Onça I

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- O que você aprendeu hoje na escola, filho?

- Aprendi que as nuvens são feitas de algodão doce.

- Quem te ensinou isso?! - A mãe perguntou horrorizada. Afinal, como poderiam ensinar uma besteira dessas ao seu filho?

- O Pedrinho que disse - o menino falou sério.

- Então o Pedrinho deve ter se enganado, pois as nuvens são feitas de vapor de água.

- Não sei o que é vapor, mas sei que água é pesada. Algodão doce é bem mais leve, aí consegue ficar no céu. Se a nuvem fosse de água ia cair, mamãe.

Humm... aquela seria difícil de rebater... Mas como, uma hora ou outra, ele ia aprender que as núvens são feitas de vapor e não de algodão doce, a mãe não se preocupou muito com aquilo.

- Você ainda é muito pequeno para entender isso. Deveria tomar banho agora.

- Mamãe, que gosto tem algodão doce de nuvem?

- Vá para o banho, Lucas.

- Mas eu queria experimentar nuvem...

O menino Lucas ficou mais que encucado sobre aquilo

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O menino Lucas ficou mais que encucado sobre aquilo. Ele amava experimentar sabores novos e tinha certeza que aquele seria único, sendo ruim ou bom. Passou um dia inteirinho pensando no gosto que as nuvens poderiam ter. Então, com medo de explodir de curiosidade, bolou um plano para conseguir subir ao céu e provar algodão doce de nuvem.

Acordou super cedo no dia seguinte, antes de seus pais acordarem, pegou sua bicicleta, um cabide e uma pipa e rumou o campinho da pracinha. Lá, com muito espaço aberto e nenhum bisbilhoteiro, Lucas pôs seu plano em prática.

Empinou a pipa até ela ficar presa em uma nuvem, enroscou o carretel de linha na grama, correu, pegou empulso, enganchou o cabide na linha e pulou. Caindo para cima.

Quando aterrissou na nuvem (que era muito fofa, felizmente, pois se não fosse Lucas poderia ter quebrado o bumbum) era como se estivesse andando sobre um grande travesseiro. Ele olhou para cima e viu seu bairro, achando engraçado como tudo tinha se invertido.

Então, matou a terrível e enorme curiosidade, a mesma que tinha matado o gato da Camila. Ele pegou um punhado de nuvem, que realmente lem-brava algodão doce, e comeu.

O sabor era inimaginável, incrivelmente bom, maravilhosamente magnífico. Era doce, mas não enjoativo, leve e derretia na boca virando uma calda deliciosa.

Lucas encheu a boca e os bolsos com aquela dádiva, comeu nuvem até ver a primeira perua passar. As pessoas se assustariam ao ver um menino de ponta cabeça em uma nuvem. Sem contar que ele tinha uma grande notícia para contar para a turma do pré II naquele dia ainda.

Então ele desceu da nuvem da mesma forma que tinha subido, como se o cabide fosse uma tirolesa. Depois ele pedalou para casa feito um raio, deixando a pipa presa no campinho da pracinha. Ele pensara que um dia voltaria para a nuvem.

Chegando em casa, recebeu uma enorme bronca do pai por ter fugido de casa. O menino disse que só havia dado uma passadinha em uma nuvem e até trazia um pouco para eles provarem. Mas os pais não lhe deram ouvidos e o mandaram para a escola.

Lucas distribuiu punhadinhos de nuvem para todos os seus amigos, que ficaram eufóricos com aquilo e logo ofereceram a outros amigos. Mas chegou uma hora que a nuvem acabou e o Guto começou a chorar porque também queria um pouco.

No fim, Lucas ficou de castigo por ter mentido e feito um amigo chorar e foi proibido pelos pais de pensar em subir em nuvens de novo.

No fim, Lucas ficou de castigo por ter mentido e feito um amigo chorar e foi proibido pelos pais de pensar em subir em nuvens de novo

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Hoje, 20 anos após o ocorrido, Lucas está quase se formando em engenharia de alguma coisa. Ele não gosta muito do que faz, só faz para conseguir um bom emprego e orgulhar os pais. Ele fuma. Nem ele sabe bem o porquê. Mas fumar combina com sua vida cinza.

Hoje, Lucas acha que aquele dia foi só um sonho que ele teve uma noite qualquer quando era criança.

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