Capítulo 4

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Eu estava esgotada, não admira que tivesse adormecido tão rápido a noite passada. A Sra. Raven já estava de pé. Sentia o cheiro a torradas e café a vir da cozinha, cobri-me com o meu casaco de malha, peguei no telemóvel e fui para ao pé dela.
Sra. Raven: Bom dia!
Eu: Bom dia, nem sei que horas são…
* Desbloqueei o telemóvel, 10h30, 6 mensagens e 14 chamadas não atendidas. *
Sra. Raven: Esse telemóvel não parou de tocar!
Eu: Desculpa!
Sra. Raven: Tens aulas hoje?
Eu: Acho que sim, pus uma torrada à boca e comecei a ver quem me tinha ligado e mandado mensagens.
* 7 chamadas da minha mãe, 4 chamadas do meu pai, 2 do Jake e 1 do Andrew… *
Eu: O Andrew ligou-me às 04h27 … será que se passou alguma coisa?
Sra. Raven: Tens de falar com ele Ali …
* 4 mensagens dos meus pais a perguntar onde estava e para ir para casa, uma do Andrew a dizer que não pode estar comigo mas para eu lhe ligar e uma de uma rapariga da minha turma a dizer que hoje não vamos ter aulas por causa de actividades extra curriculares. *
Eu: Afinal não vou ter aulas, como eu adoro os putos das actividades extra curriculares!
Sra. Raven: Vê se comes mas é, e vê se passas por casa aproveita para tomar um banho e mudar de roupa, não queiras ir ter com o rapaz nesse estado.
Eu: Somos só amigos.
Sra. Raven: Eu não disse o contrário!

A Sra. Raven tinha um jardim na parte de trás da casa, fui sentar-me na cadeira de baloiço a fumar um cigarro e ela foi para a sala ver a novela, porque por mais bom gosto musical que ela tivesse e afins ela também gostava de novelas.
O Andrew pediu-me para me encontrar com ele nos prédios às 19h da noite.
Entretanto a Sra. Raven veio ter comigo e sentou-se na rede colorida pendurada entre duas árvores mesmo à minha frente.
Sra. Raven: Porque é que estás tão em baixo miúda?
Eu: Eu não estou em baixo, sinto-me fraca.
Sra. Raven: Já te vi pior e não te quero ver assim outra vez!
Eu: E não vais ver … espero eu.
Sra. Raven: Já chega de sustos!
Eu: É, já chega de tudo.
Ela acendeu um cigarro.
Sra. Raven: Queres ficar uns dias cá em casa?
Eu: Sim, obrigada!
Sra. Raven: Vai lá buscar as tuas coisas, que isto de andares por aí de fato de treino à dois dias não dá com nada!
Eu: Às 19h vou ter com o Andrew e depois passo por casa para ir buscar as coisas, chego cá à noite.
Sra. Raven: Okay Ali.
Eu: Mas antes de ir tomo banho aqui e troco de roupa em casa.

Fui até minha casa, o carro do meu pai era o único estacionado cá fora. Entrei pela garagem para ninguém me ver. O carro da minha mãe também não estava na garagem, ela deve ter ido passar uns dias fora com a amiga, normal… estava sempre a fugir aos problemas e refugiava-se com a Lisa para se poder vitimizar à vontade sem que ninguém lhe dissesse nada senão concordar com o facto de ela ser o alvo de todos cá em casa, típico.

Antes de ‘fazer as malas’ não pude deixar de passar pelas outras divisões para ver o que é que o meu pai e o Jake estavam a fazer. O meu pai estava no sofá do escritório a beber e o meu irmão tinha adormecido na sala a ver televisão.
Passei-lhe a mão no cabelo, tinha o cabelo tão claro… ele era o oposto a mim em relação a tudo, queria estar mais próxima… mais presente na vida dele, não quero que ele mais tarde me odeie. Eu só quero endireitar a minha vida para depois o poder ajudar a ele. Cobri-o com uma manta e dei-lhe um beijo na bochecha que estava virada para cima. Limpei as lágrimas e subi até ao meu quarto.
Peguei na mala que estava debaixo da minha cama, pus para lá uma dúzia de roupa, roupa interior, dois casacos, dinheiro, o carregador do mp4 e do telemóvel, 1 livro e uma foto minha com o meu irmão.
- Espero que ele um dia me perdoe.
Troquei de roupa, fechei a mala, deixei um bilhete debaixo da almofada do meu irmão e saí pela porta da cozinha.
Eram 18h40. Andei em direcção aos prédios e cheguei lá 10 minutos depois.
O Andy estava sentado num muro cá em baixo.
Mal o vi larguei a mala na estrada e corri para o abraçar, ele envolveu-me nos seus braços e eu comecei a chorar.
Estava tão farta, eram os meus pais, eu, o meu irmão, o Andrew…. Estou cansada disto. Só não quero ter outra depressão. Por mais que tente ser optimista ao pé dos outros, não consigo senti-lo cá dentro.
Andy: Tem calma Ali, vai correr tudo bem… eu estou aqui.
Soube-me tão bem ouvir aquilo, ouvir alguém dizer que estava lá para mim.
Olhei para a cara dele. Apesar de não ser Verão já eram 19h e o céu não estava totalmente escuro ainda assim, só conseguia ver pela luz de um candeeiro de rua que estava atrás de nós.
Eu: O que é que te aconteceu?
Andy: Como assim?
Eu: Tens um corte no lábio, Andy.
Andy: Não é nada.
Não quis falar muito no assunto, só faz pior… ia acabar mal.
Eu: A que horas vais para casa?
Andy: Não vou.
Eu: Onde é que vais dormir?
Andy: Aqui.
Eu: É que nem penses, vens comigo… também não vou para casa durante uns dias.
Fui buscar a mala e puxei-o pela mão… Ele andava arrastado atrás de mim.
Andy: Então onde vamos?
Eu: Para casa de uma amiga.
Andy: Pensava que não te davas com os seres que respiravam por aqui.
Eu: Ela é diferente.
Fomos o resto do caminho calados, sem largarmos as mãos um do outro.

In the EndOnde histórias criam vida. Descubra agora