Onça II

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- Mamããããe - chamou do quarto.

- Fala, filha - respondeu da sala.

- Já ouviu falar de Atlântida?

- Lá vem de novo - a mãe diz para si mesma antes de a menina surgir no corredor - Sim, já ouvi falar.

- Será que é igual a Shangri-lá só que debaixo do mar?

- Olha, acho que não fica "debaixo" do mar, só submersa.

- Shangri-lá? - perguntou o pai colocando a cabeça para fora da cozinha - Essa é nova.

- Nem tanto - disse a mãe - Ela descobriu Shangri-lá antes mesmo de Eldorado.

A menina riu - Seria legal ter descoberto esses lugares.

Naquele fim de semana a família foi ao clube que tem piscina grande

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Naquele fim de semana a família foi ao clube que tem piscina grande. Marina amava ir para lá, sempre brincava de sereia, e foi assim que aprendeu a prender o ar por impressionantes catorze segundos.

Desde que o pai a ensinara a fazer pesquisa no computador despertou na menina um interesse em seres místicos, mitos e lugares lendários. Ela se apaixonou por histórias de sereias e seu lugar preferido entre todos os desconhecidos era Atlântida.

Mas voltando ao clube... Depois de um mergulho digno de mergulhador, a menina nadou até o mais fundo que conseguia. A piscina era bem funda. E quando estava quase tocando no piso ela viu um peixinho laranja fugindo pelo ralo. Aliás, tinham que trocar aquele ralo, estava todo quebrado!

Marina subiu a superfície para respirar e voltou ao fundo novamente. O que aquele peixinho fazia ali? Mas, chegando perto demais, ela foi sugada pelo ralo.

Marina entrou em desespero no momento do sugamento e só parou de gritar quando atingiu o chão. Um chão de pedra aspera e levemente macia, as ainda sim machucou. Ela não se sentia debaixo d'água, apesar do peixinho laranja ter passado nadando do seu lado.

Marina olhou para trás e ficou chocada diante de seu maior encanto:

- Atlântida... - suspirou.

- Você fala!

Marina procurou a origem da voz e encontrou:

- Uma sereia! Caramba você é uma sereia! E do meu tamanho! - Ela gritou de animação - Eu sabia que sereias existiam! Eu estava certa!

- Como você sabia que existíamos? - ela perguntou assustada.

- Ah... eu não tinha plena certeza mas sempre acreditei.

- Ufa! - ela suspirou aliviada - é que tentamos evitar os humanos, muitos deles são maus... mas acho que não tem problema uma criança nos conhecer - a sereia sorriu - o que você acha de conhecer a cidade?

- Sério? - Os olhinhos de Mariana brilhavam - Eu sou louca pra ver uma cidade perdida! E eu tenho tantas perguntas pra fazer... posso? Você canta bem e seu canto é enfeitiçador? O que acontece se você sair da água? O que você come?

A sereia riu.

- Comemos coisas que você não conhece ainda mas vou te mostrar na cidade. Se eu sair da água minha cauda se separa formando pernas, mas eu não gosto de sair, ar é muito estranho. E eu canto bem sim, mas as sereias não comem gente como os humanos dizem! - ela arregalou os olhos dando a entender que aquilo era uma tremenda besteira e as duas riram juntas.

- Que bom. Por um segundo eu tive medo que você... - Marina foi interrompida por um puxão.

Era como se alguém puxasse forte se braço, tentando levá-la para cima, de volta para a piscina.

Ela não queria ir.

A sereia, assustada, tentou segurar a amiga que já chorava. Marina desejava ficar pois estava prestes a realizar seu sonho. Ela queria conhecer até as entranhas de Atlântida, ainda tinha muitas perguntas para fazer e muita coisa para conhecer!

Mas a sereia não conseguiu segurá-la por muito tempo... mesmo as duas juntando todas as suas forças, sabiam que acabariam se seperando logo.

- Qual o seu nome? - Marina perguntou chorando.

- Rafaela. E o seu? - respondeu entre dentes, tentando manter a nova amiga perto de si.

- Marina. Foi muito bom te conhecer e a gente ainda vai se ver um dia, tá?

- Tá bom - Rafaela concordou também chorando e a soltou

Marina subiu olhando para a sereia que ficava para trás. Um bombeiro a levava para a superfície da piscina, que estava gelada demais. Ela foi colocada na beirada e logo uma enfermeira veio lhe perguntar:

- Qual o seu nome e idade?

- Me chamo Marina Castanheiro, tenho 8 anos - Respondeu batendo os dentes de frio.

- Não engoliu água - perguntou a enfermeira curiosa.

- Não...

- Impressionante para alguém que ficou mais de cinco minutos debaixo d'água - disse sorrindo, parabenizando a menina por alguma coisa.

O clube tinha se transformado. Agora tinha bombeiros, policiais, uma ambulância e muitos olhares curiosos. Seria comum Marina ficar curiosa também, mas estava muito triste por não ter conhecido Atlântida para curiosidade dessa vez.

- Filha o que aconteceu? - disse o pai ao abraçar a menina. A mãe chorava ao seu lado.

- Eu só estava seguindo o peixinho laranja.

- Um peixinho laranja? E para onde ele foi?

- Atlântida. Conheci uma sereia lá.

- Sério, filha? - o pai lançou um olhar confuso para a mãe, que o olhava da mesma maneira.

- O importante é que você está bem... - ela disse abraçando forte a filha.

Hoje, 23 anos após o ocorrido, Marina é uma bióloga marinha que trabalha em uma pesquisa secreta em busca de Atlântida

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Hoje, 23 anos após o ocorrido, Marina é uma bióloga marinha que trabalha em uma pesquisa secreta em busca de Atlântida. Ela ouviu naquele dia a enfermeira dizer que uma suposta falta de ar lhe causara alucinações. Mas ela tinha certeza do que aconteceu, do que viu e de quem conheceu.

Hoje, Marina quer rever a amiga sereia.

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