Onça VI

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- Ah, Cansei! - gritou Vanessa de doze anos, a segunda prima mais velha, que já estava a uma hora fazendo bolinhas de sabão para os primos menores, que já começavam a chorar.

O problema é que não eram bolinhas simples, não! Tio Antônio fizera um círculo de barbante e enchera uma bacia com água e sabão para Vanessa fazer bolhas gigantes. Ela tinha que mergulhar o barbante, abrí-lo e movimentá-lo para funcionar. Mas aquilo era muito cansativo!

As crianças insistiram para ela continuar, e quando Vanessa afirmou que não... lágrimas começaram a rolar para o desespero dela. Então, pegou o barbante e a bacia e deixou ao lado do primo mais velho.

- Toma, Vitor. É com você agora - Ele a ignorou - Será que dá pra você sair um pouco desse celular e dar atenção pros seus priminhos chorões?

- Não - respondeu sem tirar os olhos do celular.

- Como não? Você é o mais velho! Era pra você estar fazendo isso! Não eu!

- É, Vanessa... a vida é tão injusta. - Continuou sem olhar para ela.

A menina bufou e passou ao terceiro primo mais velho, que fazia embaixadinhas.

- João, faça bolinhas de sabão para seus primos - ordenou.

- Agora eu vou bater meu recorde de 37 embaixadinhas, depois eu faço isso.

Depois já estariam todos os tios perguntando porque as crianças estavam chorando, tinha que ser antes. Vanessa não via a quarta prima mais velha.

- Onde está a Talita?

- Procurando a boneca dela - alguém respondeu.

Talita nunca se separava da boneca então não ia fazer mais nada até encontrá-la. O próximo primo também não estava por alí.

- Cadê o Rafael?

- Escondendo a boneca da Talita - responderam.

Ela revira os olhos e tenta acalmar os chorões enquanto não lembra mais a ordem dos primos. Até que tia Adelaide grita na janela:

- Quem quer pavê?

Aquela família era muito famosa por seus doces, mas o pavê da tia Adelaide era simplesmente irresistível. Todas as crianças correram para a cozinha. Menos uma.

- Vanessa... - disse a prima Bia de cinco anos - Me ensina a fazer bolinha de sabão gigante?

- Agora eu vou comer pavê, mas eu tenho certeza que você consegue sozinha Bia. - Diz entregando a ela o barbante e a bacia e já indo pra cozinha.

Bia olhou para aquilo meio desconfiada, tentou fazer funcionar e na terceira tentativa frustada desistiu das bolhas de sabão

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Bia olhou para aquilo meio desconfiada, tentou fazer funcionar e na terceira tentativa frustada desistiu das bolhas de sabão. Então começou a pular corda com o barbante. Ela sabia pular corda e preferiu fazer o que já soubesse a tentar algo novo.

Porém ela não se atentou ao chão e ao barbante encharcados de sabão. Então, num belo pulo, uma enorme bolha de sabão a engoliu.

Num primeiro momento Bia ficou encantada por enfim ter conseguido fazer uma bolinha de sabão gigante. Mas quando a bolha começou a flutuar com ela dentro... ela foi tomada de terror. Começou a gritar desesperadamente, mas percebeu que nenhum som saía da bolha.

Se nem som saía, como ela sairia de lá?

A bolha continuou subindo, e a cada ventinho que soprava, Bia ficava mais assustada.

Até que, por um momento de mera curiosidadezinha, a menina olhou para baixo. O frio na barriga que sentiu foi imenso. Mas fez cosquinha. E apesar do medo, Bia gostou do frio na barriga e olhou para baixo denovo.

Então ela começou a achar divertido voar de bolha de sabão. Ainda estava assustada, mas ria mais a cada vez que olhava para o chão, que parecia tão longe. Foi ótimo ter uma vista incrível de todos os ângulos e se sentir leve como uma bolha. Mas essa bolha estourou.

Dessa vez, seu grito foi ouvido até do outro lado do mundo. E a sensação de queda livre conseguiu dar um frio na barriga trocentas vezes maior que o anterior. Por isso o medo e a diversão foram muito maiores também.

Bia fez uma aterrissagem meio desastrosa na árvore do quintal. Quebrou muitos galhinhos da copa e parou num tronco mais grosso, toda ralada e dolorida.

- Menina! O que aconteceu? - perguntou a assustada tia Carmen.

- Eu caí... - murmurou rindo a menina.

Os primos já estavam todos curiosos em volta da árvore. Tio Antônio foi para ver o que estava causando aquela aglomeração e encontrou a irmã aos berros.

- Desça daí e venha me explicar direito o que aconteceu!

- Ora, Carmem, pare de gritar - o tio reclamou e olhou para cima - Você está bem alto Bia, parabéns!

- Obrigada tio - disse a menina que já estava se recompondo - você tinha que ver onde eu estava antes, era muito alto. Mas eu caí...

- É normal, depois você sobe denovo - ele achou que ela estava se referindo à árvore. - E vocês - disse para as outras crianças - quero ver quem consegue subir mais que a Bia.

Todos correram e começaram a se embaraçar na árvore.

- Antônio, eles vão se machucar - resmunga a tia Carmem.

- Mas essa possibilidade nunca te impediu de subir em árvores quando tinha o tamanho deles, não é mesmo? E se bem me lembro, você era a mais arteira de nós.

Os adultos continuaram uma conversa saudosa enquanto as crianças brincavam como crianças devem brincar.

Os adultos continuaram uma conversa saudosa enquanto as crianças brincavam como crianças devem brincar

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Hoje, 25 anos após o ocorrido, Bia é gerente em uma das padarias da família. Ela não teve coragem de arriscar fazer outra coisa, como Vanessa, que virou artista. Bia tem um trabalho bom até, mas muito exaustivo e vive tensa e estressada por causa da correria da vida. Só se sente relaxada depois de pular de paraquedas, o que faz uma única vez no ano.

Hoje, Bia não acredita que seja verdade que um dia tenha voado em uma bolha de sabão. Por muito tempo acreditou, mas um dia alguém lhe disse que era impossível e ela aceitou. Hoje ela acha que só caiu da árvore aquele dia, o que também é verdade.

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⏰ Última atualização: Apr 19, 2019 ⏰

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