Surprise for the Problem Boy

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Voltando para casa, a pé, sozinho e na chuva, a única pergunta que se passava pela mente de Richard Tozier era:

"De novo?"

Era a terceira vez, terceira vem em que ele tinha que voltar andando para casa, consideravelmente longe. Terceira vez em que voltava com fome porque esperou até ele realmente ter que sair, o que foi muitas horas depois do intervalo.

Essa foi a terceira vez em que seus pais esqueceram de buscá-lo na escola.

Richie estava desapontado, porém não surpreso. Seus pais falaram que não esqueceriam dele dessa vez, mas ele sabia que era mentira. Seus pais sempre diziam que não se repetiria, mas no fim acontecia de novo. O garoto aprendeu a lidar com decepções, cortesia de seus pais que o faziam passar por várias.

A frase "promessa é dívida" nunca teria importância para o Senhor e a Senhora Tozier, que não ligavam em dar expectativas para o filho e depois destruí-las ao ponto de o menino criar um escudo defensor contra tudo que falavam.

Foram várias viagens de trabalho de onde não voltaram a tempo para o aniversário do filho, várias desculpas para não irem nas aulas do dia das mães e dos pais. Para eles, promessa é algo que pode ser quebrado facilmente, é isso só esclarecia ao filho dos Tozier o quanto os pais não se preocupavam com ele. Richard sempre teve os pais ausentes em sua vida. Sim, isso o fazia se sentir culpado, afinal o que tinha nele que fazia os próprios pais não ligarem para o mesmo?

A escola também não era uma escapatória, lá ele não tinha amigos e era atacado por comentários maldosos, como "castor" por conta de seus dentes só um pouquinho maiores que os da maioria. Também era chamado de "trashmouth" por não conseguir controlar sua boca, soltando comentários inadequados em momentos inadequados. Esses eram os apelidos exclusivos que o marcavam na lista dos idiotas, os outros apelidos não eram originais e eram utilizados com vários.

Richard Tozier tinha certeza de que a situação poderia ser melhor. Não, não se os pais tivessem o buscado, isso nunca aconteceria. A questão é que Richie sabia que se pelo menos alguém estivesse com ele, se ele não estivesse sozinho, seria bem mais fácil. Porém outra coisa que era privada da vida de Richie eram amigos. Ninguém queria ficar perto do Tozier idiota.

Esse era o problema, num mundo como esse, onde todos querem te derrubar, sem os pais ou amigos não se tem um lugar para se apoiar e se segurar até o fim. Ele não tinha, era apenas um precipício sem qualquer beirada. Um túnel sem uma luz no fim.

Richie finalmente chegou na porta de casa, pegando a chave no vaso de planta onde a escondiam caso alguém precisasse. Ele entrou e jogou a mochila ao lado da porta, já tirando os seus tênis que faziam um barulho estranho por estarem encharcados.

— Mãe? Pai? — A voz do garoto ecoou pela casa vazia. Richard suspirou. Os pais, como sempre, não estavam em casa.

Richie tirou seus óculos para secá-los. Suas roupas molhadas deixavam uma poça se formando no chão. Logo depois, ele se sentou, no chão mesmo e observou o local vazio. Sempre era assim, e era deprimente. O garoto sentia essa solidão a muito tempo, sendo algo que ele foi obrigado a engolir. Já estava cansado disso, de nunca ter ninguém, de não ter os pais para ajudá-lo ou se preocuparem. De não ter amigos para resgatá-lo desse inferno. Estava cansado.

Sentia que passava por isso porque não merecia devido descanso.

O mesmo estava tão dentro de pensamentos que não se lembrou de um fato: estava chovendo muito, e algumas janelas estavam abertas. Ele se levantou rapidamente quando lembrou do fato e se dirigiu a cozinha, que estava com o chão molhado devido a janela aberta.

— Merda, merda, merda. — Richie reclamou se dirigindo a janela antes que a situação piorasse. — Puta que pariu em.

Ele fechou a janela com tudo, quase a quebrando. Depois, virou de costas e foi pegar um pano no armário para arrumar a bagunça. Não queria mais motivos para ser odiado pelos pais.

A questão é que no momento em que Richard Tozier se virou para enxugar aquela água, ele tomou um susto pois se deparou com um garoto. Ele era mais baixo que o Tozier, moreno com um cabelo arrumadinho e continha uma pochete presa em sua cintura.

Richie soltou um grito fino e com o susto ele deu um pequeno pulo, escorregando na poça de água. O garoto de óculos caiu para trás, batendo seu braço em uma bancada a sua esquerda e conseguindo um pequeno corte junto com uma dor agoniante no momento.

— Fica longe de mim! — Richie disse estendendo o braço mostrando que era para o menino misterioso, que estava com um semblante preocupado, parar de se aproximar. O baixinho parou onde estava. — Quem é você? O que você está fazendo na minha casa?

— Eu sou o Edward Kaspbrak. — O garoto se apresentou. — Mas pode me chamar de Eddie.

Richie até se surpreendeu porque, para alguém que surgiu do nada, o menino estava muito calmo.

— E o que você está fazendo aqui? — Tozier repetiu. — Como você entrou?

— Eu sempre estive aqui Richie.

Richard se desesperou. Como assim "sempre esteve aqui." Era um psicopata? Um stalker?

— Que porra é essa?!

Richie se levantou com cautela e viu que seu braço estava vermelho e um pouco de sangue saía de seu corte.

— Eu vim te ajudar. — Eddie disse e viu o braço do garoto, adquirindo uma expressão preocupada. — Seu braço... me deixe dar uma olhada nele.

— Tá doido que eu vou te deixar olhar meu braço! Eu nem sei quem é você.

— Richie, me deixe te ajudar. — Eddie pediu e se aproximou.

Richard arregalou os olhos.

— Como você sabe meu nome?

Edward mordeu o lábio inferior.

— Eu te disse, estou aqui para te ajudar, é óbvio que eu sei quem você é.

— Me ajudar no que, caralho?!

Eddie se assustou com o palavrão que Richie praticamente gritou e se encolheu. Se não estivesse tão nervoso, confuso e assustado, Tozier teria percebido naquele momento o quanto o Kaspbrak era fofo.

— Você precisa acreditar em mim, okay? Eu sei que parece loucura, mas me enviaram para te ajudar porque sabiam que você precisava de ajuda.

— Então você é como um anjo da guarda? — Richie riu sarcástico e Eddie abaixou a cabeça.

— Não utilizamos mais esse termo, Richie.

Richard Tozier olhou para Edward Kaspbrak chocado. Por algum motivo, sentia que o baixinho na sua frente não estava mentindo, isso porque Richie sabe detectar mentiras muito bem, já que ouviu várias durante os anos já vividos. Ele sentiu uma confiança em Eddie, e é duro ter que confessar, mas, o que Richie sabia da vida? Nada. Isso pode ser verdade. Ele sente que é verdade. Sua mente já bagunçada estava pior ainda.

— Mas que caralhos...

Guardian Angel (Reddie)Onde histórias criam vida. Descubra agora