Dia de Escola

644 50 22
                                    

Era mais um dia em Greendale. Nada de excepcional a vista.

Ao menos até o riso dos jogadores de futebol arrepiarem Susie. Sabrina fechou a expressão, assim como Harvey e Rosalind.

-E aí, esquisitas?

Dessa vez elas estavam juntas, e não iam deixar aquele babaca falar assim com...

Uma mão comprida, com unhas stileto longas e de um prata azulado, o segurou pelo ombro.

-E aí, calça frouxa? Querendo levar uma surra ou é só impressão minha?

-Sua vaca!

Foi muito rápido. Todos os cinco estavam no chão, gemendo alto de dor. Olhos roxos, lábios partidos e narizes quebrados. Além de um maxilar arrebentando, um presente ao chefe dos valentões.

-Que merda é essa no corredor da minha escola?

Hawthorne parecia um touro, e ficou mais vermelho ao ver os jogadores naquele estado. A menina nova deu um sorriso mais do que debochado, e ainda riu na cara do diretor.

-Ora, temos um criminoso no alto cargo da escola? Que maravilha! O Conselho Estudantil vai adorar saber disso.-Ela fechou a expressão, enquanto todos estavam de olhos arregalados.-Lei Federal, Hawthorne. Você ocultou e abafou casos irreparáveis de agressão não justificada dentro de ambiente escolar. Décimo terceiro caso. Sabe o que acontece se for denunciado? Dez anos de prisão. E se for indiciado por encorajamento de ações de ódio, sua pena sobe pra vinte anos em regime fechado com trabalho social obrigatório. Preciso de um telefonema pra tornar isso realidade palpável.

O diretor estava branco e encolhido no lugar. Tentando recuperar um pouco da dignidade, ele ajeitou a gravata.

-E quem é a senhorita?

-Raphaelle Morningstar. Sou sua aluna nova, transferida do Arkansas. Prazer em conhecê-lo. Ah, recomendo que comece a punir esses paspalhos. Pode ser que a juíza intérprete isso como um ato de boa fé, se ela pensar que o fez por livre e espontânea vontade.

Ela deu as costas ao homem e sorriu para elas, se aproximando de forma tímida.

-Você é muito maneira!

Susie cumprimentou a garota, ganhando uma risada.

-Obrigada... Eu sou a Raphaelle, muito prazer.

-Eu sou a Susie. Essas são Rosalind e Sabrina. E este é o Harvey. Veio do Arkansas?

-Na verdade, eu venho da Austrália. Mas morei um bom tempo no Arkansas. O professor Brent me disse que vocês são bons alunos... Será que podem me ajudar? Eu tive que passar um tempo longe da escola e... Nem tudo fica na cabeça...

-Claro que podemos!-Os olhos de Rosalind chegaram a brilhar.-Foi por isso que criamos a M.A.G.I.A! Vamos te ajudar sim!

-Obrigada!

•~🦇~•

Eles iriam passar o sábado na mansão Spellman. Tia Hilda estava tão empolgada com as visitas que fez lanchinhos, sucos e bolo para o grupo de amigos.

Já fazia quase um mês que Raphaelle havia chego na cidade. E Sabrina estava feliz que duas amigas teriam alguém para protegê-las.

Estranhamente, a senhora Wardwell não havia simpatizado nem um pouco com a garota. Apesar de ser uma das melhores alunas de sua matéria.

Apesar da surra nos jogadores de futebol, Raphaelle se provou uma figura totalmente doce. E sempre disposta a ajudar no que podia.

Ia ser a primeira visita dela aos Spellman, e Sabrina ficou com pena do nervosismo dela.

-O que foi, Rapha?

-E se suas tias não gostarem de mim?

-Ah, não se preocupe com isso. Zelda não gosta de ninguém, mas Hilda vai adorar você. E tente não se irritar com Ambrosie e seu cinismo eterno. Ele pode ser um pé no saco mas é ótimo conselheiro.

A morena riu, antes de voltarem a caminhar até a casa. Ambrosie estava sentado nas escadas, e foi para dentro avisar suas tias que Sabrina havia chego com os amigos. Colocou a cabeça para dentro da cozinha e assobiou, ganhando os olhos das bruxas.

-Sabrina e os mortais estão chegando.

E voltou a se sentar nas escadas. Passou os olhos pelo grupo, antes de se ver preso por aqueles olhos impossivelmente azuis. Eles quase emitiam luz própria, era assustador.

-Ambrosie!-Sabrina saltitou até o primo, que sorriu para a loirinha.-Meninas, esse é meu primo Ambrosie. Amb, essas são Rosalind, Susie e Raphaelle.

Ele cumprimentou Harvey e então beijou a mão de cada uma das meninas. A última foi ela, a dos olhos luminosos. Ela abriu um sorriso tímido, e uma faixa delicada de rubor surgiu no rosto dela. Ele ouviu as três adolescentes rirem baixinho, assim como tia Hilda, que estava os espionando pela janela da cozinha.

-Ambrosie Spellman... Prazer em conhecer.

-Raphaelle Morningstar. O prazer é todo meu...

-Sabrina! Traga seus amigos pra dentro.

-Claro, Tia Hilda!

As apresentações foram feitas, e logo os adolescentes estavam espalhados pela sala, estudando. Iam começar por história, e era Raphaelle quem ajudava os demais naquela matéria. Em seguida foram para matemática, e isso era problema de Suzi e Harvey. Física, Química, Biologia, Literatura...

No fim, Ambrosie estava sentado no topo da escada. Eles estavam falando sobre redação. O trabalho daquele trimestre era escrever um conto.

O necromante estava com os olhos fechados, a cabeça apoiada na parede e o corpo relaxado. Estava apreciando a voz da morena preencher a casa de forma singela, enquanto ela narrava alguma ficção de época fantástica. Sabrina acabou o arrastando para ficar com eles e ajudar. Hilda foi a primeira a notar como ele não estava sendo cínico aquela tarde. Coisa rara nos últimos setenta anos.

Aquele passaria a ser um ritual só deles, e aconteceria todos os dias, cada tarde em uma casa diferente. Era divertido e um tempo sumamente proveitoso.

Ambrosie contava os quatro dias que tinha de esperar para vê-la caminhando na estrada, acompanhada por Sabrina e os outros mortais.

E assim passaram quase dois meses. A preocupação de Sabrina com seu aniversário de dezesseis anos foi se tornando crescente, assim como a amizade entre Raphaelle e Ambrosie.

-Você está apaixonado, querido?

Hilda se apoiou no balaustre aquela tarde, ao lado do sobrinho. Ambrosie estava esperando os jovens aparecerem na última curva da estrada.

-Por Raphaelle, Tia Hilda?

- Isso, aquela dos olhos bem azuis. É um nome bonito, não?

-Combina com a dona... Tia Hilda... Me ajudaria numa projeção astral para que eu pudesse convidá-la para sair?

-Eu não sei, Ambrosie... É muito arriscado, e eu não quero que se machuque.

O rapaz pegou a mão da bruxa, dando um sorriso tímido.

-Pode ao menos considerar?

-Ambrosie!-A voz risonha da moça chegou até eles. Ela sorria largamente e acenava do portão da horta. Hilda viu seu sobrinho se empertigar e sorrir.-Oi!

-Raphaelle!-Ele ficou em pé e correu até o portão, para abri-lo e deixar a moça passar, com uma reverência galante.-Bem vinda.

-Sim, querido...-A bruxa sorriu, enquanto murmurava baixinho.-Eu posso reconsiderar essa sua ideia maluca. Ah, se posso...

Você Já Viu Asas?Onde histórias criam vida. Descubra agora