Jungkook não tinha nada específico em mente quando se afastou do grupo de amigos que gritava no píer, correndo uns atrás dos outros. Era aniversário da morte de Taehyung. Quatro anos agora, mas por incrível que pudesse parecer, ele não se sentia mal por isso, muito pelo contrário.
Estavam na praia, era um lugar deserto e o sol já começava a se por no horizonte quando ele, sozinho, decidiu ir para o lugar mais alto. Uma estrutura metálica que um dia talvez tivesse servido para içar qualquer coisa nos navios que atracavam ali.
Mas foi ali mesmo que Jungkook subiu, abrindo os braços para a brisa que tocou sua pele assim que chegou ao topo.
Era o aniversário de tudo de ruim que havia acontecido em sua vida. Anos atrás, naquele mesmo dia, tudo havia começado. Havia perdido um dos seus melhores amigos. Caído no buraco mais fundo que um dia poderia ter alcançado, conhecido a maior dor que poderia ter vivido, mas foi ali, no topo daquela estrutura, quando se sentiu verdadeiramente bem apesar de tudo que ele soube, com toda a convicção que podia ter: Ele havia superado e riu por isso, riu alto, jogando a cabeça para trás porque céus, era bom demais. Ter conhecido a pior dor que poderia conhecer e, mesmo assim, tê-la superado, era a melhor parte de ter escolhido viver.
Não havia sido fácil, Jungkook jamais poderia dizer isso. Precisaram mentir sobre ele ter realmente se jogado do penhasco aquela noite. Precisaram mentir sobre ele ter realmente morrido depois de matar duas pessoas. Viveu com medo de ser pego e ir preso. Perdeu a conta de quantas vezes acordou aos berros no meio da noite, chorando e tremendo. Revivendo tudo o que havia feito. Ele havia se excluído em sua própria dor. Havia levado anos para conseguir confiar em alguém novamente, mesmo nos próprios amigos que, como prometeram, nunca mais saíram do seu lado.
E Jungkook esperou, todos os dias, pelo dia que virariam as costas novamente. Cada vez que saiam ele chorava, imaginando que nunca mais iam voltar. Foram seus piores momentos, seus piores dias, e mais de uma vez ele pensou em acabar com tudo. Pensou em encontrar V do outro lado. Pensou em encontrar paz dessa forma e, hoje, ficava feliz por nunca ter feito. Agora que ele podia ver tudo que sempre esteve errado, era mais fácil seguir em frente.
Ainda não achava certo ter acabado com as vidas que havia acabado, mas podia enxergar coisas que antes, ele não via. Hoje sabia que a culpa não era sua se sua mãe não sabia ser mãe. Não a culpava também, as vezes ela só não soubesse fazer aquilo, ou não tivesse tido uma boa mãe em quem se basear. Talvez ela realmente o culpasse por ter nascido e levado sua vida tão jovem, talvez ela quisesse mais e ele realmente tivesse atrapalhado, mas esperava, sinceramente, que ela pudesse ver que ele pelo menos havia tentado e se esforçado para que seu fardo não fosse tão grande. Tentou ser um bom aluno apesar da bagunça que fazia com os amigos e tentou obedecer sempre que ela pedia. Até mesmo hoje, ele ainda se pegava fazendo as coisas certas pensando no que uma mãe gostaria que um filho fizesse, esperando compensar a mínimo possível do que havia feito.
Ele a matou tentando salvá-la, afinal. Joshua tentava bater nela, Jungkook tentou assustar Joshua com um pedaço quebrado de garrafa, mas o matou quando Joshua novamente tentou agredi-lo e sua mãe, ao se jogar sobre ele em repreensão pelo que havia feito, esqueceu-se da garrafa ainda em sua mão.
Chegava a ser ridículo quando Jungkook pensava, a forma como tudo havia acontecido porque ele mal havia se movido, ou feito qualquer coisa além de pegar a maldita garrafa. Se Joshua não tivesse tentado agredi-lo, não teria morrido. Se sua mãe não tentasse repreendê-lo por tê-la salvado, também não.
Mas o mais irônico, entre todas as coisas, era o fato daquele dia, apesar de ter sido o motivo para seus piores pesadelos, também ter sido o primeiro passo para a sua libertação. Ele não gostava de pensar assim de verdade, que algo tão horrível havia acontecido para alguma espécie de bem maior, mas não podia evitar que aquilo viesse a sua mente vez ou outra. Pensar dessa forma fazia parecer que ele acreditava ter feito o certo e ele jamais pensaria isso, nem em um milhão de anos, mas as palavras de Namjoon costumavam voltar a sua mente as vezes e ele o ouvia repetir que nenhum dos dois conseguiam ver os erros que cometiam para melhorar. Eles também estavam presos em uma bolha de angustias a sua própria maneira, mas achavam certo fazer mal aos outros ao invés de tentarem se curar como Jungkook havia feito.
- Jimin! – Jungkook ouviu o grito de Yoongi, e sorriu ao voltar sua atenção novamente para os amigos lá embaixo. Jimin tentava empurrar Yoongi píer abaixo, para a água, sem tentar de verdade, o que qualquer um poderia ver menos o próprio Yoongi. Estavam todos vestidos e agasalhados. Não estava um clima tão bom para se entrar na água apesar do sol e Jimin não faria isso, mas não importava. Yoongi gritava e os outros, sentados a beira do píer, riam dos dois.
Era aniversário da morte de Taehyung, mas Jungkook não era o único que havia superado, se perdoado. Todos tinham, e de alguma forma ele sabia que Taehyung, de onde quer que estivesse, estaria satisfeito com eles por isso. Estaria rindo e se divertindo em vê-los ali, tirando algum proveito de uma data que tinha tudo para ser tão dolorosa.
Por um instante, Jungkook desejou ter levado consigo a câmera que o havia acompanhado durante todo o percurso até a praia apenas para fotografar aquele momento. Eternizar o dia em que havia se dado conta de que estava curado. Eternizar os amigos, brincando e se divertindo como se nada mais pudesse afetá-los porque tudo estava finalmente bem, porque tinham uns aos outros. Não entendeu, na verdade, o motivo de tê-la deixado para trás quando não a tinha largado por nenhum instante até então, mas foi ai que ele se lembrou do diário em sua cintura e mais uma vez riu consigo mesmo, tirando-o de lá.
O último diário quando todos os outros haviam sido queimados. E houveram muitos outros quando ele não confiava em ninguém. Precisava desabafar de alguma forma para não enlouquecer, mas não confiava em ninguém para ouvi-lo até voltar a confiar e queimar todos. Aquele havia sido o primeiro passo para sua real melhora, mas um ficou para trás. O diário dos seus meses sozinho, o diário que os meninos usaram para encontrá-lo. Aquele diário Jungkook nunca queimou e havia trazido consigo. Ele andava com ele naquela mesma data todos os anos, e pela primeira vez o porquê fez sentido em sua cabeça. Olhando de forma travessa para o caderno, ele rasgou a primeira página, deixando que voasse para a água. Talvez as ondas, em algum momento, a trouxessem de volta para a margem, mas ele não se importava e não parou até que tivesse terminado e se livrado de todas as páginas, sentindo-se completamente bem por ter, de fato, terminado.
- Jungkook! – ouviu Yoongi gritar ao longe, e precisou por uma das mãos na testa para poder enxergá-lo lá embaixo. – O que está fazendo?! – perguntou, mas ao invés de responder, tudo o que Jungkook fez foi sorrir ao olhar mais uma vez para o horizonte.
Ele estava se libertando. Finalmente, estava se libertando e ele sabia qual era a última coisa que deveria ser feita para limpar de uma vez a alma depois de todo o mal que havia feito e passado.
Uma brisa acariciou seu rosto, e uma borboleta branca passou por ele, fazendo com que seus olhos se enchessem de lágrimas sem qualquer motivo. Não eram lágrimas de tristeza, era uma mistura de calma e realização. Era a paz que ele havia pedido, a paz que ele implorou tantas vezes para encontrar e, pensando que talvez aquela borboleta fosse um presente de V para dizer que tudo estava bem, Jungkook correu pela plataforma e com um sorriso no rosto, pulou na água, ciente de que nenhum outro mal poderia atingi-lo novamente quando voltasse para a superfície, sentindo-se mais vivo do que jamais havia se sentido.
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Nota da Autora: Se leu até aqui, espero que tenha gostado! Essa fic é um tanto quanto depressiva e cheia de gatilhos, mas confesso que gosto muito de ter escrito.
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I Need U
Fanfiction[COMPLETA - BTS] Apenas uma grande tragédia foi capaz de separá-los. Uma amizade criada em laços de sofrimento, em vidas vividas sempre no limite até não haver mais nenhum. Ninguém esperava que ainda houvesse uma chance, ninguém via salvação em meio...