Epiphany

Enchanted

O barulho de meus saltos ecoava por todo o corredor branco, o silêncio no local me deixava incomodada, aumentando a sensação esquisita que eu sentia.

Consegui avistar o elevador no fim da imensidão que era aquele lugar, tão atrativo mas tão intimidador. Agora entendo quando falam que o Real Madrid é diferente, eu podia sentir aquilo nos meus primeiros minutos no centro de treinamento.

A imensidão do lugar, o ar sofisticado, tudo ali era impressionante. É como pisar em um local histórico, a sensação de estar em um lugar importante.

Eu não conseguia impedir que meu madridismo aflorasse naquele momento. Era uma emoção muito grande, como profissional e como torcedora. Chegar até ali me deixava extremamente orgulhosa.

Me recordei do processo engraçado que vivi para firmar minha paixão por um clube. Aos meus sete anos, papai me entregou uma camisa da Vecchia Signora alegando que aquele seria meu time. Minha mãe como boa madridista, não acatou de bom grado, me dando uma camisa do time Blanco.

Com o passar dos anos, meu amor pelo clube de minha mãe se fez notável. Lembro de ter assistido alguns jogos da Juventus no estádio, com meu pai. Mas nada se comparava com a primeira vez que pisei no Estádio Santiago Bernabéu, a emoção que me preencheu, o amor que senti.

Finalmente estava no elevador, já arrependida com a escolha do salto extremamente alto. Era um dia muito quente em Madrid, contudo eu usava uma calça social soltinha, optando por deixar apenas os braços de fora. O salto enorme e cansativo não colaborava em nada.

Ao chegar no corredor indicado para a reunião, agradeci a temperatura do ar condicionado ali, que tornava o ambiente gelado e agradável.

- Permiso. - falei sorrindo para a atendente que estava atrás do balcão, era de estatura baixa, seu terninho parecia imenso nela; era algo até adorável de se ver. - Tenho uma reunião com o Dr. Mihic.

A mulher me olhou por um segundo sem expressão, até seu rosto se iluminar fazendo com que a mesma abrisse um sorriso; provavelmente constatando que eu era a mais nova contratada.

- Senhorita Sartori? - perguntou e eu assenti. Ela mexeu em uma gaveta por alguns segundos, logo retirando uma espécie de crachá. - Aqui está sua credencial, é só seguir até o fim do corredor e virar à direita, só terá uma porta. - explicou. - O Dr. Mihic já está a sua espera.

- Certo, gracias... - fiz minha melhor cara de dúvida, para mostrar que gostaria de saber o nome da mulher, arrancando um riso da mesma.

- Sofia.

- Gracias Sofia. - sorri para a mesma, logo seguindo o caminho indicado.

Estava um pouco nervosa. Eu estava ciente dos problemas que o Real Madrid vinha enfrentando com sua equipe médica, no último mês mudanças drásticas haviam ocorrido.

O até então chefe dos serviços médicos, Jesús Olmo, fora demitido; assim como Mikel Aramberri, especialista na área de Ortopedia e Traumatologia.

O doutor croata, Niko Mihic, foi contratado para preencher o cargo de Olmo, como Médico Esportivo e chefe da equipe. Era um velho conhecido, ainda da época em que estava em meu internato na Università degli Studi di Torino e estagiando no Juventus. Nos conhecemos nos cursos de Formação para Médicos de Futebol da UEFA, em que o mesmo foi meu professor em diversos workshops.

Fui indicada para a vaga de Ortopedia e Traumatologia pelo próprio Mihic, algo que fora uma honra para mim. Ser reconhecida por profissionais da sua área é extremamente gratificante; eu sempre ficaria lisonjeada.