Capítulo 1

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POV Nathan

- Mãe? - chamei entrando em seu quarto, meu pai estava lá embaixo vendo tv com Clarisse - Por que está chorando?

- Nada, filho - a olhei com descrença - eu sabia que um dia você iria embora, mas não imaginei que fosse doer tanto.

- Mãe, eu vou para Espanha, é aqui do lado, você pode ir me visitar sempre que quiser.

- Eu sei, mas vou sentir sua falta, por que não podia trabalhar aqui?

- Você sabe que meu sonho sempre foi cobrir la liga, eu estudei jornalismo por isso, é o meu projeto de vida.

- Ok, não vou mais reclamar - ela beijou minha bochecha - O que você queria? Certamente não veio atrás de mim para ouvir meus dramas.

- Não fala assim, mãe - eu não sabia como falar com ela sobre o queria saber - A gente pode conversar sobre tudo?

Ela começou a me olhar como se lesse minha alma.

- Você não vai ter um filho, não é?

- Não, mãe, claro que não - falei assustado - Pelo menos, eu acho que não.

- Nathan - ela me deu um tapa no ombro - Pode falar!

- Eu amo meu pai, mãe, amo mesmo - percebi minha mãe ficando tensa, o que me fez imaginar que ela sabia onde eu iria chegar - Mas eu queria saber, eu mereço saber, quem é meu pai biológico?

- Nathan, por que você não pode simplesmente aceitar que Roman é seu pai?

- Eu não vim dele, mãe - meu pai entrou no quarto nesse momento.

- E isso faz com que eu seja menos seu pai? - ele estava magoado, eu via isso em seus olhos.

- Não, pai, eu só quero saber de onde eu vim.

Minha mãe olhou para meu pai com dor estampada no rosto, ele se sentou ao lado dela e a abraçou com carinho, como ele sempre faz quando algo ruim acontece, como quando o vovô Carlos morreu de infarto no ano passado.

- Nathan, você tem certeza que quer saber? Não é uma história boa, filho, é ruim e triste.

Senti meu corpo ficar tenso e os pêlos da minha nuca se arrepiarem em expectativa.

Eu olhei para meu pai antes de confirmar e ele evitou olhar em meus olhos.

- Eu quero!

- Nathan, quando eu tinha dezesseis anos, eu fui a uma festa, bebi um pouco além da conta e saí para respirar melhor, lá fora um homem, que eu não me lembro do rosto, me arrastou para um beco - agora eu não queria mais saber, minha mãe não podia ter passado por isso - ele me estuprou, filho.

- Por que você não me abortou? - perguntei em choque.

- Porque não seria certo te fazer pagar com a vida pelo crime de outra pessoa e, aos poucos, eu fui me apaixonando pela ideia de ser sua mãe. Você é minha dádiva divina, um presente para eu superar aquele dia.

Minha cabeça estava a mil, eu me sentia mal fazer minha mãe reviver isso, mas talvez, só minha presença faça com que ela reviva esse inferno todos os dias.

- Deve ser horrível olhar para o filho de um estuprador todos os dias - me levantei da cama e saí do quarto deles, ouvindo eles me chamando.

- Onde você vai? - Clarisse perguntou.

- Sair - falei pegando o capacete.

- Irritado assim? - ignorei ela e fui para a garagem, quando estava indo sair com a moto ela chegou, já com o capacete na cabeça - Eu vou com você!

- Eu quero ficar sozinho, Clar - ela me ignorou e montou na garupa na moto, Clarisse sabia que eu não iria ser imprudente com ela agarrada a minha cintura.

Parei no parque de Dortmund e desci sem olhar para Clarisse.

- Fala comigo - ela pediu, se sentando ao meu lado e tocando meu braço - Eu sei que aconteceu alguma coisa, você vai embora amanhã, não pode fazer isso sem se abrir comigo.

Respirei fundo antes de falar.

- Você sabe que o papai não é meu pai - ela assentiu de leve - A mamãe me contou de onde eu vim - senti meu olhos se encherem de lágrimas.

- Respira e me conta - as vezes parecia que Clarisse era a irmã mais velha e não que era oito anos mais nova.

- Ela foi estuprada, Clar - minha irmã arfou - Eu sou fruto de estupro, eu faço a mamãe reviver isso todos os dias! Como ela consegue me amar? Eu destruí a vida dela, sou filho de um monstro.

- Não fala assim, você pode não ter vindo do papai, mas ainda assim é filho dele e a mamãe te ama, Nathan, mais que tudo no mundo, você não faz ela reviver um pesadelo, você foi a única coisa boa que ela tirou disso.

- Você não entende, Clarisse, foi fruto de um amor genuíno como o de nossos pais, eu não!

- Você é tão fruto desse amor quanto eu, você sempre foi tudo para eles, Nathan, não haja como se eles não te amassem pela forma que você veio parar nas nossas vidas.

Clarisse tinha razão, eu estava sendo injusto com eles, me levantei, abracei minha irmã e voltamos para casa. Quando cheguei, fui direto ao quarto de meus pais, papai estava olhando para o nada, com os olhos meio vermelhos e mamãe dormia em seu colo, com o rosto inchado.

- Filho - meu pai falou assim que meu viu passar pela porta.

- Eu te amo, amo muito - abracei ele e me deitei ao lado da minha mãe, abraçando seu corpo e a acordando delicadamente - Me perdoa por ter sido injusto? Eu te amo e não quero ir embora com esse clima entre nós, eu só não soube lidar com o que você me contou e...fiquei perdido!

- Nunca duvide de nosso amor por você, Nathan - ela disse, tocando meu rosto - Eu poderia ter desistido, mas eu escolhi ser sua mãe, você é tudo para mim.

- Valeu ai, hein, mãe - Clarisse disse, rindo, na porta do quarto.

- Vem cá sua pirralha nojenta - puxei-a para a cama e meu pai fez cosquinha em nós dois.

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