Hoje completo um ano de liberdade. Mas confesso que ainda tenho terríveis pesadelos referente ao que sofri nas mãos do Loki.
E essa noite não foi diferente.
"— Será que o seu fim será o mesmo, minha cara Alana?
Ele subiu na cama e ficou de joelhos entre as minhas pernas que foram brutalmente afastadas.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto e o pavor tomava conta do meu corpo.
— Mas enquanto não descobrimos isso, vamos deixar essa bocetinha bem fodida.
Só em imaginar a dor que estava por vir eu já comecei a suar frio.
Eu estava completamente destruída por dentro e o filho da puta nem se deu conta.
Ele agarrou as minhas pernas e levantou-as para abrir passagem ao seu enorme pênis, que me invadiu de uma vez e brutamente.
— AHHHHHHHHHHHHHHHH!
Gritei tão alto que achei que a minha garganta arrebentaria.
A dor dessa vez foi tão dilacerante que o frio foi esquecido na mesma hora.
Mas vocês pensam que ele parou?
Ele meteu, meteu e em um determinado momento senti um líquido quente escorrer.
Como ele ainda não havia gozado só podia ser uma coisa: sangue!
O meu rosto estava banhado por lágrimas e eu estava novamente quase caindo na inconsciência.
Só que dessa vez eu sabia que não acordaria. Eu não queria acordar. Eu não queria mais viver.
— Nem pense em desmaiar agora, minha Alana! — Nesse momento levei um tapa no rosto fazendo-me despertar."
Sentei rapidamente na cama e olhei ao redor para ter certeza que estava realmente no meu quarto em Montreal, e não de volta naquela casa, nos domínios de Loki.
Respirei aliviada ao reconhecer cada móvel a minha volta.
Em seguida fechei os olhos a tempo de escorrer mais uma lágrima no meu rosto e afundei a cabeça no travesseiro.
Enquanto eu olhava para o teto fiquei imaginando até quando essas lembranças me assombrariam. Espero que acabem em breve, porque o que mais sinto raiva disso tudo, é que mesmo a quilômetros de distância ele se faz presente.
E o pior é que eu acabo pensando nele ao longo do meu dia.
Pensando nos momentos bons que tivemos, nas palavras ditas e nos carinhos compartilhados. Como a primeira vez em que fizemos amor. Foi como um encontro de almas e até hoje sinto falta daquela conexão arrebatadora, que só de estarmos perto já se manifestava.
Às vezes me pego cometendo um erro básico de quase todos os seres humanos. A droga da palavrinha "se".
"Se" a Tyna não tivesse aprontado tudo aquilo será que estaríamos bem hoje? Ou será que ele realmente tem uma má índole e nada daquilo teria sido evitado?
"Se" eu não tivesse entrado naquele site de relacionamento será que hoje eu estaria bem com alguém?
"Se" eu tivesse ido para a Itália com os meus pais, será hoje eu seria uma mulher feliz?
Mas logo em seguida mais perguntas se formam e um novo "se" aparece.
"Se" eu tivesse ido para a Itália não teria as enormes oportunidades que tive na área profissional e nem convivido com os meus amigos. E sendo sincera, não me imagino longe do David.
"Se" eu não tivesse entrado naquele site não teria vivido momentos mágicos ao lado do Loki. Momentos que jamais serão apagados pelo terror que se formou logo após.
O único "se" que certamente teria funcionado seria no caso da Tyna, pois ninguém teria se machucado e ela certamente não estaria na cadeia hoje.
Mas todo ser humano tem livre arbítrio e esse foi o dela. Infelizmente as suas escolhas afetaram não somente a ela como outras pessoas do seu convívio e eu, que fui a bola da vez.
Mas ficar lamentando não me ajuda em absolutamente nada e detesto ficar agindo como vítima, por mais que tenha sofrido muito.
Só peço a Deus que me livre de uma vez por todas desses pesadelos, assim poderei dar início ao processo de esquecê-lo de uma vez por todas.
Quando parei de divagar e voltei a prestar atenção a minha volta escutei o interfone.
Levantei rapidamente e enquanto eu colocava um roupão por cima da camisola caminhei em direção ao aparelho que fica posicionado ao lado da porta.
— Oi
— Bom dia senhorita Maldonado.
— Bom dia Scott.
— O senhor Carter está aqui na recepção aguardando pela senhorita.
Caracas, esqueci completamente.
— Scott, peça para ele subir por favor, e obrigada.
— Disponha.
Desliguei o interfone, destranquei a porta e corri para o banheiro.
Ele vai me matar se perceber que eu esqueci do compromisso que tínhamos hoje.
Fiz a minha higiene rapidamente e fui para o closet já pegando as primeiras peças de roupa que visualizei.
Eu estava acabando de abotoar a calça jeans quando o David surgiu no meu campo de visão com aquele jeito de bad boy.
— Atrasada criatura? Não vai me dizer que esqueceu...
Uma coisa que eu era péssima era nesse lance de mentir. As pessoas me pegavam no pulo e ainda mais o meu melhor amigo que me conhecia como ninguém.
Suspirei derrotada e fiz uma carinha de cachorrinha abandonada enquanto ele colocava as suas mãos na cintura.
E quando foi abrir a boca para falar, logo o cortei colocando a minha mão na frente para que parasse.
— Em minha defesa eu acabei me distraindo no aconchego da minha cama e...
Vi que a sua cara era de quem não acreditava nenhum pouquinho na minha desculpa esfarrapada.
— Outro pesadelo, né amiga?
Bingo!
Apenas assenti.
— Mas eles estão mais espaçados e logo não virão mais me perturbar.
Dei o meu maior sorriso amarelo.
— Estão espaçados o cassete. Sei perfeitamente que são diários e isso já foi longe demais.
— Como se eu pudesse fazer algo a respeito.
Acabei de me trocar e passei por ele com o meu par de tênis na mão.
— Claro que podemos. Ou melhor, você pode!
— A é, sabichão? E o que seria?
Sentei na cama para calçá-lo.
— Ou você aceita de uma vez e pede ajuda profissional ou ....
Olhei para ele com uma cara de poucos amigos.
— Nem pensar, não vou ficar me expondo para um psicólogo que nunca vi mais gordo.
— Alana....
Não me julguem mal, mas eu realmente não conseguiria em hipótese alguma contar para um completo estranho tudo o que passei.
A única pessoa que eu consegui falar sobre tudo foi com o meu melhor amigo, e mesmo assim me senti constrangida, humilhada e fraca.
— Não David! Qual seria a segunda opção?
A essa altura eu já estava tratando o meu tênis com raiva. Os cadarços que o digam.
— Colocar alguém na sua vida para apagar as más lembranças que o Sr Delícia te proporcionou. Você precisa de romance, querida!
Levantei na mesma hora, indignada.
— Nem pensar! Estou fora desse papo de romance.
— Um ano que você está empacada na vida pessoal e na amorosa.
Entrei novamente no banheiro para passar um brilho nos lábios e prender o cabelo em um rabo de cavalo. De lá eu falei um pouco mais alto para que ele escutasse.
— Estou muito bem com a minha vida pessoal, e quanto a emocional deixei em estado de hibernação eterna. Está muito bem assim.
Depois de alguns segundos em silêncio levei um susto quando ele falou bem no meu ouvido.
— Tem certeza?
— Caracas David, aprendeu a fazer tele transporte?
Claro que o filho da mãe riu.
— Você que anda distraída demais e não me viu entrar.
Ele me virou e segurou nos meus ombros.
— Linda, só pense no que eu te falei. Você precisa encerrar esse ciclo.
Fui falar, mas ele colocou um dedo na minha boca para que eu não o interrompesse.
— Não estou falando para você casar, mas para se dar uma chance.
Ele me virou de frente para o espelho e continuou o seu discurso.
— Já se olhou no espelho? Garota, você arrasa até vestindo calça jeans e tênis, é inteligente e com um coração de ouro que estou para conhecer igual. É um pecado ficar sozinha, abandona as traças.
Ele me virou novamente para que os nossos olhos se encontrassem.
— Não precisa decidir nada agora e muito menos pegar o primeiro bofe que aparecer. Pense com calma. Reflita se não é isso que o seu coração quer. E você sabe amiga: coração perturbado, corpo arrasado.
Assenti com a cabeça. Mas no fundo eu sabia muito bem o que eu não queria.
— Eu agradeço cada palavra e preocupação David, mas ainda não é o momento.
Sai do banheiro e sentei novamente na cama.
— Sei que um ano já se passou, mas... eu estou tentando. Aliás, eu tento todos os dias tirá-lo dos meus pensamentos. Mas esses sonhos me assombram todas as noites, como se fizessem de propósito, como um lembrete de que eu não posso esquecê-lo.
Apoiei os meus cotovelos nos joelhos e segurei a cabeça entre as minhas mãos.
— É uma luta interna que está longe de acabar. De um lado eu sinto uma saudade terrível do Loki, mas quando lembro tudo o que aconteceu... Sinceramente não sei mais o que pensar. Tenho medo que no final eu perceba que cometi uma injustiça terrível. Mas o mesmo medo me toma só em pensar em perdoá-lo e descobrir que ele é realmente aquele monstro. Eu não sobreviveria novamente aquilo tudo, David.
Fiquei olhando o meu amigo enquanto duas solitárias lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Ele agachou bem na minha frente e segurou o meu rosto.
— Hei, hei. Não precisa ficar assim princesa. Desculpa, eu não quis te deixar nesse estado. Pelo contrário, eu quero que você saia desse transe e volte a ser aquela mulher cheia de vida, alegre e segura de si.
— Não tem que se desculpar e pode ter certeza que eu nunca, nunca vou esquecer tudo o que sempre fez e faz por mim.
Enxuguei o meu rosto e segurei nos braços do meu amigo para que levantássemos.
— Agora vamos deixar de papo furado que já estávamos atrasados para o nosso compromisso.
Ele me deu um sorriso sincero e saímos do quarto.
Peguei a minha bolsa, que já estava apoiada em uma mesinha próxima a porta, coloquei o celular dentro e saímos logo em seguida.
Entrei no carro do David, um Peugeot 3008 GT prata, no banco do carona e coloquei a bolsa aos meus pés.
— Apreensiva?
Ele me perguntou assim que colocou o carro em movimento.
— Não diria essa palavra, mas estou ansiosa. Afinal, teremos a oportunidade de conhecer nesse evento o nosso possível novo cliente.
— Possível não meu amor, mas o nosso mais novo cliente, pois tenho certeza que amará o seu projeto.
— Ele pode até gostar, mas terá que escolhê-lo entre todos os outros que também apresentaram uma proposta.
— Sei que você está cismada com ele, mas essa é uma grande oportunidade de expandirmos os nossos horizontes. Precisamos sair da caixinha e começar a atacar as empresas de fora do Canadá.
— Você tem toda razão David e quanto ao meu pressentimento, esquece. É uma bobagem minha. Uma cisma sem precedentes. Afinal, nunca o vi pessoalmente e já estou tirando conclusões precipitadas.
Por um instante ele virou a cabeça para o meu lado e fez a mesma pergunta que eu já me fiz diversas vezes.— Que pressentimento é esse?
— Sinceramente não sei. É só como se algo de ruim fosse acontecer.
— Relaxa gata! Tivemos várias recomendações a respeito dele.
Relaxar? Juro que estou tentando, mas aquele friozinho na barriga sempre surge quando falamos desse possível cliente.
— Eu sei.
Deixei o assunto morrer e virei a minha cabeça em direção a janela e fiquei observando a paisagem até chegarmos ao local do evento.
O percurso foi de aproximadamente quarenta minutos até chegarmos a Île Bizard.
Paramos em frente a uma casa luxuosa que pertencia ao Sr Kalel Scott.
Fiquei sabendo que era uma das suas casas de veraneio, pois ele residia em Nova York. Cidade em que ficava também a matriz de uma de suas empresas.
Além disso, o que mais me surpreendeu em relação a ele foi saber que pertencia à família real.
E a resposta é sim para a pergunta de vocês. Kalel Scott era um príncipe, o segundo na linha de sucessão.
Mas pelo que fiquei sabendo era um título que ele não gostava de usar.
Porque?
Essa história não é minha para contar.
Vocês devem estar se perguntando se esse cara é o mesmo que estou cismada. A resposta é sim.
O que estamos fazendo aqui? Ele convidou todos os possíveis parceiros para um "evento amigável", segundo as suas próprias palavras.
Ele queria analisar a todos de perto, entre comportamento e interação. Aliás, ele é famoso por esse tipo de evento.
Sinto como se estivéssemos fazendo parte de um joguinho para o seu bel prazer, mas afinal quem sou eu para escolher clientes? Ainda estamos crescendo e tenho que admitir que tê-lo como parceiro fará a nossa empresa dar uma bela decolada. Só não vou me sujeitar a qualquer coisa que me faça sentir humilhada ou que diminua a nossa importância como profissionais.
Seja o que Deus quiser.
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Match - Um grande erro 2 (Degustação)
RomancePLÁGIO É CRIME! Lei nº 9.610, de 19/12/1998 Ou você não tem capacidade para criar a sua própria história? Sinopse Alana Maldonado se arriscou ao entrar em um site de relacionamentos e acabou vivenciando o seu maior pesadelo. Ficou cara a cara com o...