Capítulo 1- "Ballet"

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*Marjory Rose*

"Marjory!"--ouço a minha exigente mãe a chamar-me. Rolo pela pequena cama abrindo os olhos lentamente. Os lençóis estavam emaranhados devido aos meus sonhos serem muito agitados e as persianas abertas.Espreguiço-me e levanto-me da cama com preguiça.

 "Já desço!"--avisei indo na direção da casa de banho para tomar um duche. Enquanto a água morna caía sobre o meu corpo nu refletia sobre o que fiz nos últimos dezoito anos. Este dia e os próximos resumem-se a todos os outros anos anteriores de esforço e dedicação. Sempre fiz as vontades da minha mãe por sentimentos de culpa, ela teve de desistir de imensos sonhos por estar grávida de mim e sempre me diz isso quando eu me oponho a alguma ideia sua. A minha mãe é mãe solteira e eu sou filha única. Não sou a mais inteligente e mais perspicaz pessoa, porém consegui conquistar muitas coisas ao longo destes anos devido ao esforço.

 Sou persistente e esforçada, talvez isso tenha sido influenciado pela necessidade de mostrar à minha mãe que valeu a pena ela desitir de muitos sonhos por mim. Parece que estou sempre em dívida para com ela.

 Enrolo o meu corpo numa toalha branca limpa e olho-me ao espelho atentamente. Cabelos longos, cílios compridos e volumosos, pestanas bem delineadas, lábios pequenos e face oval.

 "Marjory!"--ouço novamente a voz da minha mãe.

 Rapidamente me seco na toalha e vou em direção ao meu quarto. Visto uma roupa interior de renda branca, uma saia azul clara, uma camisa florida e uns sapato brancos. Salto de dois em dois degraus até chegar à cozinha onde a minha mãe preparava o pequeno almoço.

 "Bom dia, mãe!"--cumprimento sentando-me numa cadeira da cozinha.

 "Bom dia, Marjory.Tens tudo pronto?"--ela inquiriu enquanto colocava algumas torradas na mesa.

 "Sim, mãe, não te preocupes."

 "Eu preferia que fosses para medicina. Dançar não dura para sempre..."--ela olhou-me atentamente barrando manteiga na torrada quente.

 "Mãe, eu sei. Lá por gostares de medicina não quer dizer que eu goste. Eu sempre adorei ballet."

 Ela suspirou e levou a torrada à boca mastigando-a lentamente.

 "Tu és demasiado parecida com o teu pai e isso assusta-me."--ela admitiu bebendo um pouco de néctar de pêssego.

 Baixei os olhos e continuei a comer. Nunca conheci o meu pai na minha vida, mas a minha avó esclarece-me todas as dúvidas ao contrário da minha mãe.

 Sei o nome dele, quantos anos tem agora, como é ele fisicamente e psicologicamente e algum historial do "relacionamento" dele com a minha mãe, tudo isto relatado pela minha avó.

 "Mãe, eu não posso comentar nada sobre ele porque não o conheço."--suspirei frustrada--"E parecias gostar muito dele antes, por isso não me venhas criticar comparando-me com uma pessoa que eu nunca vi na minha vida!"

 "Marjory Rose, cala-te."--ela repreendeu-me--"Vai buscar as tuas coisas antes que eu mude de ideias e não te leve."

 Levantei-me da cadeira sem dizer uma palavra deixando a figura elegante da minha mãe para trás.

 Com algum esforço levei algumas bagagens até ao carro e minutos depois ouvi um soluço. Fui sorrateiramente até ao minúsculo escritório onde a minha mãe empacatova algumas fotografias para eu levar para o meu futuro dormitório.

 Consegui observar de longe a fotografia que ela segurava na mão, era do dia em que eu nasci. Eu, ela e a minha avó dávamos belas risadas ao olhar para aquela fotografia em que eu estava bem rosada e ainda com um pouco de sangue no corpo e a minha mãe olhava para mim como eu fosse algo surreal.

 Ao ver-me ela guardou a fotografia e limpou rapidamente as pequenas lágrimas.

 "Já se passaram dezoito anos..."--ela sorriu ligeiramente abraçando o seu próprio corpo.

 "Mãe, desculpa ter falado de assuntos desagradáveis para ti."--desculpei-me sentindo-me verdadeiramente culpada.

 Ela olhou-me atentamente e depois voltou a sua atenção a uma caixa mais distante e escondida.

 "Marjory, eu errei durante dezoito anos contigo. Mesmo que eu esteja magoada, ele continua a ser teu pai e eu estou disponível para todas as tuas dúvidas."--ela veio na minha direção e envolveu os seus braços à volta do meu tronco--"Tu és muito parecida com ele, és a recordação viva do que aconteceu e por vezes não sei lidar com isso. Nem todos os erros são necessariamente maus. A percepção de erro depende da perspetiva, interpretação, espaço de tempo, experiência de vida e muitos outros fatores."

The Sketch{Harry Styles fanfiction} - EM PAUSAOnde histórias criam vida. Descubra agora