CAPÍTULO UM: A MALA PESADA

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 —Senhores Passageiros acabamos de pousar, por favor tenham calma ao sair da aeronave, aos que vão fazer conexão sigam em frente até o primeiro corredor a direita. E os que iram pegar as bagagens, por favor seguir ate o final do corredor e descer a escada rolante em direção a esteira A. — comunica aeromoça e a maioria das pessoas levantam ao mesmo tempo para sair, ignorando completamente ela.

Aguardo em meu assento até que tudo esteja mais calmo, levanto, pego minha mala de 10kg rosa neon e vou arrastando saindo do avião.

Que aeroporto grande, puta que pariu. Parece que já estou a horas andando nesse corredor. Já parei duas vezes para perguntar se estava no caminho certo e só me mandaram seguir em frente, que a esteira é depois das escadas rolantes.

Depois de 10 minutos de caminhada com os pés doloridos por causa da sapatilhas novas, que são lindas porem nada confortáveis, eu avisto as escadas.

Aleluia!

Estava quase chorando de alegria e agradecendo ao universo por finalmente ter chegado ao final quando vejo a muvuca que está nas esteiras para pegar as malas, a alegria acaba de se transformar em sofrimento.

Amo viajar, só detesto aeroportos e toda essa bagunça de chegada e partida, isso quando não extraviam suas malas e você tem que usar roupas da sua tia que adora estampas de animais. Não quero nem lembrar dessas férias.

Avisto um carrinho vazio e com os pés doloridos começo a apressar os passos para pegá-lo por que do jeito que isso aqui ta alguém deve querer ele também.

Logo uma garotinha de vestido da barbie passa correndo na minha frente e pega o carrinho.

— Ei! Esse carrinho é meu! — grito para a garota que devia ter uns 7 anos.

—Não é mais! — responde malcriada e me dá a língua, depois corre com o carrinho, a sigo com o olhar e ela para perto de uma mulher negra que devia ser sua mãe, ela sorri para a menina e pega as malas colocando no carrinho.

Droga. Agora terei que procurar outro.

Cogito a ideia de ir falar com a mulher para ensinar boas maneiras a sua filha, mas desisto, isso não é da minha conta. Vou pegar minhas malas e dar o fora daqui.

Estou em São Paulo para o casamento da minha melhor amiga Suzana. Sua noiva, Lucia, finalmente aceitou se casar e agora elas alugaram um hotel fazenda e vão casar nesse final de semana.
Consegui de última hora uma liberação na minha agenda de dentista e cheguei hoje, segunda-feira de Nova Iorque.

Suzana não me perdoaria por perder seu casamento, mas como me mudei só a um ano pra lá ainda estou fazendo meu nome, não podia sair para uma viagem de uma semana. Por um acaso do destino o prédio em que trabalho está entrando em manutenção essa semana. Já tinha sido avisado a meses dessa obra, só que com tantas preocupações acabei esquecendo.

Sorte que comprei as passagens em uma promoção relâmpago do site e paguei só metade do preço. Tudo estava dando certo.

Avisto minha mala rosa neon na esteira A e ando o mais rápido que posso para pegá-la e quando estou alcançado um cara alto entra na minha frente e pega a minha mala!

—Essa mala é minha! — informo ao homem.

—Não, essa mala é minha, veja está com lantejoulas verdes. — ele vira a mala e mostrar as lantejoulas. Suspiro cansada e peço desculpas. O cara vai resmungando de como as pessoas deviam ter mais atenção as coisas.

Nem dou atenção, e contínuo esperando minha mala aparecer. Passa alguns minutos e nada dela.

Por favor universo, que minha mala não tenha sido extraviada de novo!

Mais alguns minutos e resolvo ir na esteira B para ver se não mandaram ela para a esteira errada, do jeito que sou sortuda isso pode ter acontecido.

Quando vejo minha mala está la, ao lado de uma preta. As duas sozinhas na estreia.

Espero a bagagem dá a volta para pegar e quando coloco a mão na alça sou levada junto com a mala por não ter força suficiente para puxar-lha. Cacete, por trouxe tanta coisa?

Ouço algumas risadas e xingo todos mentalmente. Tento puxar a mala, mas quem disse que ela vem? Solto, paro e coloco a bolsa que estava no meu ombro direito em cima da minha mala de mão.

Agora eu consigo!

Jogo meu cabelo castanho e enrolado para trás e caminho a passos firmes na direção da esteira.

Espero a mala chegar de novo e puxo com as duas mãos.

Péssima ideia.

A mala engata na esteira e eu caio de bunda no chão.

Eu não consigo.

Ouço mais risadas e levanto o dedo do meio para cima.

Quando estou me preparando para levantar sinto alguém se aproximar, olho na direção e vejo um cara de regata branca, bermuda verde e tênis se abaixar ao meu lado colocando as mãos na minha costa me ajudando a sair do chão.

Aceito sua ajuda e o encaro. Fico de queixo caído de como ele é gato. Ele tem uma barba rala e olhos cor de avelãs tão lindos. Sou apaixonada por pessoas com olhos com uma cor clara, são tão raras.

—Você está bem moça? Se machucou? — ele pergunta e alguma chave vira na minha cabeça, eu conheço essa voz. Ela e grossa, mas ainda familiar. — Moça?

—Desculpe. — balanço a cabeça — Estou bem sim, e só mala que está pesada demais e não consigo tirar da esteira. Braços fracos. — levanto meus braços pequenos e os mostro, termino minha lamentação com uma risada amarga.

Ele me observa por um tempo como se procurasse algo, olho de volta então nega com a cabeça e propõe:

— Posso pegar para você se quiser, e a rosa? — se distancia e aponta para a mala encrenqueira. Afirmo positivamente observando como os músculos do seu braço se contraem quando a pega e coloca no chão. — Caralho, ta mesmo pesada. Tem pedra aqui? — brinca e sorri de lado, e eu só consigo pensar como seu sorriso e bonito.

Acho que essa história de amores em aeroportos vai acontecer comigo.

—São algumas roupas, sapatos, maquiagens e alguns acessórios que toda mulher precisa.

—Claro, imagino que tudo que tem aqui você precisa muito. — diz irônico trazendo a mala até mim. — Aqui está, de nada.

—Eu ja ia agradecer. — replico parando de ficar encarando ele.

Devo está parecendo uma louca.

—Isso antes ou depois de parar de babar por mim? — dá o sorriso de lado e eu perco o ar, meu coração bate acelerado e eu não sei como responder sua provocação. Fico envergonhada e resolvo sair o mais rápido dessa situação constrangedora.

—Não estou babando por você, agradeço pela ajuda, agora vou indo.

Pego as malas e saiu andando apressada mancando em direção ao portão de desembarque, ouço ele rir e falar algo que não entendo e nem quero. Chega de passar vergonha por hoje.

NOSSA VEZ (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora