Capitulo 14 1ª Parte

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Meus amores:

Não era para publicar hoje, mas em jeito de festejo pelo Quando te vi, amor ter chegado às 65 mil leituras, cá fica!

Cada dia estamos mais perto de o nosso italiano regressar de onde nunca deveria ter saido...mas fazer o quê? O homem é teimoso.

Beijos GOrdos na alma

Espero que gostem....

XXX

Saí de casa da Cesca apenas com a minha mochila às costas. Lá dentro apenas a minha carteira, os meus medicamentos, telemóvel e os desenhos que eu tinha feito dela.

O clima estava ameno, o entardecer em Florença sempre foi mágico… acalmou-me quando na minha cabeça ainda estavam os gritos de Cesca a dizer que eu a tinha violado, ou os outros gritos dela quando me viu de mochila às costas a suplicar para eu não ir, a promessa que ela nunca mais iria falar da Lexie, que iria mudar…que tudo iria ficar bem.

Sentia-me sujo…precisava de um banho, de me deitar, de pensar no passo seguinte.

Penso nisto muitas vezes: fazemos planos, construímos sonhos, apostamos as nossas fichas no vermelho, quando as probabilidades nos dizem que deveria ser no preto, mas temos a certeza, aquela certeza que se alicerça num sexto sentido, naquela voz interior que diz “É desta!” e num sopro, naquele ressalto que a bola faz na roda da fortuna, tudo cai no preto e do nada, apenas o nada nos resta.

Eu não tenho nada…neste momento não tenho casa, não tenho um ombro, estes meses afastei-os a todos. Ando, evito o rio…

Devia estar aliviado, devia estar feliz…mas ainda não consigo estar.

Entro num táxi, dou-lhe a morada. Não dou pelo tempo passar, não consigo ter ainda grandes pensamentos, foi num piscar de olhos que chegámos.

Entro no jardim e sento-me no banco de pedra. Foi aqui que terminei pela primeira vez um quadro, não me lembro que idade tinha. A minha avó estava ao meu lado e á medida que eu progredia, ela sorria e incentivava-me. Se ela estivesse comigo neste momento, eu não me sentiria tão perdedor, nem perdido, nem só.

Ela não estava longe, nada longe…a uns dez minutos de carro, mas desde que ela estava no lar de idosos eu nunca a tinha ido ver. Sabia que um dia me iria arrepender, mas vê-la deitada, sendo alimentada por um tubo, apenas me fazia viver o que me esperava, iria-me dar uma pequena luz do que iria ser eu. Portanto eu não fazia visitas e pedia aos deuses secretamente para que ela não estivesse consciente, para que ela não se sentisse abandonada por mim.

Esfreguei as pernas…passei as mãos pelo cabelo…e fui até à porta. Respirei fundo e toquei três vezes, um toque de família.

Oiço os passos demasiado leves, mas consistentes que chegam á porta e ela abre-se.

- Estava à tua espera Giovanni. – Nem um sorriso, um beijo. Vira-me as costas e eu sigo-a. – Sabes o que é estranho Giovanni, não tens uma palavra agradável para dizer a respeito da tua família, mas quando fazes disparates é para aqui que foges.

Entramos na sala e a minha mãe faz sinal para eu me sentar. Sinto-me como uma criança que vai dizer aos pais que foi expulso de uma sala de aula e que o director do colégio quer falar com eles.

- Eu e a Cesca não estamos a dar certo. – Mordo o lábio a preparar-me para a palavra proibida. – Vamos divorciar-nos.

Ela abana a cabeça.

- Não Gio! Tu estás a mentir! Tu queres divorciar-te, ela não.

- Eu não estou feliz mãe! Eu não consigo viver esta mentira que é o meu casamento.

Ela inspira e mantém a postura.

- Giovanni, o teu casamento não é uma mentira. Tiveste centenas de pessoas no teu casamento e mais importante que isso, tiveste Deus. Disseste sim perante os olhos dele.

Esfrego os meus olhos.

- Mãe eu não a amo! – Sinto-me como se tivesse novamente dez anos e dissesse que não gostava de ter aulas de piano. – Posso ficar aqui? Enquanto não arranjo uma solução…o meu apartamento está alugado.

- Giovanni, já olhaste bem para ti? Tu não vives de amor…o amor no teu caso não é importante. O importante é que tens uma alma caridosa, alguém enviado por Deus para te auxiliar…

- Então eu sou um caso de caridade? – Os meus olhos ficam húmidos, já sei para onde isto vai caminhar e desta vez sei que vai ser sem retorno.

- Não só, mas também! Tens essa doença que eu acredito que foram dos teus excessos, do álcool que consumiste, das mulheres com que dormiste…isso é um castigo! Foi a forma que Deus arranjou para te castigar e para me castigar a mim pelos meus pecados.

Não são os castigos divinos que magoam, o que me magoa é eu ser um caso de caridade.

- Não sei se dou gargalhadas ou choro, mãe. Posso ficar ou não? Só mesmo até eu arranjar a solução.

Ela levanta-se, dá uns passos.

- Não Giovanni! Não podes ficar! A solução é fácil, volta para casa, volta para a tua mulher! Esquece essa mulherzinha que conheceste e torna-te um bom marido.

Levanto-me, faço o caminho todo até ela…

- Mãe…eu vou ficar na rua…não deve haver um quarto de hotel disponível nesta cidade, pelo menos um que eu possa pagar.

- Não Giovanni, não vais, tu tens casa, tens uma mulher, não és um pobre desgraçado como te estás a pintar.

- Fodasse! – Grito. – Por uma vez na vida sê a minha mãe. Como é que podes fazer isto?

Ela olha para mim assustada, espantada mas depressa recupera.

- Eu sou tua mãe! Estou a fazer o melhor por ti… - Levanta o dedo. – Não percebo porque tu não és mais como o teu irmão. Não percebo…nós sempre te demos de tudo, uma boa educação, estudaste nos melhores colégio…como é que podes ser tão ingrato…tão rebelde.

- Tu não és mãe…tu és apenas a mulher que abriu as pernas duas vezes para eu existir.

A mão dela levanta, embate na minha cara, sou obrigado a reconhecer que ela tem força. Dói fisicamente e esmaga-me o peito.

- Respeito…eu sou tua mãe.

- Sabes que mais? Sempre pensei que o meu pai é que era a merda cá em casa. Mas olhando para trás, ainda me consigo recordar dele a ajudar-me nos trabalhos de casa, a passar pelo meu quarto para me tapar…e de ti não tenho nenhuma recordação. – Ela franze a testa. – Acho que o único contacto físico entre nós, foi mesmo esta bofetada…aproveita-a mãe, porque esta vai ser a ultima recordação que tu tens de mim…

Passo por ela…

- Vou rezar por ti Giovanni.

- Não mãe…reza por ti! 

Quando te deixei, amor (disponível até 03/05)Onde histórias criam vida. Descubra agora