Capítulo 14

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Fechei meus olhos na tentativa de entender o motivo que estávamos todos ali, eu nunca mais tinha visto o homem do lago desde aquela eliminação, o que ele estava fazendo aqui?

-Altezas. -Ele disse se reverênciando. -Fico feliz em saber que a princesa não tem se metido em outras confusões. -Disse fazendo todos na sala ficarem sem entender sobre o que ele falava, será que ele se referia sobre o acidente do lago?

-Deveria ficar feliz em saber que sobrevivi mesmo depois de você me deixar para morrer.

-Vocês se conhecem? - Julian perguntou assim que eu terminei de falar.

-Isso é possível, Claudio? - Meu pai perguntou.

-Claro que não, majestade. - Ele respondeu com um certo medo em sua fala.-Vamos dar início a essa reunião, tenho que voltar ao RF ainda hoje.

-O que é RF? - perguntei

-Não sabe?-Perguntou para mim, estava surpreso com minha pergunta. -Pensei que já tinha contado.-Ele se virou para meu pai.

-A coroação foi hoje, adiantamos o máximo possível. - Minha mãe disse, ela estava sentada segurando uma pasta.

-Tudo bem, adoro ouvir a história. -O homem do rio que atende pelo nome Claudio disse sentando na mesa redonda onde minha mãe também estava.

-Que história? -Julian perguntou

-Vocês serão os futuros reis, vão ter a missão mais difícil de liderar o povo e manter a paz. Temos conseguido manter nosso reino intacto em meio a todos esses anos, mas nem sempre foi assim. -Meu pai parou por um tempo deu uma respirada profunda como se buscasse as palavras para o que estava por vir e então continuou a falar -Há quase 100 anos vivíamos em uma época de guerra, vocês sabem até aqui, mas o que vem a seguir é restrito apenas a família real.

"Nesse momento eu olhei para Julian que parecia intrigado com o que estava acontecendo, respirei fundo com as palavras de meu pai"

Ele continuou -A população havia crescido absurdamente e o mundo daquela época não tinha se preparado para mais de 500 bilhões de pessoas. As pessoas roubavam sem se importar com o outro e então logo a fome e a falta de água chegaram e a violência dobrou além do normal para aquela época, muitos morriam e matavam por um pedaço de pão mofado. Países entraram em guerra para ter um pouco de comida e então os grandes políticos da época liberaram gases tóxicos para enfim por um fim a essa guerra que já durava mais de 15 anos. Fomos selecionados, exclusivos e escolhidos para dar continuidade a nossa nação. Um professor e uma governante reiniciaram a política, uma nova era foi constituída, de volta a monarquia, nossas leis e tradições foram criadas por eles. Nós só seguimos.

-O que? -As palavras sairam com o impacto do que havia acabado de ouvir.

-Bem vinda a Contemporânea Era Medieval -Claudio disse levantando de onde estava e aplaudindo como se tivesse acabado de ouvir uma apresentação.

-Porque não contam isso? - Perguntei incrédula, eu sabia que existiam segredos mas isso era demais para mim.

Minha mãe se levantou e foi caminhando até nós com uma pasta nas mãos, quando se aproximou pegou uma caderneta que estava desgastada pelo tempo que eu nunca tinha visto.

-Julian, leia por favor.-Ela disse entregando a caderneta para ele.

As folhas estavam amareladas e as pontas estavam rasgadas, a caligrafia estava clara, aquelas palavras foram escritas a muito tempo, o conteúdo que estava ali me deixou curiosa e preocupada.
Ele começou a ler o que pareciam ser cartas ou relatos de um diário.

-"Escrito por Deodoro em tempos de paz pós luta e guerra. Por um fim a um incêndio é até fácil, o mais complicado é fazer o fogo não se acender novamente.Conseguimos apaziguar a guerra para onde moramos, mas em algum momento podemos ser encontrados, subimos um muro para nos proteger do lado de fora, mas o perigo vive dentro dos muros. Os sobreviventes são em grande parte fáceis de lidar, mas sempre tem os rebeldes que tendem a discordar, não foi diferente com a gente. Convoquei uma reunião com Vanubia Valles a antiga presidente durante a guerra, hoje minha esposa. Em meio a tantas hipóteses a mais sensata seria voltar a monarquia, levamos essa e outras novidades ao povo, inclusive as regras. Foi difícil ver alguns da nossa pequena população morrer por rebeldia, mas certas atitudes precisam ser impostas para serem respeitadas. Perdemos 30, ganhamos 170."

-Chega! -Disse.

Julian não conseguiu tirar os olhos daquela caderneta, mas havia parado de ler.

-Isso é horrível! - Disse olhando para meus pais e Claudio. -O povo tem direito de saber a história do reino, A VERDADEIRA HISTÓRIA. -Enfatizei o final, ainda estava assustada com a descoberta.

-Não dá! -Julian respondeu em voz baixa, ele parecia em transe com o que estava acontecendo.

Me virei assim que ele disse isso.

-O que? Não acha que o povo merece saber o que aconteceu, acha justo eles viverem com uma mentira? -Estava indignada com tudo isso.

-Não se cria uma guerra se não se sabe sobre dela. -Ele respondeu me olhando profundamente nos olhos.

Eu procurei palavras para expor o que estava sentindo, mas não achei nada perto da mistura e confusão que estava dentro de mim.

-Essa caderneta tem os relatos de todos os antigos líderes, vocês podem ler para saber a história, é importante que saibam de tudo agora.-Minha mãe respondeu.

-Existe também os livros com as regras, também precisam ler para saberem lidar com o povo e agir da melhor forma possível. -Meu pai estendeu o braço que segurava um livro que também parecia ser bem antigo.

-Melhor forma?-Perguntei -Você mentiu, você matou!

-Eu fiz o que foi necessário para salvar você. - Ele respondeu  aproximando sua mão em meu braço.

-Não me toca! -Disse tirando sua mão.  - Eu estava segura, eu tinha alguém para confiar, ele não mentia pra mim... e você tirou tudo dele.

-Filha, essa não é a atitude que uma futura rainha deve ter.-Minha mãe disse.

-Que se dane o comportamento que tenho que ter. Tudo aqui é uma mentira. Ele não é o rei bondoso que todos pensam, muito menos um pai cuidador que passa a imagem ao povo. Ele é um monstro sem coração que tirou a vida de todos por discordarem dele.-Apontei para meu pai durante as acusações que fazia.

-Eu não fiz isso.-Ele respondeu

-Não com suas mãos, mas ordenou! Assim como ordenou que matassem a esposa do homem que um dia foi teu amigo, roubou a filha dele... ele não viu a própria filha crescer! -As lágrimas começaram a descer, eu sentia tanta falta de seu Arnaldo. Tudo o que eu acabara de ouvir me fazia lembrar das vezes que ele dizia que "um dia saberia de tudo", será que era sobre isso que ele se referia?-Como teve coragem? Se ser herdeira do trono é ter que tomar o mesmo rumo que o de vocês eu não quero isso.

-Você não tem escolha, princesa. - Claudio disse

-E você? Se essa história é restrita a família real por qual motivo você está aqui? Vai dizer que é meu irmão?

Ele riu, deu uma gargalhada que me fez sentir constrangida com o que tinha falado.

-Sou o coordenador de um RF, princesa.

-Não acho válido contar sobre isso agora, eles já tem muito pra assimilar. - Minha mãe disse para Claudio que voltou a sentar.

-Chega de omissão, eu quero saber o que é isso.

-Refúgios. -Meu pai finalmente disse.

-Teve sobreviventes? - Julian perguntou. Tinha até me esquecido que ele também estava na sala.

-Leia estudante! - Claudio disse ironicamente.

Voltei a olhar para Julian e para a caderneta em suas mãos.

-Quantos sobreviventes? - Perguntei

-Não sabemos.-Claudio disse -Alguns vivem as custas do reino, por isso estou aqui.

-E aquele dia na floresta?

Nova Era [Completo] -Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora