Âmbar
No dia seguinte, acordo com uma dor de cabeça horrível e para ajudar, atrasada para o treino. Me arrumo rapidamente e desço para o café. Sr. Alfredo está tomando seu café quando chego. Sento à mesa e me sirvo com calma.
"Não vi a hora que chegou ontem. Deve ter chegado muito tarde pois não acordou a tempo de ir ao Roller." ele diz enquanto toma um gole de seu café.
"Eu ainda vou ao Roller. Só vou chegar um pouco atrasada." um pouco significa uma hora de atraso, mas não ligo. Que se dane.
"Âmbar não estou gostando do seu comportamento ultimamente." suspiro revirando os olhos. Já vai começar a me criticar. "Está sem limites." solto meu garfo irritada.
"Eu mudei ok? Estou diferente e não me importa se vocês não gostam da forma que lido com as coisas! Se não gostam, problema de vocês. Não vou mudar. Aceitem."
Saio da mansão com raiva e decido ir para o Roller a pé. Já estou atradada mesmo, que diferença faz eu chegar um pouco mais atrasada? Coloco meus fones de ouvido com o volume no máximo e caminho distraidamente pela rua enquanto olho as publicações no Instagram. Uma sequência de fotos da Luna aparecem na tela. Encaro as fotos dela sorrindo junto com os amigos toscos dela com raiva. Estou prestes a rolar a tela para ver a próxima publicação quando sinto alguém me puxando com força para si. Olho assustada para a pessoa que fez isso e me deparo com Simon abraçado a mim com a mesma cara de assustado. Tiro meus fones.
"Você tá louco?!" me solto dele.
"Louca tá você! Ia ser atropelada se eu não tivesse te puxado." ele passa uma das mãos pelos cabelos suspirando. "Fica olhando distraída pra esse celular. Eu não entendo as pessoas. Ficam vidraças nessas pequenas telas se concentrando nas vidinhas perfeitas que são mostradas ali que se esquecem de viver a vida real, que é bem diferente dessa aí." ele diz. Odeio ter que concordar com ele mas ele está certo.
"Tem razão." falo. "Vou tomar mais cuidado da próxima vez. Obrigada por ter me salvado."
"De nada." ele diz me olhando nos olhos da mesma forma que me olhou ontem a noite. Pensar na noite passada faz com que uma onda de vergonha cresça em mim. Abaixo a cabeça tentando esconder minhas bochechas vermelhas. Simon segura em meu queixo levantando minha cabeça. "Eu quero as barreiras que você constrói ao seu redor não é, Âmbar? Eu faço uma nova Âmbar aparecer, talvez a verdadeira Âmbar. Uma Âmbar que sente." Tiro sua mão.
"Me poupe. A verdadeira Âmbar é essa que eu mostro para todos. Não existe outra e nunca vai existir." cruzo os braços.
"Você pode enganar quem quiser Âmbar. Mas a mim não engana. Eu sei que você não é toda má. Sei que no fundo você tem um coração bom. Eu consigo claramente enxergar você de verdade quando está patinando. Quando está sobre rodas você muda. Parece estar nas nuvens, voando, parece estar em outra galáxia por que faz isso com amor. Na pista, você é a verdadeira Âmbar." ele diz tudo isso com tanta sinceridade que por um breve momento sinto falta da antiga Âmbar. A que via o lado bom das coisas e que sempre estava disposta a ajudar os outros. A Âmbar que eu era antes de meu namorado partir meu coração e meus pais morrerem.
"Talvez, mas só talvez você esteja certo." digo.
"O que aconteceu para você ser assim? O que fez o seu coração endurecer?"
"Por que está tão interessado em saber da minha vida?" inclino a cabeça cerrando os olhos.
"Eu simplesmente quero saber por que é assim. Por que é tão fria e calculista."
"Eu sou assim por que o amor nos deixa fracos, vulneráveis. E eu odeio ser assim. Aprendi a odiar depois que sofri com as consequências de ser vulnerável. Sou fria e calculista por que essa é a forma que encontrei para superar a morte dos meus pais. A forma que encontrei para me proteger." limpo uma lágrima que cai. "Cada um lida com a dor da forma que consegue. E a forma que encontrei de lidar com ela foi fechando as portas do meu coração para todos ao meu redor. E só me preocupar em ser a melhor é alcançar os meus objetivos não importando quem eu tenha que atropelar ou o que."
"Você não tá certa."
"Quem é você pra dizer se eu tô certa ou não? Você não entende de nada Simon. Não sabe o que é perder os seus pais e depois descobrir que toda a sua vida foi uma mentira. Eu sou a Sol Benson. Meus pais morreram num incêndio e a família que me criou mentiu pra mim a vida toda. Eles fizeram com que eu criasse um laço de amor por eles sendo que eles nem eram meus verdadeiros pais. Foram uns mentirosos. Todos mentem para mim, por isso aprendi a não confiar em ninguém." falo tão rápido que ao terminar nem percebo que estou chorando. Olho para baixo tentando controlar minha respiração. "E o pior é que eu sinto tanto a falta deles. Sinto tanto." Simon me envolve com seus braços e eu me deixo ser consolada por ele. Apenas neste momento eu vou deixar ele ultrapassar uma barreira. "Quando a gente perde alguém, ele fica com a gente. Pra que a gente se lembre sempre de como é fácil se magoar."
"Eu sinto muito Âmbar. Eu não imaginava que você tinha passado por tudo isso." ele acaricia meus cabelos.
"Uma coisa é a imagem que eu passo do que está acontecendo. Outra bem diferente é o que eu tô sentindo por dentro." suspiro de olhos fechados. Estou abraçada nele ainda e não quero mais sair desse abraço. Mas algo me faz lembrar de que não posso deixar ele ultrapassar mais que uma barreira então me afasto, enxugoas lágrimas e arrumo meus cabelos. "Mas isso não importa, certo? Não importa pra você e nao importa pra ninguém."
"Âmbar, não é bem assim. Por mais que você sempre faça de tudo pra prejudicar a minha equipe eu não quero que nada de ruim aconteça à você." ele segura minha mão.
"Ah, que fofo você é Simon. Sempre querendo ver todos bem." falo sarcástica.
"E a Âmbar má voltou." ele diz. "Olha, pra mim não precisa mentir ok? Não precisa usar sua máscara."
"Ai Simon, nem sei por que te contei isso. Só finje que não sabe de nada tá? Foi só um momento de fraqueza e acabei me abrindo pra você mas isso não significa que somos amigos, que vou te contar tudo e que vou ser boazinha com você. Nada vai mudar. Essa sou eu e pronto."
"Por que sinto como se você estivesse falando isso mais para si mesma do que para mim?" ele pergunta cruzando os braços. Reviro os olhos e tiro uma mecha de cabelo que voou em meus olhos.
"Você não tem nada de melhor para fazer não? Não tem que trabalhar? Está atrasado, Gary não vai gostar disso." Simon procura seu celular nos bolsos da sua calça jeans assustado e sorrio com sua falta de jeito.
"Não pense que me convenceu." diz voltando a caminhar com pressa. Fico parada na calçada olhando-o se afastar até que ele some do meu campo de visão. Espero mais uns minutos ali parada e só então continuo caminhando pelo mesmo lugar em que ele passou para chegar até o Jam&Roller.
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O melhor de mim
FanfictionÂmbar é uma garota de dezessete anos que acabou de terminar um relacionamento abusivo e perder os pais num trágico acidente de carro. Sua madrinha Sharon fica com sua guarda e ela obrigatoriamente tem que se mudar para Buenos Aires e começar uma vid...