Capítulo 1

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  A limusine preta de minha madrinha para em frente a escadaria de sua enorme mansão. Dois empregados estão no topo da escada, um homem e uma mulher e estão sorrindo. O motorista da a volta no carro e eu saio colocando meus óculos escuros. Fazia séculos  que eu não vinha visitar minha madrinha. Achei que ela me receberia ali na porta e não dois meros empregados.
"Olá senhorita Âmbar. Seja bem vinda." diz a mulher me lançando um sorriso simpático demais.
"Onde está a minha madrinha?" pergunto, seca.
"Ela teve que sair, senhorita." o homem fala.
"Sair?"
"Uma reunião com os acionistas."
"Quando ela chega?" pergunto irritada, tirando meus óculos.
"Amanhã." reviro os olhos e entro na mansão. Tudo está como sempre esteve. Subo as escadas e vou para meu quarto. A antiga eu gostava muito de rosa. Com os olhos cheios de água começo a destruir tudo o que vejo pela frente. Não quero ter mais nada que me lembre do passado. Pego minha coberta rosa,  saio do quarto e a jogo lá embaixo, na sala.
"Ei!" alguém grita lá de baixo. Desço as escadas enxugando os olhos. A minha coberta está em cima de alguém e ajudo a pessoa a se desvencilhar dela.
"Se você parar de se mexer fica mais fácil de eu te ajudar." falo. Tiro a coberta e encaro o garoto à minha frente. Ele parece ter uns 18 anos e é muito lindo. Nos encaramos por um momento quando somos interrompidos.
"Simon!" uma garota corre até ele e o abraça. "Você não pode entrar pela porta da frente, já te avisei várias vezes. Sua sorte é que a Sharon não está aqui." a menina de cabelos castanhos e olhos verdes fala.
"Quem é você?" pergunto.
"Sou Luna. E você deve ser a Âmbar, afilhada da Senhora Sharon. Prazer Âmbar. Você vai estudar no Blake né? Sua madrinha é muito gentil ela quem paga a mensalidade pra mim estudar lá..." essa garota fala demais.
"É eu sou a Âmbar. Tchau." falo e subo as escadas deixando ela com cara de tacho.

(...)

Olho satisfeita para o meu quarto. Agora sim está a minha cara. Tudo que era rosa e colorido eu transformei em preto, morto. Era como eu me sentia. Destruída. A antiga Âmbar, a feliz que vivia com seus pais morreu quando um motorista imprudente bateu no carro da minha família. Na verdade, o acidente foi o estopim para que uma nova Âmbar surgisse. Não bastava o meu coração ter sido despedaçado pelo meu antigo namorado, ele tinha que ter sido quebrado novamente com a perda dos meus pais. Tudo o que eu tinha de mais valioso foi tirado de mim. Me sento em frente a minha penteadeira e me encaro no espelho.
"Não chora, Âmbar. Você tem que ser forte. Pessoas fortes não choram então para de chorar. Se alguém te ver assim, vão ficar com pena e você odeia que fiquem com pena de você. Para de chorar." falo enquanto enxugo a última lágrima que cai. Dou um sorriso e desço as escadas indo para a cozinha. Encontro lá o tal de Simon, a garota de cabelos castanhos e os empregados que me olham e param tudo o que estão fazendo.
"Precisa de algo, senhorita Âmbar?" diz ela. "Me desculpe, não me apresentei. Sou Mônica, este é meu marido Miguel e minha filha Luna. E este, é o Simon, amigo da Luna." ela diz.
"Eu quero um sanduíche. Estou com fome e cansada da viagem. Me prepara também um suco de maracujá. Não, não, de morango. Não, abacaxi. Isso, de abacaxi." falo e saio da cozinha indo para o meu quarto.
Minutos depois, Mônica entra com meu lanche. Estou sentada na cama e ignoro sua presença.
"Senhorita Âmbar?" olho pra ela. "Trouxe seu lanche."
"É eu vi." ela fica sem jeito.
"Precisa de mais alguma coisa?" ela pergunta, esfregando as mãos umas nas outras. Nego com a cabeça. "Vejo que mudou a decoração do seu quarto. Ficou... diferente."
"Já esteve aqui antes?" largo meu celular ao lado da minha cama.
"Sim. Sua madrinha queria que tudo sempre estivesse limpo." ela sorriu. "O Sr.Alfredo disse que você passava suas férias de verão aqui."
"Sim. Eu vinha direto para cá."
"Eu e minha família morávamos em Cancún, no México. Viemos para cá por que sua madrinha se ofereceu para pagar os estudos de Luna." ela fala. Não sei o que ainda está fazendo aqui. Eu só pedi um lanche e ela já está contando sua vida inteira.
"Sério, Mônica? Que legal. Agora pode me deixar sozinha por favor?" ela assente e sai, parece magoada. Mas não ligo.
Há tempos não vinha para Buenos Aires. A última vez que estive aqui foi quando tinha quinze anos. Ainda era amiga de Jazmin e Delfi, passávamos as férias inteiras na piscina e patinando. Sinto saudades de patinar. Levanto-me e vou até meu closet. Meus patins brancos ainda estão lá, limpinhos. Pego-os nas mãos e várias lembranças minhas vêm a tona. Eu patinando com Jazmin,  Delfi e Matteo. Lembro que gostava dele. Rio lembrando disso. O que será que eles vão pensar quando me virem assim, mudada? Ignoro esses pensamentos. Eu não ligo. Não me importo com o que vão pensar de mim. Guardo meus patins no fundo do closet. Eles não fazem mais parte da minha vida. São da antiga Âmbar. A Âmbar ingênua do passado. A Âmbar que eu não quero ser nunca mais.

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