Agente

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Haviamos passado a noite na delegacia prestando depoimento. Decidirmos ir pra casa na esperança de que tudo voltasse ao normal.

Meu vestido tinha respingos de sangue. Minhas unhas estavam sujas e eu estava exausta. Precisava dormir e esquecer toda aquela loucura. Tomei banho e fui pra cama, desejando acordar uma semana depois.

-Filha. Acorde. Precisamos conversar.- Meu pai me chamou. Agora estava escuro, eu devo ter dormido o dia inteiro. Me levantei lentamente e fui até a sala. Meus pais estavam sentados um ao lado do outro, seus semblantes mostravam preocupação mas eles pareciam manter a calma. Um homem de terno estava do outro lado em pé. Sua feição era petrificada.

- O que está acontecendo?- Exigi saber.

- O agente Stolks veio a sua procura.- meu pai respondeu friamente.

- O que você quer?- algo em mim dizia que não era nada bom.

- Bom senhorita Carvalho, após seu depoimento  e de seus amigos na delegacia, chegamos a conclusão de que vocês estão ocultando informações.- Aquela voz, me era familiar. Eu não entendia.

- Nós não ocultamos nada. Contamos tudo que sabíamos.- As palavras saíram mais rápido do que planejei.

- Ora criança, não precisa ter medo. Outros agentes estão conversando com seus amigos nesse instante, assim vocês não poderão mentir conjuntamente. - Criança? Aquela voz. Era ele. O homem da noite anterior. Senti um calafrio subir pela espinha. Ele estava na minha casa. Enganara meus pais, e estavam na casa de meus amigos. Se eu gritasse que ele era uma fraude eu só estaria perdendo meu tempo.

- O que você quer?- Perguntei novamente. Dessa vez o ódio podia ser percebido pelo tom da minha voz.

- Quero que me acompanhe senhorita. Para o bem e proteção de sua família, ficará sobre nossa custódia temporariamente até a resolução do caso.- Ele sorria. Meu ódio aumentava mais. Minha mandíbula estava cerrada.

- Mãe! Pai! Me digam que vocês não concordam com isso!- Eles não podiam concordar, era loucura.

-Filha, também não gosto da idéia mas, não quero que corra perigo. O agente Stolks explicou que seu ex professor fazia parte de um grupo de resistência e que este grupo poderia segui-los já que vocês foram os ultimos a terem contato com ele.- Stolks era esperto, a história dele também me convenceria, mas aquilo tudo era uma grande farça e eu sabia disso. Imaginei o que estaria acontecendo com os outros.

- Não pode me levar!- Impuz.

- Posso sim. Como você é menor está sobre custódia de seus pais que inclusive, já assinaram o documento que permite que te levemos daqui.

Congelei, aquilo não podia estar acontecendo. Se contasse aos meus pais seria provável que ele sacasse uma arma e matasse todos. Eu não tinha escolha.

- Tudo bem. - Assenti.

- Ótimo. Senhor e Senhora Carvalho, foi um prazer, vamos ?- Ele me fitava.

- E minhas coisas?- Eu não sabia para onde estava indo e isso me deixava confusa.

- Vocé é nossa esponsabilidade agora. Não se preocupe, cuidaremos de tudo. Se despeça agora.- Ele saiu e entrou no Vectra prata que estava estacionado em frente a casa. Respirei fundo.

- Por que vocês..- Eu não entendia o por que deles concordarem com aquilo.

- Filha, não queremos que você corra perigo. Além do mais, serão apenas alguns dias. E, ele tinha uma órdem judicial, poderíamos ser detidos de não concordassemos e, quem cuidaria de você e de seu irmão?- Minha mãe tinha razão sobre isso, mas sobre me manter segura? Ela estava me entregando nas mãos de um homem desconhecido. Um criminoso. Ele estava forjando tudo, até aqueles papéis ridiculos.

Abraçei meus pais e me despedi do meu irmão. Estava frustrada, confusa e nas mãos de um louco que me tratava como criança. Dei uma ultima olhada para os meus pais, minha casa , e entrei. Talvez eu nunca mais voltasse.

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