Capítulo 3

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Chego em casa e vou direto pro meu quarto. A Mônica me chama para almoçar mas estou sem fome. A única coisa que quero é ficar trancada em meu quarto ouvindo músicas. Me deito e desbloqueio o celular. Olho a galeria e abro um dos vídeos que tem lá. Sou eu patinando e meu pai e minha mãe cantando. Dou vários rodopios e saltos enquanto mamãe me olha com olhos cheios de lágrimas, emocionada. Ela quem me deixou apaixonada pela patinação. Ela era uma patinadora excelente e teria sido muito famosa se não tivesse se machucado feio em uma competição. A queda foi muito forte e ela acabou não podendo mais fazer o que gostava tanto. Por isso, quando descobri que ela patinava, pedi um patins e ela foi logo comprar. Lembro que ela ficou tão feliz por eu querer seguir os seus passos e, quando participei da minha primeira competição como solista eu podia ver o orgulho que ela sentia de mim.
Quando me dou conta, já estou chorando. Aperto o celular contra o peito. Queria poder tê-los aqui, perto de mim.
Uma batida na porta me desperta, enxugo meus olhos rápido e mando quem quer que esteja lá entrar. Uma cabeça grisalha aparece.
"Posso entrar?" O Sr. Alfredo pergunta. Assinto e ele entra. "Queria ver como está. Por que não foi almoçar?"
"Estou sem fome." não era mentira.
"Posso ver o que está fazendo?" ele pergunta. Faço uma careta, mas mostro o vídeo. "Você é uma ótima patinadora. São seus pais?" assinto. "Tem os olhos de sua mãe. Sente muito a falta deles né?"
"Sim." droga. Não quero começar a chorar na frente dele.
"No início a dor é maior e parece que vai te destruir por dentro. E destrói mesmo. Mas com o tempo, os caquinhos do seu coração vão se juntando, e você vai se recuperar." ele diz. Sua cabeça parece estar em outro lugar. "Quando perdi minha filha, no incêndio da mansão, nada mais tinha graça, nem cor e beleza. Parecia que não tinha mais sentido eu viver. Mas aí, eu descobri que minha netinha, Sol, estava viva em algum lugar desse mundo. Não acharam seu corpo nos destroços da mansão." eu conhecia essa história. A filha do Sr.Alfredo e irmã de minha madrinha, tinha uma filha, Sol Benson. Quando a mansão pegou fogo, a criança sumiu e sua mãe infelizmente não sobreviveu. Minha madrinha havia me contado essa história. Ela escapou por pouco. "Depois que reconstruíram a mansão, eu comecei a fazer de tudo para procurá-la. Saber disso me deu um motivo para querer continuar vivo. Ela é um pedacinho da minha filha." uma lágrima solitária cai de seu rosto e ele a enxuga. "Você tem que encontrar uma razão para querer continuar, Âmbar." Sr.Alfredo me entrega o meu celular e sai de meu quarto.
Desbloqueio meu celular e procuro a localização do Jam&Roller e chamo um táxi. Preciso arejar a cabeça.
Uma música toca baixinho em um alto falante. Vou andando pelo estabelecimento, dois meninos estão atrás de um balcão preparando os pedidos que as pessoas fizeram. Vou andando e acabo esbarrando em alguém que derruba todo o seu suco em mim.
"Ei! Não olha por onde anda?" grito. "Você manchou minha blusa favorita, droga!"
"Desculpe. Não foi a intenção, eu não te vi."
"Ah, jura?" falo finalmente olhando para o rosto dele. "Você?" olho para Simon.
"Desculpa, Âmbar. Eu..."
"Tá. Já entendi. Foi sem querer." olho para minha blusa. "Pode me mostrar onde ficar o banheiro?"
"Claro. Vou te levar até lá."
"Obrigada. Preciso tentar dar um jeito no estrago que você fez."
"Eu? Você que não prestou atenção!" me viro pra ele indignada.
"Você é o garçom e você que tá com uma bandeja cheia de bebidas, ou seja, você quem tem que olhar por onde anda." paro pra respirar. "Já tô vendo o banheiro daqui. Não preciso mais da sua ajuda." entro no banheiro e me apoio na pia. Estou com as bochechas um pouco vermelhas por que me exaltei um pouco. Pego um punhado de papel toalha e passo pela minha camiseta. O papel é de uma marca tão ruim que se desfaz deixando pedacinhos na minha blusa.
Escuto uma respiração pesada e alguns gemidos vindo de uma das cabines. Franzo o cenho e jogo o papel no lixo.
"Tá tudo bem aí?" pergunto pra quem quer que esteja ali dentro.
"Droga." diz uma voz masculina. A porta faz um barulho indicando que alguém está a abrindo. De lá de dentro sai um Luna muito descabelada, com a blusa amassada e olhos verdes arregalados. Atrás dela, sai Matteo, não muito diferente, e com a boca toda vermelha.
"Oi, Âmbar." a Luna diz, um pouco envergonhada. Matteo se mantém quieto.
"Existe um lugar chamado Motel pra fazer esse tipo de coisa, sabiam?" falo.
"Ah, vai dizer que você nunca fez isso em lugares proibidos? É mais divertido." Matteo finalmente abre a boca.
"Em um banheiro público? É nojento! Vocês são nojentos." digo.
"Eu vou sair daqui ok? Não quero que ele me veja." Matteo diz. Ele arruma seu cabelo me dá uma piscadinha e sai do banheiro.
"Âmbar você não pode contar o que viu aqui pra ninguém!" ela diz. Fico sem entender. Pra quem eu vou contar? Não conheço ninguém aqui. "Por favor."
"Não quer que ninguém fique sabendo das suas escapadinhas?" arqueio as sobrancelhas. "O papai e a mamãe não podem saber que sua filhinha não é mais virgem e que fica abaixando as calcinhas pro Matteo toda hora?" ela me olha com seus grandes olhos arregalados.
"Âmbar, por favor..."
"Eu tenho mais o que fazer do que ficar cuidando da sua vida. Agora sai antes que eu mude de ideia." ela assente rapidamente e sai do banheiro sem olhar para trás.
Termino de limpar minha camiseta e saio indo sentar em uma das mesas.
Logo, um garçom vem me atender.
"Oi. É nova aqui?" ele pergunta e eu concordo. "Vai querer o que?"
"Uma água. Não! Um suco de laranja. Sem açúcar." falo. Ele anota os pedidos, sorri e vai preparar meu suco.
"Então você veio?" Benício diz se sentando à minha frente.
"Não. É só fruto da sua imaginação mesmo." ele ri.
"Nossa." fala colocando a mão no coração.
Meu pedido chega e tomo um gole de suco. Luna sai rindo com Simon, eles se olham e ele aperta a bunda dela. Quase engasgo com o suco. Tá essa garota é o que?
"Só não morre." Benicio diz. "Não fica assim tão impressionada. A Luna já ficou com vários garotos daqui do Roller. Até eu já peguei ela. É mais fácil contar com quem ela não ficou." arregalo os olhos. "Mas o mais engraçado é que ela está ficando sério com o Simon, mas sempre da umas escapadinhas com o Matteo. Parece que o garçom não é bom o bastante." Ele ri. Que vaca. Termino meu suco pago a conta e vou embora.
"Ei!" Benicio me chama e eu me viro. "Vai voltar aqui amanhã?" sorrio e volto a andar.

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