Capítulo 8

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"Você está dizendo que a minha vida toda foi uma mentira?" pergunto, com lágrimas nos olhos. "Meus pais... não são meus pais?" cubro o rosto com as mãos. Minha madrinha acaricia minha costas.
"Querida, eu sinto muito. Não queria que isso estivesse acontecendo." ela diz.
"Por que não me contou isso antes? Por que me entregaram para pais adotivos?" pergunto. Meu rosto deve estar todo manchado com a maquiagem borrada. Penso em olhar meu reflexo no espelho da penteadeira mas isso só me faria chorar mais.
"Na época eu estava muito abalada com a morte de minha irmã. Eu não tinha condições de te criar. Eu sabia que se ficasse comigo, não receberia a atenção necessária, nem o amor que merecia." ela diz. Minha madrinha não está chorando nem nada, ela parece fria. Seu olhar parece vazio e ela não me encara nos olhos. "Esse casal de amigos que te adotaram, não conseguiam ter filhos de forma alguma. Mas sempre foram tão atenciosos e carinhosos. Eu sabia que estaria segura com eles. Te entreguei para eles, mas com uma condição. Que me deixassem ser sua madrinha e que você passasse as férias de verão comigo. Eles aceitaram na hora. Quando te pegaram no colo... foi tão lindo. Me lembro como se fosse  ontem."ela diz. Meus pais sempre me disseram que haviam escolhido ela como madrinha por que  ela não podia ter filhos e como mamãe e ela eram amigas desde a faculdade achou legal convidá-la. "Nunca me arrependi de ter tomado essa decisão."
"O Sr.Alfredo já sabe?"
"Não. Quis contar a você primeiro." ela segura minha mão. "Ele está na sala. Vamos contar à ele agora?" assinto. Nos levantamos e caminhamos caminhamos para fora do quarto. Toda a minha vida foi uma mentira. Entendo minha madrinha não querer ter ficado comigo, acho que ela não leva jeito para a coisa. Sempre séria, é difícil vê-la sorrir ou fazer piada com algo. Chegamos na sala, Alfredo está sentado em uma poltrona lendo seu jornal.
"Papai?" Sharon chama. Ele vira para nós, retira seus óculos e sorri.
"Olá, querida. Venham aqui." nos sentamos no sofá que tem ali ao lado.
"Papai, tenho que contar algo muito importante a você, que venho escondendo a muito tempo. Eu peço perdão por ter guardado esse segredo para mim durante esses anos, mas sinto que foi a coisa certa a se fazer. Eu não quis contar antes, pois o senhor estava muito abalado com a morte da minha irmã, mas agora acho que o momento certo chegou."
"Não estou entendendo, Sharon." Ele diz, deixando seu jornal de lado.
"Eu encontrei a Sol Benson. Na verdade, eu sempre sabia onde ela estava. Ela sempre esteve viva papai."
"Que?" ele põe suas mãos enrugadas em sua testa. Algumas lágrimas solitárias caem de seus olhos. Evito chorar, mas não me aguento. "Onde ela está? Onde está a minha netinha?"
"Sua netinha está aqui papai." Ela diz.
"Sou eu." sussurro e me levanto. "Eu sou a Sol." Ele se levanta meio cambaleante e vem até mim me dando um abraço forte.
"Minha netinha..." ele diz acariciando meus cabelos. "Você está viva. E está aqui." ele enxuga uma lágrima. "É tão linda." diz, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha.
"Vovô." sorrio em meio às lágrimas.
"Como durante todo esse tempo não notei que era você?" ele diz. Nos sentamos no sofá. "Sharon, querida, pegue os álbuns de fotos. Quero mostrar para minha neta tudo."
Ele está tão animado. Sua animação me contagia, quando me dou conta já estamos rindo de histórias de quando eu era pequena.
"É tão estranho eu não me lembrar dessas coisas. Parecem momentos inesquecíveis e eu não lembro de nada." falo, um pouco triste.
"Você era pequena, Âmbar. Não é culpa sua. Por conta do choque do incêndio você pode ter esquecido." ela diz, andando até nós com uma caixa nas mãos. Ela entrega a pequena caixa de madeira com detalhes no centro da tampa. É um "B" de Benson dentro de um Sol.
"Com essas fotos que tenho aqui, vai ser impossível que você não se lembre de nada." ele abre a caixa e retira umas fotos de quando eu era bebê.
"Vovô, acho difícil eu lembrar de algo com essa foto de quando era um bebê." Rio um pouco.
"Ah, claro. Desculpe. Devo ter alguma foto de quando você tinha um aninho." ele retira algumas fotos de dentro da caixa e põe em cima do sofá, depois continua procurando. Pego uma das fotos que está ao meu lado, no sofá. É da minha mãe e de meu pai. Ela é linda. Seus olhos são verdes e vibrantes, os do meu pai são castanhos. E os meus, azuis. Talvez eu tenha algum outro parente cujos olhos são azuis e eu os herdei dele. Passo o dedo indicador sobre a foto. É estranho chamar outras pessoas de pai e mãe. É mais estranho ainda eu ter sofrido pela morte de duas pessoas que eu chamava de pais e tempo depois descobrir que eles não eram meus pais, que mentiram ser durante 17 anos. Tento não sentir uma certa mágoa por eles, mas é inevitável. Eu continuo os amando, mesmo tendo mentido para mim. Me sinto um pouco culpada por estar magoada com eles sendo que nem estão aqui para se explicarem.
"Querida?" Sr.Alfredo me chama pondo sua mão em minhas costas. "Tudo bem?" enxugo uma lágrima que escorria despercebida em meu rosto. "Sei que é difícil para você lidar com tudo isso. Se quiser, podemos parar. Só quero aproveitar ao máximo esse tempo que vou ter com você."
"E nós vamos, vovô." sorrio. "Achou a foto?"
"Infelizmente não." ele diz guardando as fotos de voltar na caixa. "Acho que perdemos todas elas no incêndio."
"É, infelizmente não conseguimos recuperar muita coisa." minha madrinha se pronuncia.
"Se quiser ficar com essa fotografia, fique a vontade." ele diz apontando para a foto que eu tinha em mãos.
"Eu quero." sorrio.
De repente a porta se abre e Luna aparece com seus patins sobre o ombro esquerdo.
"Ai." diz ela.
"Eu já falei mais de mil vezes que a entrada dos empregados é nos fundos, Luna." Sharon diz. Reviro os olhos. Bem típico da Luna fazer essas coisas para ser o centro das atenções.
"Desculpe." Luna diz.
"Não se desculpe, querida." diz Sr.Alfredo. "Luna, tenho uma boa notícia para te contar."
Luna se aproxima devagar e se senta ao lado de vovô. Olho para minha madrinha, incrédula.
"E o que é?" ela pergunta.
"Finalmente encontrei minha neta." a boca de Luna forma um "O". "Âmbar é a Sol." vovô sorri tanto que acabo sorrindo também, contagiada por sua felicidade.
"Que?" Luna diz. Ela parece não estar acreditando. Posso jurar que vi lágrimas em seus olhos. Ou talvez fosse nos meus. "E-eu tenho que ir. Com licença." Ela se levanta rapidamente e vai para a cozinha.
"Luna!" vovô a chama.
"Deixe-a papai." Sharon diz.
"Estranho." ele diz.
"Talvez ela só esteja surpresa. Luna é adotada também, Âmbar."
"Então está explicado. Talvez ela esteja com inveja por que não teve a mesma sorte que eu."
"Acho que não é inveja querida. Vou subir e me deitar um pouco. Estou cansado."
"Tudo bem." digo. Ele se levanta e caminha devagar até a escada. "Vovô?" o chamo e ele se vira. "No próximo final de semana vou participar de uma competição no Jam&Roller. Gostaria de ir me ver?" ele sorri e assente.
"Eu ficaria muito feliz." sorrio. Ele sobe as escadas devagar, deixando somente eu e minha madrinha na sala.
"Não sei se é uma boa ideia." Sharon corta o silêncio.
"O que?"
"Ele ir na competição. Muito barulho, pessoas andando pra lá e pra cá." diz, gesticulando com as mãos.
"Eu vou estar lá para ajudá-lo." digo. "Com licença, vou pro meu quarto."
  Fecho a porta com delicadeza e me sento em minha cama com a foto ainda em mãos. É incrível como muita coisa mudou em apenas dois meses. Minha vida inteira virou de cabeça para baixo. Agora nem sei mais quem sou eu. Âmbar ou Sol?

Nota da autora:

Demorei mas postei! Espero que gostem. Vim desejar um Feliz Natal pra vocês, aproveitem esse dia pertinho de quem amam e comam muito hahahaha. Amo vocês, aproveitem esse capítulo e me digam o que estão achando. ♡

Outra coisinha importante: fiz uma conta pra Soy Luna no insta, me sigam @forsoyluna_ .

O melhor de mim Onde histórias criam vida. Descubra agora