A visita

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Veneza, Itália - metade do século XIV
Marco Rossi, 23 anos, nobre

Nunca gostei de bailes, ainda mais enquanto a população está sofrendo com um mal ainda desconhecido, uma doença que ainda não sabem qual é a sua causa, mas que a morte é eminente.

Os nobres da região estão seguindo a vida normalmente, como se os muros de seus castelos pudessem protegê-los. Tolos. A igreja diz que o mal abaterá todos, que é um castigo divino.

Se for assim, esse baile se torna mais inútil, deveríamos estar cuidando de assuntos relevantes e não comemorando o aniversário de 15 anos da minha irmã Charlote Rossi, com essa idade ela já é mais mulher do que menina, nossos pais sabem disso e estão ansioso para apresentar o seu futuro marido.

Minha noiva Katherine Pierre, está ao meu lado esperando a próxima música começar para puxarmos a dança dos anfitriões junto aos meus pais. Eu tive sorte com a minha noiva, ela é linda. A irmã mais velha de três irmãos, ela tem vinte e um anos. Seus cabelos longos, lisos e pretos, é o contraste perfeito com a sua pele branca e olhos verdes.

Além de linda, ela teve uma educação exemplar. Sua família é nobre do sul da França, ela estudou artes em Paris. Eu conheci artistas antes, e imagino que ela não está muito feliz com o futuro casamento. Artistas são livres, gostam de se expressar a sua maneira e não seguindo protocolos. Sua família viu no casamento uma maneira de expandir e solidificar seus negócios na Itália.

O casamento vai acontecer daqui a poucas semanas, por mais que Katherine esteja ocupada com os preparativos, vejo a preocupação em seu olhar.

A música começa a tocar, a pego pela mão e a outra ponho em sua cintura. Com movimentos ensaiados, deslisamos pelo salão seguidos pelos meus pais. Uma parte dos seus cabelos está feito coque, enquanto a outra cai solta por suas costas, ela está mais linda do que de costume. Olhar para ela ainda me deixava extasiado, ela sorria como ninguém, não importava a ocasião.

Enquanto dançávamos eu consegui tirar da cabeça tudo o que me afligia, tudo o que afligia nosso povo.

- O que foi? - ela me perguntou sorrindo.

- Toda vez que ficamos a essa distância, meu coração dispara. - sorrio de volta - Não vejo a hora de me casar com você.

- Pare! Você está parecendo a donzela da relação. - ela gargalha jogando a cabeça para trás enquanto rodopiamos pelo salão.

- Quando você for minha esposa, eu não permitirei esse tipo de aborrecimento. - nossas risadas se misturam, e eu sei que seremos felizes juntos.

- Ela parece apreensiva. - Katherine fala em baixo tom, olhando na direção da Charlote em pé, esperando a música acabar para ela ser apresentada a seu futuro marido.

- Não é todo dia que se conhece o noivo. - suspiro - Ainda me lembro de como fiquei nervoso a te conhecer. Parece que foi a poucas semanas. - falo com um sorriso de canto e fixando o olhar naqueles olhos verdes.

- Mas foi a poucas semanas Marco! - ela sacode a cabeça enquanto sorri.

- Parece que foi a anos, me sinto tão bem ao seu lado. - olho por todo seu rosto com todo o carinho do meu coração - Nossos pais fizeram uma ótima escolha.

- Fizeram sim, eu sou muito grata por você e sua família. - vejo o sorriso sumir aos poucos de seus lábios. Sempre que falamos em família, ela se volta para dentro de si.

Diminuo o ritmo da dança, a minha visão começa a ficar turva, sinto falta de ar e fico ligeiramente tonto. Por 3 segundo não exergo nada, mesmo de olhos abertos. Levanto a cabeça a fim de engolir o bulbo que sinto subir a garganta. Enxergo os lustres.

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