Bati na porta, controlando a respiração e clamando a meu coração que se acalmasse.
A porta foi aberta e no mesmo instante, senti minhas pernas tremendo.
- Oi, mãe - Sorri.
- Mãe? - Ela perguntou com uma careta. - Ainda sou sua mãe? Pelo que sei, filhas não ficam um mês inteiro - Aumentou o tom de voz. - sem fazer uma visita às suas mães.
- Lara, por favor, não deixe a menina esperando no frio - Papai chegou e colocou a cabeça sobre o ombro dela, piscando para mim.
Mamãe me analisou durante alguns segundos e baixou um dos braços, liberando minha passagem.
- Obrigada - Sussurrei quando me aproximei do meu pai para beijá-lo.
Caminhei até a sala e me atirei na velha poltrona deixada de herança por minha avó, aquele cantinho era o meu preferido da casa inteira.
Papai sentou no sofá e mamãe apareceu com três garrafas de cerveja. Esse era o sinal de que ela não estava realmente brava comigo, era só o velho drama de Lara Ford.
- Então, como está o trabalho? - Papai perguntou, colocando o braço sobre os ombros dela.
- Tranquilo, sem mais entrevistas com estrelas do rock.
- É uma pena, estávamos pensando em pedir que você trouxesse autógrafos nas próximas vezes - Mamãe respondeu, sorrindo.
Abri a cerveja e tomei o primeiro gole. Fazia tanto tempo que eu não tirava alguns minutos só para apreciar uma boa cerveja, era o tipo de sensação que só esse ambiente familiar me proporcionava.
- Michelle nos ligou hoje pela manhã - Papai anunciou, fazendo com que eu me engasgasse.
- Ah, é? Que ótimo. O que ela disse? - Perguntei.
Os dois trocaram um olhar estranho.
- Disse que você tinha algo para nos contar.
- Bom, - Comecei, brincando com os pés, nervosa - eu tenho um encontro...
- Quem é? - Papai perguntou antes que eu terminasse a frase. - Nós o conhecemos?
- Mais ou menos.
- Uau! Fico feliz por isso, querida, devem fazer, no mínimo, cinco anos que você não se relaciona com alguém - Mamãe comentou.
- Obrigada pela observação, mãe - Soltei uma risada irônica.
- E há quanto tempo vocês se conhecem? - Mais uma pergunta de Bruce Ford.
- Quase dois meses.
- É pouco, acho que não é uma boa ideia - Ele balançou a cabeça e bebeu de sua cerveja.
- Oras, pelo amor de deus, Bruce! Claro que é uma boa ideia, é uma ótima ideia, filha. Onde vocês vão jantar? - Mamãe perguntou.
- Não vamos jantar, vamos passar um final de semana em Sea Cliff¹¹.
- Desculpe! Como é? - Ela empalideceu e sorriso desapareceu. - Você está me dizendo que conheceu um rapaz há menos de dois meses e está cogitando passar um final de semana sozinha com ele em uma vila com menos de seis mil habitantes? Enlouqueceu?
Pisquei, sem reação e sem saber o que dizer. Aquela, com certeza, não era a reação que eu estava esperando. Papai passou a mão sobre a perna dela, em uma tentativa de acalmar sua fúria. Toda relutância que ele demonstrara parecia nunca ter existido perto da indignação da minha mãe.
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Impróprio
RomanceImpróprio adjetivo 1. não recomendável. 2. que sobrevém em má ocasião; inconveniente, inoportuno. 3. agressivo à moral; indecente, indecoroso. "Amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói, e não se sente..." Às vezes é possível ver e sempre é...