Onça V

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- Papai, quero uma bola de futebol - disse como se tivesse muito mais de um metro de altura ao entrar desajeitadamente no carro do pai.

- Oi, filho, boa tarde, hoje foi seu primeiro dia de aula, quero saber como foi.

- Os meninos falaram que eu não sei jogar bola, que sou ruim nisso, e todos eles sabem jogar bola. Quero aprender a jogar bola, e bem, mas com a minha bola de basquete não dá, então preciso de uma de futebol. - Ele continuou com o mesmo ar de autoridade.

O pai conhecia bem seu filho, sabia que o pequeno não estava bem e sabia que isso é normal de primeiros dias de aula.

- Então quer dizer que você vai trocar sua bola de basquete por uma de futebol por causa disso?

O menino o olhou assustado.

- Não! Claro que não... - ele refletiu por um tempo - a bola de basquete vai continuar sendo meu brinquedo favorito, vai sim... só preciso da de futebol para aprender a jogar bola e poder brincar junto com os outros meninos na hora da saída, só pra isso.

Seu olho quase soltou uma lágrima ao lembrar que ficou num canto olhando os meninos jogarem na quadra, se coçando de vontade de brincar também enquanto o pai não chegava. Mas ele não se permitiu chorar e tomou de volta o "ar de pessoa com mais de um metro de altura".

O pai percebeu tudo olhando o filho pelo retrovisor.

- Tudo bem, então - disse virando a direita.

Passaram em uma loja para compar uma boa bola de futebol antes de chegarem em casa

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Passaram em uma loja para compar uma boa bola de futebol antes de chegarem em casa. Felipe estava completamente decidido de que iria aprender a chutar direito aquela bola, a conduzí-la, driblar e, quem sabe, até conseguir virar uma bicicleta.

O pai o ajudou a montar um gol improvisado e estava ensinando ao filho o jeito certo de chutar a bola, mas logo teve que ir trabalhar. O menino teve que continuar sozinho, já que sua mãe estava tentando fazer torta de maçã pela quarta vez.

Felipe começou a ficar desanimado, aquilo não estava dando certo. Das trocentas vezes que ele chutou a bola no gol, acertou só cinco! Os meninos do segundo ano que mandavam no jogo nunca o deixariam brincar se ele não conseguisse nem fazer gols.

Ele insistiu mais um pouco, mas seus chutes fracos e sem mira nunca colocavam a bola para dentro da rede. E isso irritou Felipe exageradamente. Ele queria jogar bola na hora da saída! Mas por que a brincadeira tinha que ser sempre futebol? Por que eles não podiam jogar basquete? É tão mais fácil! (Aparentemente só Felipe pensava assim).

Então, juntou toda aquela raiva e desgarregou todinha na bola, o que resultou em um chute hiper forte que mandou a redonda para o alto. Bem alto. Até a bola se perder de vista.

Felipe ficou muito orgulhoso de si. Ele tinha aprendido a chutar a bola. No dia seguinte, chegaria na escola e seria o menino com o chute mais forte de todos.

Mas a bola não voltou.

Felipe esperou alguns segundos e nada da bola cair de onde quer que estivesse. Bem... aquele chutasso deveria bastar para garantir sua participação no jogo do próximo dia. O menino foi correndo contar a novidade para a mãe.

- Mamãe! Mamãe! - gritou entrando pulando na cozinha - Eu consegui! Meu chute foi super forte! Tão forte que a bola foi parar no céu, mamãe! Eu consegui!

- Eu também! - ela cantarolou - O que acha de comemorarmos a sua conquista com um delicioso pedaço de uma maravilhosa torta de maçã?

Felipe resitiu para aceitar o pedaço, porque as três primeiras tortas foram catástroficas. Mas depois de uma garfada concluiu que sim, a mãe havia conseguido, a torta estava realmente boa.

Era tarde do dia seguinte. Felipe estava praticando suas cestas de três pontos no quintal, com os olhos inchados de tanto chorar.

A hora da saída havia sido cataclísmica. O menino conseguira entrar no jogo depois de fazer um gol de pênalti, mas quando a partida começara... Aos três minutos do primeiro tempo ele recebera um passe, mas outro menino tentara lhe dar um carrinho para roubar a bola, o que fizera Felipe se desequilibrar, bater a cabeça no joelho do amigo e capotar no chão. Aquilo lhe rendera um galo, seus joelhos e cotovelos esfolados e o orgulho ferido. Ele até queria voltar a jogar, mas a inspetora o levara para a enfermaria antes mesmo dele protestar.

Ele estava se preparando para saltar para fazer mais uma cesta profissional quando ouviu um barulho alto e sentiu um vento forte. O menino se virou e viu um astronauta de jetpack pousando no seu quintal. E aquilo era muito maneiro.

- Fala, garoto! - disse tirando o capacete de aquário - Você é o Felipe?

Ele estava tão absmado que som nenhum saía da sua garganta, então fez que sim com a cabeça.

- Bem, então acho que essa bola é sua - o astronauta jogou a bola perdida para o menino, que viu seu nome escrito nela - E, ei! Eu ví aquela cesta. Você é muito bom, cara, continue assim! Preciso voltar para lá pra cima agora. Tchau!

Felipe acenou para ele. Uau, um astronauta havia dito que ele era bom no basquete! Então olhou para as duas bolas. Estava nem ligando para o que os meninos da escola pensariam! Deixou a de futebol de lado e ficou até de noite com a de basquete.

Hoje, 14 anos após o ocorrido, Felipe é um astro do basquete, um dos melhores do mundo e faz questão de ser inspiração para crianças, ajudando elas o máximo que pode a realizarem seus sonhos

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Hoje, 14 anos após o ocorrido, Felipe é um astro do basquete, um dos melhores do mundo e faz questão de ser inspiração para crianças, ajudando elas o máximo que pode a realizarem seus sonhos.

Hoje, Felipe é amigo de William, o astronauta que um dia pousou de jetpack no seu quintal.

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