- Pá! Pá! Tratratrararaaaaaa!
- O que você está fazendo, filho?
- Assistindo um filme de tiro.
O pai correu para desligar a TV.
- Você só tem seis anos! Não deve assistir isso! - gritou meio alarmado - Você é uma criança e criança brinca! Foi por isso que eu comprei aquele brinquedo que você tanto pediu. Vai brincar, vai!
O menino correu assustado para o quarto. O pai pode ter parecido um pouco duro demais, mas ele agia assim porque era muito preocupado com o filho que crescia na periferia. Ele não tinha condições de mudar de bairro, de mudar essa situação, então, tentava ao máximo dar o melhor ao seu filho e não deixá-lo virar um dos "homens maus" da comunidade. Por isso, evitava ao máximo a violência dentro de casa.
Um pouco mais tarde naquele dia, foram pai, mãe e filho para o mercadinho. Fabinho até levou seu brinquedo (um carrinho vermelho de madeira que tinha uma roda levemente quadrada), só para deixar o pai mais calmo.
Fabinho era muito observador. Viu como a moça que pesava ração era mal-humorada, viu Seu Raimundo encarar uma goiaba por pelo menos dez minutos, viu o sobrinho da Dona Maria roubar três uvas e viu dois homens com bolsas grandes as encherem de cremes, daqueles que a mamãe usava.
O menino não gostou de ver aquilo, não gostou da expressão que estava no rosto dos homens e não gostou da arma que estava na cintura de um deles. Logo percebeu que aqueles eram os homens maus que preocupavam tanto seu pai. Então, Fabinho se irritou com eles e os encarou com fúria.
Encarou com tanta fúria que fez um dos cremes explodir na cara de um dos bandidos.
Ah... o menino gostou disso. Encarou-os mais um pouco, do mesmo jeito, e a prateleira caiu inteira em cima deles. Muita gente olhou assustada para a bagunça feita, Fabinho era o único que sabia o que tinha acontecido e ria.
Então, como o "grãn finale", o menino correu até os homens maus e deu um chute forte em uma canela de cada um, o que os fez gritar de dor.
- Isso é para vocês aprenderem que não pode ser malvado! - disse e cuspiu no chão, como tinha visto uma vez em uma filme. Ele deu as costas para eles e marchou de volta para os pais.
- O que aconteceu aqui? - A mãe perguntou ao pai.
- Eu dei uma lição nos homens maus - Fabinho disse orgulhoso de si. - Eu sou um herói.
Os pais o parabenizaram, apesar de acharem que o filho só havia ido dizer aos bandidos que eles não deviam ser maus.
Hoje, 19 anos após o ocorrido, Fabinho não é mais chamado assim, na maioria das vezes o chamam de "seu Polícia". Ele é casado com uma princesa que salvou do perigo, como viu uma vez em um filme.
Hoje, Fabinho não acredita que tenha ou já tivera super poderes. Mas ainda acredita ser um herói
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Onça
Short StorySão contos com uma pitada de fantasia que narram acontecimentos um pouco incomuns com crianças pequenas. A cada capítulo é uma história nova com uma nova criança que um dia cresce e vira um adulto que pode ou não ter sua vida influenciada por aquele...