Kabir deu um pulo para trás, pois acreditava que o desconhecido fosse mudo.
- O que pensa que me falta?
- A verdade.
- E o que eu faço com isso?
- Vive.
- E não é o que tenho feito esse tempo todo?
- Talvez deva se questionar nos intervalos de cada grito angustiante. Posso ouvir sua alma lá da minha choupana. O que tanto o perturba?
- Não é nada... grito porque às vezes a floresta se cala. E eu não suporto.
- Sei... algumas pessoas são assim: fingem que não gostam do silêncio para não ter que ouvir o próprio barulho. Já fui como você. Sabe, filho, é preciso ser muito valente para estar em companhia do silêncio.
E então o velho passou algum tempo falando de como a nossa consciência pode ser mais letal do que uma aranha peçonhenta da floresta. Aquilo chegou atenção de Kabir, que logo foi convencido a seguir o mestre até a choupana e descobrir a maiá.
- Espera! O que é maiá? – perguntou Alice, muito atenta a história que ouvia.
Aproveitando que estamos de volta ao quarto da nossa protagonista, devo dizer que ela já havia se acostumado com Kabir. Isso é tão verdade que a menina foi à cozinha e preparou duas xícaras de café para acompanhar a narrativa. Tamanha foi a decepção quando soube que ele não comia nem bebia porque "papel só se alimenta de letras", como disse Ketut antes de mandar o jovem arqueiro ao nosso mundo.
- Maiá é a chave do segredo. É a ilusão de todos nós. Mas no seu mundo, isso deve ter outro nome.
- Nunca ouvi falar nada disso por aqui... Nesta terra, vivemos as coisas como elas são.
Kabir sorriu como o próprio mestre e disse:
- Isso é a maiá. A ilusão de todos nós.
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Coração de papel
Short StoryImagine você acordando no meio de um tempestade com um corvo lhe espiando pela janela. Ele é a única testemunha. Há uma criatura de mão nevada e olhos verdes no seu quarto. Não é uma história de terror, mas bem que poderia ser. Um portal mágico foi...