Jungkook já não tinha mais lágrimas em seus olhos ou forças para que outras escorressem. Não depois de tantas outras já terem feito isso. Seu peito doía depois de chorar copiosamente por horas sem parar, mas em algum momento, que ele jamais saberia dizer qual, simplesmente parou. Foi ai, nesse momento, que ela veio, a coragem para o que ele queria fazer desde que chegou ali, mas que não conseguia simplesmente porque era covarde demais para fazê-lo, independente do quanto sofresse e do quanto precisasse dar a si mesmo um pouco de paz.
Paz, isso era tudo o que ele queria quando deu mais um passo para a frente, se engasgando na beira do penhasco ao olhar para as águas violentas lá embaixo, batendo contra as pedras em um som que nunca antes pareceu tão assustador. Mas não pelo que ele estava prestes a fazer e sim pelas lembranças que aquele lugar lhe traziam. Era com aquele penhasco que sonhava todas as noites, era com as cinzas daquele mesmo galpão, bem atrás dele, afinal, foi ali que tudo aconteceu. Aquele era o galpão de Joshua, que ele e os ex companheiros haviam incendiado, causando a morte de Taehyung logo depois quando Joshua decidiu começar por ele sua vingança.
Um trovão soou no céu, e junto com ele, mais uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Jungkook que, por um instante, fechou os olhos, revendo mais uma vez o que havia feito, deixando que tudo se repetisse em sua mente novamente, que o consumisse. Doía. Doía tanto que parecia prestes a devorá-lo, mas era justo que ele sofresse. Havia sido um dos responsáveis pela morte de um amigo, e agora havia diretamente matado o meio irmão e a mãe.
Havia matado sua própria mãe.
Quando deu por si, Jungkook já havia voltado a chorar. Tão forte e tão alto que precisou cobrir a boca com as duas mãos.
Uma das coisas que Jungkook mais tentou fazer em vida, foi conquistar o afeto de sua mãe, mesmo que uma parte pequena dele, mas então, mesmo que não fosse a intenção, ele a havia matado e aquilo só provava que ela esteve certa de odiá-lo a vida inteira. Talvez fosse coisa de mãe e ela só sabia que por dentro, ele era terrível. Que por trás daquele garotinho que ele havia sido, altruísta, havia um monstro prestes a escapar, um tão horrível quanto o próprio Joshua. Um ainda pior que o seu padrasto.
Jungkook era um monstro, porque apenas um monstro era capaz de fazer o que ele havia feito e ainda conseguir pensar em acabar com a própria dor quando obviamente, merecia sentí-la.
Ainda tinha sangue em suas unhas, sangue que ele não havia conseguido lavar mesmo depois de esfregar por horas. As mesmas mãos estavam machucadas com a força colocada quando tentou limpá-las, mas nada ajudou quando ainda sentia o cheiro do sangue, quando sua roupa ainda continha as marcas de todo o mal que havia causado.
Jungkook ainda podia ouvir a risada de Joshua antes de morrer, o acusando por Taehyung e o amaldiçoando a uma vida miserável. Ainda podia ouvir o choro da mulher jogada no chão, afogando-se em seu próprio sangue. Lembrava-se de tentar socorrê-la e lembrava-se dela o afastando. Podia vê-los claramente em frente aos seus olhos quando os fechava, mesmo que no momento, quando aconteceu, sua vista estivesse totalmente embaçada pelas lágrimas, pelo desespero de não saber o que fazer.
Engasgando-se mais uma vez, Jungkook deu um novo passo para a frente e seu pé escorregou, fazendo com que algumas pedras se desprendessem e caíssem morro abaixo.
Ele sabia o que precisava fazer, mesmo que talvez não fosse o mais justo. Era certo que ele sofresse pelo que havia feito, não era? Era certo que fosse punido depois de tirar não só uma, mas três vidas. Jungkook sabia que se entregar, era o certo, mas nunca foi capaz de fazer o certo e de qualquer forma, certamente não aguentaria viver com aquela culpa, não outra culpa. Já não aguentava nem mesmo os pesadelos que tinha, como poderia suportar mais dois?
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I Need U
Fanfiction[COMPLETA - BTS] Apenas uma grande tragédia foi capaz de separá-los. Uma amizade criada em laços de sofrimento, em vidas vividas sempre no limite até não haver mais nenhum. Ninguém esperava que ainda houvesse uma chance, ninguém via salvação em meio...