CAPÍTULO NOVE: PASSADO (PARTE 1)

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2006 (16 ANOS ATRÁS)

Eu e minha mãe tínhamos acabado de ver a sala onde eu farei o 4° ano, e agora estávamos caminhando para ao refeitório, quando do meu lado passou uma menina sorridente de cabelos castanhos longos em ondas que me lembrou do mar.

Não consegui parar de olhar para ela, seu cabelo era tão lindo e o sorriso também. A menina me olhou de volta e fez tchau com a mão acenei de volta e depois fui embora para a minha casa.

Na primeira semana de aula não encontrei a menina na escola.

Fiquei triste, queria ser amiga dela.

2007 (15 ANOS ATRÁS)

É de costume ir ver a sala que estudaríamos no ano, eu, mamãe e vovó estávamos na nova escola onde faria o 5° ano. Como é época de muita chuva em Manaus, o forro da minha sala desabou uma parte então só começaríamos as aulas na semana seguinte.

Estou chateada!

Quero logo começar a estudar.

Estávamos saindo da escola quando mamãe encontrou uma amiga e ela junto com a vovó começaram a conversar.

Olhei em volta procurando algum amigo da escola do ano passado, mas não seria fácil, porque eu estudava de manhã e agora passei para tarde por ter mais vagas no outro turno.

E um momento eu vi aquele cabelo castanho ondulado que não consegui esquecer, fiquei me perguntando se era a mesma menina, ate ela virar de frete para mim e eu ver o sorriso dela novamente.

Estou surpresa de encontrá-la de novo dessa vez vou falar com ela e perguntar seu nome e que ano ira fazer.

—Mãe! — chamo minha mãe e ela para de conversar e me olha — Posso ir ali com aquela menina? acho que conheço ela. — aponto na direção da garota, mamãe ver ela e então acena com a cabeça soltando a minha mão.

—Não vá longe Mariane! — mamãe manda e depois volta para a sua conversa.

Minhas mãos começaram a suar e o meu estômago deu uma revirada enquanto caminho na direção em que ela ta. Estou ansiosa por finalmente falar com a menina e nem sei porque. Eu só acho cabelo dela bonito, diferente do meu que tenho sempre que manter preso por seu um loiro ressecado e com cachos feios. Passo a mão pela mecha que se soltou de trás da minha orelha e coloco ela de volta no seu lugar, enxugo as mãos na calça e então falo com ela quando paro do seu lado.

— Oi, meu nome é Mariane. Eu também estudava do Djalma Passos ano passado e já te vi por la. — Me apresento com o melhor sorriso que tenho.

—Oi meu nome é Jenifer, não me lembro você, mas em que sala tu tá? — Diz sorrindo, meu sorriso diminui e fico um pouco triste que ela não lembra de mim, mas resolvo não dá bola para isso.

—5° ano 1, sala 5 e você? — responde perguntando.

—Eu também! — Ela diz sorridente o meu volta a crescer. — podemos sentar juntas na semana que vem.

Sua voz também é bonita, um pouco grossa, mas não como de um homem e sim como de uma mulher adulta, é gostosa de se ouvir. Nunca tinha escutado uma voz assim antes em um colega da minha idade.

—Claro! Vai ser legal ja ter uma nova amiga. — digo empolgada.

—JENIFER, VAMOS! — Uma mulher atrás de mim chama por ela.

—JÁ VOU! —ela grita de volta. — E a minha mãe, tenho que ir, até semana que vem Mariane. — Jenifer se despede dando tchau e eu aceno de volta.

— Ate semana que vem.

Acompanho com o olhar ela sair do refeitório e passar para a secretaria que dá para o portão de saída da escola.

Na semana de volta as aulas, agora pra valer, eu e Jenifer sentamos juntas e descobri também que a Ana, uma menina negra de cabelo preto e olhos bem redondos com quem eu brinco na rua de casa e é minha vizinha, estuda na mesma sala que a gente então chamei ela para sentar conosco.

Com o passar das aulas naquele dia, percebi que as duas não estavam se dando muito bem e nem conversando. Ana só falava comigo e respondia com poucas palavras a Jenifer quando ela tentava puxar assunto.

Isso aconteceu o resto da semana também, mas eu não dei tanta importância.

Jenifer e eu conversávamos bastante, tanto que ate um dia levamos bronca de um professor.

Ela me disse que não era brasileira e sim americana, mas que falava bem o português porque seu pai é brasileiro e eles tinham se mudado fazia dois anos pra Manaus para ficar mais perto da família dele e por causa de seu novo emprego com seu irmão em um supermercado deles.

Achei muito dahora a história dela então contei a minha, que meu pai era de Manaus também e minha mãe e eu eramos paulistas, nós mudamos em 2002 quando eu tinha 5 anos. Papai me queria perto e meus pais não são casados porém minha mãe não quis mais ficar em São Paulo então viemos para cá junto com minha vó. Mamãe trabalha em prótese dentaria e tem um comércio perto da nossa casa.

Com o passar do tempo nossa amizade foi crescendo, começamos a frequentar uma a casa da outra, ela vinha mais na minha do que eu na dela, e sempre que eu ia la seu pai não estava por ser muito ocupado trabalhando.

Fizemos outros amigos na sala e ate brigamos uma vez por que ela começou a ser amiga da Luciana, uma menina chata que se acha melhor que os outros e fala sempre o que pensa. Nesse dia em que brigamos a Jenifer chorou e disse que gostava muito da minha amizade e não queria acabar com ela, mas que eu precisava entender que ela também gostava muito da Luciana e ela era legal e eu podia tentar ser amiga dela.

NUNCA!

Luciana é insuportável.

Mas pela minha amizade com ela acabei aceitando e tentando me aproximar dela e "conhecer ela melhor", como a Jenifer pediu.

O 5° ano acabou e todos nós fomos passamos para o seguinte.

E no dia 18 de dezembro eu chamei as minhas amigas da escola, inclusive a Luciana que não pode ir, felizmente, para minha festa de aniversario com o tema de High School Musical.

Naquela tarde brincamos muito de cantar e ser os personagens do filme. Depois que o filme acabou pela segunda vez seguida nós, eu Jenifer, Ana, Adila irmã da Ana e a Anny outra amiga da escola, começamos a falar dos meninos que achávamos mais bonitinhos da sala. No momento em que eu disse que achava o Junior um gatinho, ele era um menino negro de olhos castanhos bem claros e de rosto lindo, percebi que a Jenifer fechou a cara e ate o final da festa não sorriu mais e foi embora bem rápido quando a mãe dela veio buscá-la.

Sem se despedir de mim.

As férias passaram e eu a Jenifer não conseguimos mais nos ver porque eu fui passar um tempo na casa do meu pai.

2008 (14 ANOS ATRÁS)

No 6° ano continuamos com a turma apenas trocamos de sala e poucos colegas novos chegaram.

O que aconteceu no meu aniversario de 10 anos em 2007 nem foi falado entre eu e a Jenifer.

O começo do ano foi tranquilo, ainda falava apenas o necessário com a Luciana para ficar de bem com a minha melhor amiga e a Ana nem fazia mais questão e esconder que não gostava da Jenifer. Ela fez amizade com uma das meninas novas, Fabíola, e parou de falar muito ate mesmo comigo.

Mas como eu tinha a Jenifer, não fiz muita falta a Amizade da Ana.

Gosto muito mais de falar com a Jenifer, ela era uma palhaça e sempre me fazia rir, estava sempre com um sorrisão no rosto e era muito confiável. Eu sabia que se contasse um segredo para ela estaria segura. Amo muito nossa amizade.

Jenifer é magra, porém ela sempre vestia roupas maiores e naquele ano quando nossos seios começaram a crescer ela me ligou chorando com raiva disso, eu dei risada e achei que ela não queria ser notada. Diferente dela, eu sempre fui mais gordinha e agora tinha um dos maiores peitos da minha turma e isso me deixava um pouco envergonhada, mas eu gostava deles.

Mesmo assim na dia seguinte de aula percebi ela mais triste, como Jenifer sorria muito, era fácil perceber quando minha amiga não estava bem. Perguntei o que aconteceu, e ela respondeu que era apenas sono do final de semana.

Eu ja estava notando que o relacionamento dos pais dela não ia bem, e que eles discutiam muito. acho que isso estava começando a afetar ela.

No terceiro bimestre tivemos nossa primeira briga feia por ela ter cancelado nossa tarde filmes para ir na casa da Luciana fazer um trabalho da escola. Tudo bem que era trabalho, mas pelo menos, uma vez por mês fazíamos isso e esse trabalhos ainda faltava muito tempo para a entrega

E principalmente por ela ter preferido fazer o trabalho com a Luciana do que comigo que sou sua melhor amiga.

Ela tentou falar comigo na hora da entrada da escola, só que eu a evitei e na aula sentei do lado da Anny que senta na frente por não enxergar muito bem, eu sentava com a Jenifer quase no fundão.

Senti que seu olhar em mim os trés primeiros tempos de aula, mas não me preocupei.

Na hora do inervá-lo Jenifer veio falar comigo enquanto eu caminhava pela escola com a Anny.

—Você vai me evitar ate quando Mariane? — perguntou parando na minha frente impedindo minha passagem.

Respirei fundo controlando minha raiva e responde:

—Não entente o que quer dizer, não é Luciana sua melhor amiga?

—Tu sabe que vocês duas são e...— a interrompi.

—E tu sabe que não gosto disso, você é a minha única MELHOR amiga então eu tenho que ser sua única também. — Anny se afastou um pouco e eu olhei para ela — Onde vai?

—Acho melhor vocês conversarem sozinhas. — Anny disse e a puxei de volta para meu lado, preciso de alguém para ser testemunha de como a Jenifer não valoriza minha amizade.

—Você fica, é minha MELHOR amiga agora, já que você — olhei para a Jenifer — pode ter VARIAS melhores amigas eu também posso.

Jenifer teve a ousadia de bufar revirar os olhos.

—Isso não tem nada a ver com ter várias amigas Mariane, eu gosto da sua amizade assim como gosto da amizade da Luciana. Vocês tem gostos tão parecidos que não sei como não se dão bem e eu precisava fazer esse trabalho, por favor vamos parar com essa briga boba.

Minha raiva já estava a todo vapor, mas deu uma freada quando ela disse que isso não passava de uma bobagem.

—Se tu não consegue perceber como isso me machuca e acha uma bobagem, acho que não precisamos mais ser amigas. — comecei a segurar as lágrimas que queriam vir.

Jenifer deu um passo para trás e diferente mim, duas lágrimas desceram pelos seus olhos. Ela nunca foi muito boa em segurar suas emoções.

—Por que ta fazendo isso? Eu só fiz um trabalho com a Luciana enquanto todos os outros sempre faço sempre contigo. Tu sabe que eu te amo muito e não quero terminar nossa amizade, poxa tenta entender que tive que cancelar nosso dia e filmes por que depois ela não poderia mais fazer o trabalho.

—Você que escolheu fazer o trabalho com ela, tinha que ter visto antes se ela teria tempo porque no final eu que fui esquecida.

—Mas eu te avisei com antecedência.

—Eu lembro, lembro também de falar para você repensar se queria mesmo isso. Mas agora isso não importa mais, você não tem que se preocupar com o dia do filme e nem com mais nada. — Jenifer tentou se aproximar só que eu me afastei — Não!

A campainha para o fim do intervalo tocou e me virei e comecei a andar de volta para sala com a Anny ao meu lado calada.

Uma lágrima fugitiva desceu pelo meu rosto e eu tratei logo de limpar, não daria o gosto para a Luciana de me ver chorando.

Quando cheguei em casa, me tranquei no meu quarto e fui para o banheiro. No banho as lagrimas quentes se misturaram com a água fria enquanto eu chorava em silêncio sentindo meu coração bater mais forte com a visão de um futuro sem a amizade da Jenifer.

Em outro ponto minha raiva pela Luciana só crescia, ainda faria essa garota pagar por ter tirado a Jenifer de mim.

Depois daquele dia a minha melhor amiga veio outras vezes atrás de mim, mas eu ainda estava muito magoada e a evitei.

Anny me contava que a Jenifer ligava todo dia para ela pra saber como eu estava e se falava sobre ela e que estava com saudades de mim.

Confesso que gosto de saber que ela está sofrendo por uma coisa que foi totalmente culpa dela.

Hoje era segunda-feira e acabamos de entrar no quarto bimestre.

Estava calma por ter feito as contas e saber que precisava menos que a nota media para passar de ano nas matérias então estava tudo numa boa.

Até eu ouvir a Luciana se gabando que não precisava mais de nota e que já estava passada de ano. Eu e ela eramos as meninas mais inteligentes da sala e sempre competimos nos bimestres para ver quem tinha as notas mais altas.

Isso foi o que eu precisava para começar a discutir com ela e dizer que ninguém era obrigado a ficar ouvindo sua voz irritante e ainda mais se gabando sobre os outros. Ela me chamou de recalcada e burra com aquele sorrisinho debochado dela que me deixava puta e com isso eu partir para cima dela.

A minha raiva já estava sendo guardada a tempos, e nós sempre discutíamos assim, mas a Jenifer nos impedia de nos estapearmos, coisa que era muito fácil de acontecer porque eu nunca fugia de uma briga e ela também não. Então sempre gritávamos e chamávamos uma a outra para a briga porém pela Jenifer não íamos.

Hoje será diferente.


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