Capítulo 9

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Simon

Chego no Roller como sempre antes de todos, limpo todas as mesas e vou para cima do palco. Pego uma cadeira que sempre fica atrás das cortinas e pego meu violão. Retiro do meu bolso um papel amassado e um lápis pequeno todo mordido na ponta. Resultado das minhas noites sem dormir tentando encontrar as palavras certas para encaixar na minha nova canção. Estou terminando de escrever outra música inspirada na Luna. As coisas entre nós dois está indo pra frente, acho que estamos passando a barreira da amizade. Nunca pensei que Luna fosse me olhar de outra forma e ver que ela finalmente notou que quero algo a mais com ela me deixa entusiasmado. Quero pedi-la em namoro e além de uma aliança quero lhe dar essa música que estou criando. Me sento na cadeira e apoio o violão em minha perna, usando a parte de trás como uma mesa para poder riscar no papel. Termino de escrever a última estrofe e começo a tocá-la no violão. O título da canção será Eres e em cada frase conto o que ela é para mim. Ela é minha musa inspiradora, é a razão dos meus sorrisos, é o meu sol nos dias nublados, é a minha confidente, minha melhor amiga. E em breve, minha namorada. Olho para o papel em minhas mãos. Minha caligrafia está péssima e tem algumas manchas de café espalhadas pelo papel.
Dedilho algumas notas e por fim começo a cantar:

Eres mi flor favorita en un cuento de hadas
Eres la frase mas bella, la mas escuchada
Eres el frio, el calor
Eres el miedo, el valor
Eres la sombra que sale cuando quema el sol
Eres un confidente de todas mis emociones
La causa, la razon de mis canciones
Los sueños, la verdad y mucho mas
Y mucho mas

Eres un mar donde navegan emociones
El cielo en que flotan corazones
Mi complice, mi guia y mucho mas
Y mucho mas
Eso eres
Eres pregunta, respuesta, mi euforia y mi calma

Eres tu bella sonrisa, la rima y el alma
Eres el frio, el calor
Eres el miedo, el valor
Eres la sombra que sale cuando quema el sol
Eres un confidente de todas mis emociones

La causa, la razon de mis canciones
Los sueños, la verdad y mucho mas
Y mucho mas
Eso eres
Un mar donde navegan emociones
El cielo en que flotan corazones

Mi complice, mi guia y mucho mas
mucho mas
Eso eres
Eso eres

Termino de tocar e por fim abro os olhos encarando Nico e Pedro segurando a risada.
"Ei! O que estão fazendo aqui? Não iam vir mais tarde?" pergunto dobrando o papel e o colocando de volta em meu bolso. Me levanto e coloco meu violão onde ele estava e desço do palco.
"Resolvemos vir antes para te ajudar. Ficamos com a consciência pesada." diz Pedro.
"A música estava boa. É pra Luna?" Nico pergunta se apoiando na bancada.
"É sim." paro na frente dos dois. "Acho que finalmente a Luna está sentindo algo a mais por mim. Eu sou completamente apaixonado por ela e não quero mais segurar essas palavras que estão entaladas na minha garganta. Eu a amo. E quero que ela saiba." falo gesticulando com as mãos. 
"Espere aí. Vai pedir ela em namoro?" Nico franze o cenho.
"Vou. Por que?"
"Aí sim cara!" Pedro me dá tapinhas nas costas. "Desejo toda felicidade pra vocês."
"Obrigado. Eu não vejo a hora de estar sozinho com ela, abraçá-la e beijá-la na frente de todos e poder dizer que ela é minha namorada."
"Ih, Pedro. Olha ali. Nosso amigo está apaixonado." Nico cutuca Pedro.
"Perdemos um soldado, irmão." Pedro põe a mão no coração fingindo estar triste. Rio dessa cena e cruzo os braços. Algumas pessoas chegam ao Roller.
"Ei! Dá pra algum de vocês vir me atender?" escuto uma voz feminina chamar. Essa voz já é muito bem conhecida por mim. É Âmbar em seu habitual traje preto e maquiagem escura. A tinta rosa de seu cabelo está desbotando nas pontas e as unhas pintadas de preto estão descascando.
"Deixem comigo que hoje nem a Âmbar vai estragar o meu humor." falo para os garotos e me dirijo até a mesa da loira. "Olá Âmbar, bom dia. Sempre um prazer te ver aqui." ironizo.
"Não posso dizer o mesmo de você." ela diz e põe seu celular em cima da mesa. "Afinal, vocês estão aqui para trabalhar ou recebem pra ficar jogando conversa fora?" reviro os olhos.
"Já sabe o que vai querer?"
"Um suco de maçã." ela diz sem me olhar. Me viro para ir preparar o suco. "Não! Espera, Simon." volto até ela, quase perdendo a paciência. Sempre indecisa. "Morango. Eu quero um suco de morango."
"Claro." sorrio abertamente. "Tem certeza ou quer pensar mais um pouco?"
"Tenho certeza." ela diz pegando seu celular. "E põe gelo no suco, por favor."
"Olha, ela sabe ser educada de vez em quando." Âmbar tira os olhos da pequena telinha e me encara. Seus olhos azuis piscina são frios e parecem congelar tudo o que fica em seu campo de visão. Sinto um leve arrepio.
"Só faz o seu trabalho ok?" diz e volta a encarar seu celular. Volto para trás do balcão e começo a preparar seu suco.
Estou cortando os morangos quando Pedro chegar com uma bandeja com dois copos sujos.
"Cara você não sabe o que acabei de ouvir." ele apoia a bandeja no balcão e se aproxima sussurrando. "A Âmbar na verdade não é a Âmbar." paro de picar os morangos e os jogo no liquidificador franzindo o cenho.
"Que história é essa?" ligo o aparelho e o encaro.
"Ela é a Sol Benson. Neta do Alfredo, dono da mansão em que os pais da Luna trabalham."
"Eu sei quem é o Alfredo, Pedro." desligo o liquidificador e despejo o conteúdo em um copo. "Mas como que você ficou sabendo disso? Pode ser que seja só mais um boato."
"Não sei se é boato ou não. Vi no canal da Jazmin. Acho que ela não mentiria sobre algo assim não é?" dou de ombros termino o suco. Coloco um canudinho e dois cubos de gelo e o levo até a mesa em que Âmbar está sentada agora junto com Benício.
"Então você é a herdeira de todas as propriedades do velho?" escuto Benício dizer.
"É. Louco, não?" ponho o suco na mesa e me viro para sair.
"Ei garçom." Benício chama e volto até lá. "Eu quero fazer um pedido."
"Pode falar."
"Mas ainda não me decidi." ele diz. "Então pode voltar, quando eu souber o que quero, te chamo." travo o maxilar respirando fundo e saio dali.
Limpo algumas mesas e de repente duas mãos cobrem meus olhos. Sorrio pois sei que é Luna.
"Hum, quem será que é?" escuto ela soltar uma risadinha. "Luna, eu sei que é você." ela tira suas mãos dos meus olhos e eu me viro para abraçá-la. "Ei como está?"
"Estou bem." ela suspira. "Já sabe da novidade?"
"Sobre a Âmbar?" falo um pouco mais baixo para que mais ninguém escute. "Isso te afetou?"
"Um pouco. Eu tinha certa esperança de ser a Sol. Mas a Sharon sempre deixou claro que sua sobrinha tinha olhos azuis e não verdes como os meus." ela suspira. "Fiquei um pouco chateada por que eu que estou procurando a tempos nunca encontrei nada sobre meus pais e ela que nem sabia que era adotada, do nada descobre que tem um avô que nunca desistiu de procurá-la e está pronto para dar todo o amor que tem." ela fala tudo isso muito rápido.
"Ei, você vai encontrar seus pais algum dia." faço carinho em sua bochecha.
"Acontece que eu não sei se quero encontrar meus pais. Eles me abandonaram, Simon. E também não quero mais falar sobre isso." diz e põe um sorriso em seu rosto. "Vou patinar. Isso sempre me deixa alegre. Te vejo mais tarde? Quero te mostrar uns passos que criei para nossa coreografia."
"Mais tarde a gente se vê, ok? Tenho que voltar para o trabalho." lhe dou um beijo na testa e volto a atender as outras pessoas.

(...)

Estou na pista organizando algumas coisas quando vejo Luna indo para a sala em que ficam os armários onde as pessoas que frequentam o Roller regularmente guardam seus pertences. Corro até o palco para pegar meu violão e vou para onde ela está. Estou tão nervoso que minhas mãos estão suadas e temo não conseguir cantar ou lembrar dos acordes. Escuto uns gemidos e respirações pesadas e entrecortadas quando chego lá e penso em dar meia volta e sair, não quero atrapalhar quem está aí. Estou prestes a me virar e sair quando lembro que trabalho aqui e não posso deixar as pessoas fazerem essas coisas aqui. Volto para a sala já pronto para interromper quem quer que esteja ali quando as palavras de repente se tornam pesadas demais para sair e ficam encurraladas em minha garganta. A menina que eu amo está agarrada em outro e as mãos dele passeam por todo o corpo dela, corpo que sempre sonhei em tocar. Seus lábios estão inchados e meu coração parece se quebrar em mim pedaços. Ela finalmente abre os olhos e me encara, assustada. O garoto, Matteo, demora a perceber minha presença ali e quando me vê abre um sorrisinho satisfeito.
"Simon... Eu posso explicar." ela diz. Meus olhos alternam entre ela e Matteo e estou a ponto de socar a cara de convencido dele quando ela o manda ir embora. "Por favor, me escuta." ela segura meu braço.
"Eu estou escutando, só não encosta em mim." puxo meu braço com força. Seus olhos estão vermelhos e ela começa a chorar.
"Me desculpa por favor. Eu sabia que deveria ter acabado com isso. Mas eu pensei que fosse coisa da minha cabeça. Eu pensei que você só me considerasse sua amiga e que era só uma paixão que ia acabar logo." ela fala muito rápido. "Simon me perdoa."
"Você não gosta de mim da mesma forma que gosto de você. E-eu..." passo uma das mãos pelo rosto com força. "Eu pensei que pudéssemos passar essa barreira da amizade..." falo com a voz embargada.
"Você é o meu melhor amigo e eu não quero te machucar." ela chora mais.
"É que quando eu te vi com o Matteo, algo dentro de mim se rompeu." ponho a mão no coração. Ela balança a cabeça e vem até mim. Ponho as mãos na frente do meu corpo, como uma barreira a impedindo de chegar perto.
"Eu não te culpo por não gostar de mim. Não te culpo." falo respirando fundo e enxugando meu rosto mais uma vez. "Só... Só me deixa sozinho. E não fala mais comigo por um tempo. Eu preciso arejar a cabeça."
"Simon..."
"Luna por favor." encaro ela nos olhos e ela se encolhe. Com a cabeça baixa, ela assente e sai da sala. Passo as mãos pelos meus cabelos chorando e soco o armário. Só paro quando minha mão começa a sangrar e Pedro me manda ir embora dizendo que vou assustar os clientes. Ele chama um táxi que me leva para casa, e ao chegar, pego uma garrafa de vodka que guardo escondida e me jogo no sofá, bebendo um pouco do líquido. Eu só quero esquecer de tudo isso. Pego o papel que está em meu bolso e vou até a cozinha ainda com a garrafa na outra mão. Pego uma vasilha de alumínio pequena e jogo o papel dentro. Viro um pouco do líquido dentro e acendo um fósforo que tinha ali perto. Jogo o palitinho dentro e bebo mais da vodka enquanto vejo o papel queimar restando apenas cinzas. É assim que meu coração se encontra. Em cinzas. Destruído.

Nota da autora:

Desculpa a demora galerasss. Estava sem criatividade mas hoje quando peguei o celular as palavras surgiram do nada. Espero que gostem desse capítulo. Confesso que me partiu o coração ter que fazer o Simon sofrer. Beijoss e até breve ♡

O melhor de mim Onde histórias criam vida. Descubra agora