Fórmula

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- Bom, eu vou ficar sentada aqui vendo vocês queimarem o cérebro tentando lembrar de algo que não sabem.- Thais estava sentada na poltrona perto da janela. A lareira formava sombras em seu casaco.

- Nós sabemos. Só precisamos rever tudo o que aconteceu.- Disse Ítalo se acomodando ao lado de Jennyfer. Eu estava sentada no chão olhando o movimentar das chamas no piso colonial de madeira. Russos tem um gosto um tanto incomum pra esse século.

- Tudo o que sabemos termina em uma frase.- Sussurrei.

- Essa frase fica perambulando na minha cabeça como daquela vez que o professor falava sobre a escravidão e sobre como ninguém se importava com o que aconteceu realmente.- Disse Nilce. Ítalo se levantou bruscamente.

- É isso! Ninguém presta atenção nos detalhes! Estava na nossa cara!- Okay'  Ele surtou. Pensei. Mas talvez ele estivesse certo.

- Vamos com calma, explica direito.- Kimberly falou. Italo abaixou a sombrancelha que se levantasse mais um pouco formaria uma união com o cabelo, respirou e disse: - Vocês lembram quando o professor passou um texto sem nexo sobre a escravidão no Brasil? Que a propósito, ninguém deu a mínima?

- Tem razão! Aquele texto deve ter a codificação!- Thais agora estava no centro da sala conosco.

- É. Só que, não sabemos o texto.- Josi tinha razão.

- Nós não, mas a Priscila sabe.- Ítalo olhou pra mim. - Eu sei? Eu estava dormindo Ítalo.- Exclamei.

- Mas sua memória é boa e querendo ou não, você ouviu.

- Mas não é tão fácil! Buscar memórias do inconsciente é o mesmo que tentar se lembrar de um sonho relâmpago.

- Mas você pode pelo menos tentar?

Todos os olhares estavam voltados para mim, esperando a resposta. Quem não estaria ancioso? Centenas, talvez milhões de pessoas morriam a cada minuto sem a cura. E a decodificação estava em um texto que não nos demos nem o trabalho de copiar. Como ele pode? Que tipo de ser humano colocava o destino de várias vidas em um texto idiota?! - Meus pensamentos revoltados pairavam em minha mente. Com os punhos cerrados saí da sala, tranquei a porta do quarto e me deitei. Minha única esperança de ter a realidade de volta era dormir e sonhar com o que um dia já fui.

        *    *    *

Minha cabeça girava. Meus amigos conversavam no máximo volume como sempre. As meninas ainda suspiravam pelo professor. Hoje ele parece diferente. Desde que chegou não parou de falar um minuto da escravidão no Brasil e seus detalhes inexplorados. O que é meio estranho, vindo de datas meio malucas de um texto totalmente sem noção que cobria o quadro. Fiquei até tarde fazendo trabalhos. Não quero copiar. Não quero olhar pra face de ninguém. Abaixei a cabeça e fechei os olhos. Costumava fazer isso nos meus momentos de profunda preguiça ao olhar para o quadro cheio.

- Vejam bem turma. Datas foram esquecidas, momentos em que o mundo estava voltado para outras realizações sem sequer saber o que estava ocorrendo no Brasil. A libertação do escravos.Dia 9 e 10 de 1887. Gravem essas datas, prestem atenção nos...- A voz do professor sumia aos poucos sempre repetindo a mesma frase e a mesma data sem sentido.

- Pri, Pri, acorda! Vamos. Hoje precisamos terminar os planos para a infiltração na base.- Ítalo sempre interrompia meus bons e raros momentos de sono. Nos dirigimos a sala de telas onde a mesa estava entulhada de plantas da base e uma espécie de maquete digital pairava sobre nossas cabeças. Minha mente ainda vagava no breve sonho da noite passada. Mas não parecia um sonho e sim uma...

- A base se encontra na Faixa de Gaza. A cura está dentro do cofre que está fortemente protegido.

- E como entraremos sem sermos vistos? Há câmeras por todas as partes. - Indagou Josi.

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