ALGUNS DIAS ANTES
Se o perguntassem, Jungkook jamais saberia dizer qual motivo havia sido responsável por fazê-lo entrar de roupa na banheira velha no banheiro de seu quarto. A camisa branca colava em sua pele, já transparente devido a água e alguns fios de seu cabelo caiam sobre seus olhos, mesmo depois de afastá-los para trás.
Ele sempre teve aquilo. A vontade de gritar do nada. Aqueles dias que ele odiava tanto o mundo, as pessoas e a si mesmo que estar no seu próprio corpo, ter que lidar com a própria mente, o deixavam prestes a enlouquecer. Mas estava pior. Cada dia a loucura parecia mais real, mais próxima, e enquanto ouvia a mãe gritar com o padrasto bêbado do lado de fora, JungKook brincava com o isqueiro, pensando no quão fácil seria simplesmente derrubá-lo em seu quarto quando estivesse sozinho, se perguntando se teria coragem o suficiente para ver tudo queimar.
Ele também pensava muito naquilo, em ver tudo queimar. Ele via tudo queimar quando fechava os olhos e via tudo queimar quando os abria no meio da noite, aos berros depois de mais um pesadelo com Taehyung. O fogo não havia sido responsável pela morte do amigo. Foi a queda do penhasco, as pedras na água. Ainda se lembrava do sangue, do corpo inerte do garoto depois de morrer, mas de alguma forma, quando fechava os olhos e se lembrava dele, era o fogo que via primeiro.
Talvez fosse culpa. Ele havia começado o incêndio afinal, junto com Yoongi. A ideia havia parecido boa na hora. Se vingariam do meio irmão desprezível de JungKook e levariam junto toda a produção de drogas que ele traficava, mas deveriam ter imaginado que mexer com traficantes era uma péssima ideia.
Foi assim que Taehyung acabou morto. O mais novo do grupo. Foi assim que a culpa consumiu todos que restaram. Foi assim que se afastaram e foi assim que cada um seguiu seu próprio caminho, menos ele. Jungkook não tinha ideia de qual era o seu caminho para seguí-lo e sentindo-se sufocar como sempre se sentia ao pensar no assunto, deixou o isqueiro cair no chão ao seu lado, deslizando na banheira até estar totalmente submerso.
Tudo o que ele queria, era que a dor sumisse, que a solidão passasse. Ele queria que as coisas pudessem voltar a ser como eram, mas não havia mais ninguém ali para que isso acontecesse. Ele estava, definitivamente, sozinho. Jungkook desconhecia o que era amor de mãe. Jungkook desconhecia o que era ter um pai, já que foi abandonado pelo seu antes mesmo de saber o que era isso. Seu padrasto, desde a infância, era como o monstro que as crianças temem embaixo da cama, com o triste detalhe de ser real e seu meio irmão, o responsável por Kook ter crescido com tanto medo de tudo.
Sentiu as lágrimas queimarem seus olhos, mesmo fechados embaixo da água e apertou as bordas da banheira, soltando o ar pelo nariz como se tentasse se acalmar o suficiente para não chorar. Seu pulmão já doía, clamava por ar, mas Jungkook nunca chegou a saber até onde iria com aquilo, ou até onde aguentava, pois um estrondo do lado de fora o assustou ao ponto de fazê-lo pular, submergindo imediatamente.
Sem fôlego, ele tossiu. Não tinha se dado conta do tempo que havia passado embaixo da água até submergir e sentir os efeitos reais de estar se afogando. Ele já não reconhecia a si mesmo. Aquele tipo de atitude não condizia com a pessoa que ele conhecia e se viu assustado ao notar isso, que quase tirou a própria vida sem perceber, que não eram apenas pensamentos, que era muito mais verdadeiro do que esperava.
Ele já não tinha mais controle sobre si mesmo.
Uma batida forte na porta o vez pular novamente, e quando sua mãe gritou, se deu conta de que era o mesmo barulho que o despertou da inércia dentro da banheira. Ela o estava chamando e tentando respirar fundo, encher seus pulmões com ar ao invés de água, ele passou as mãos pelos cabelos antes de tomar coragem para respondê-la:

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I Need U
Fanfiction[COMPLETA - BTS] Apenas uma grande tragédia foi capaz de separá-los. Uma amizade criada em laços de sofrimento, em vidas vividas sempre no limite até não haver mais nenhum. Ninguém esperava que ainda houvesse uma chance, ninguém via salvação em meio...