha um bocado de discernimento e venha me socorrer! AMEN
Minutos depois a minha oração, ouço a porta a abrir-se e apercebo-me que está alguém na sala.

- HahahahahahahhahahA, você é mesmo muito burra, comadre. Devias ter aceitado o djindjin** daquele senhor e hoje veríamos mais estrelas que o normal - Pela voz, parece-me que ela está acompanhada da tia Joaninha, a da* rua de trás. É ela mesmo, sem dúvida. O que eu faço? Senhor me ajude! Não deixa que ela me bata novamente.
Minutos depois, ouço gargalhadas atrás de gargalhadas e um "ate já" supostamente da tia Joaninha. Começo a tremer porque ouço gritos e cantadas de sembas das antigas e a minha mente começa a entrar em delírios sérios. Aconchego-me num canto, mordo os meus lábios inferiores com muita força, começo a tremer, coloco o queixo sobre os meus joelhos e o meu corpo balançando de frente para trás, repetitivamente, para tentar me acalmar. Não conseguindo encontrar a paz devida, ouço um estalar de pratos indiciando que os mesmos foram atirados para o chão propositadamente. Reclamando falta de alguma coisa que eu não consigo traduzir perfeitamente o que é, por pavor de pensar o que poderá acontecer comigo se ela entrar novamente para este quarto - Acho que vou afogar-me em lágrimas. Lágrimas estas que vão ampar-me até (...) já não sei o que pensar - É o culminar de toda a minha tensão. Pela gritaria e os pratos todos a irem para o chão, sinto que ela está mais bêbada que o normal.
Enquanto isso, peço para Deus não me abandonar, e de repente ouço passos lentos vindos na direcção do quarto onde eu estou trancada...

Até que ela abre a porta. Não consigo enxergá-la correctamente devido aos raios todos à penetrarem de forma intensa para dentro do quarto e a luz refletida bate directamente sobre os meus olhos e faz com que fique com a imagem amulatada por segundos. Coloco o meu braço direito para proteger os meus olhos dos raios solares e vejo-a vindo ter comigo com o ar de poucos amigos. Pelo braço, ela levanta-me com todas as suas forças e aperta-me de forma bruta e insensível. Sacode-me tanto que eu começo a ficar tonta devido a fraqueza extrema. Após isso, olha-me nos olhos e diz:
- Su,Su,Su, Su, Su, Sua cabra, eu já estou farta de ti. Se soubesse que a minha vida seria desta jeito, eu te colocaria num,nu,num,nu,num contentor, sem medo e sem remorso porque tu estragaste a minha vida - Ela gagueja de raiva. Consigo sentir isso...
Após tantas asneiras soltas, tantas passagens relembradas sem mesmo uma culpa prévia no cartório da minha pessoa, ela não hesita e mostra-me que tem o poder total da situação e por fim bate na minha cara vezes sem conta e eu começo a obedecer por sí só e por e simplesmente - Para, para, para, para, para, para...

Até que rapidamente, vejo as paredes estremecerem como nos desenhos animados e elas transformam-se na boca de uma mulher que não para repetitivamente de chamar pelo meu nome. Começo a ficar assustada. À pensar que estava a ficar maluca por esta situação que estou a viver. Sem explicações à vista e com a minha cabeça as voltas, eu começo a ouvir a voz da Maria a chamar por mim. Sem saber onde ela está, instintivamente também começo a chamar o nome dela desesperadamente. Até que
pestanejo instintivamente e quando abro olhos, estou bem frente à ela. E ela diz:

- Está tudo bem, amiga. Foi só um pesadelo Está tudo bem - Abraço mais confortante que já recebi em toda a minha vida

AFINAL, era só um pesadelo e nada mais
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Com a respiração ainda ofegante, vejo a Maria a fazer em mim um cafuné dos Deuses para que eu possa relaxar e me acalmar. Ela tem mesmo dom para isso. Faz bem o uso das suas unhas e sabe manejar bem o movimento das mãos. Apesar do jeito malandro e atrevido incutido na raíz da sua pessoa, ela é uma mulher muito carinhosa. De seguida, ela diz:
- Depois de termos feito o orgasmo dos séculos, o Manuel resolveu sair sem dar explicações. Portanto, dormiste logo de seguida da notícia do teu, do meu, do nosso carro. Eu não tive escolha e também fiz o mesmo. Até que, durante um bom tempo, tu começaste a gritar e despertei logo de desespero. Estavas de olhos fechados e a gritar como se alguém tivesse a te bater. Chamei por ti um milhão de vezes, mas tu, não respondidas. Por minutos fiquei assustada porque não sabia o que fazer de concreto. Insisti, insisti, insisti, até consegui que levantasses. Lembraste com quem é que estavas a sonhar? E eu digo:

PRAZER vs prazerOnde histórias criam vida. Descubra agora