| t r e z e |

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–Ele era um idiota– Vic solta de uma vez depois de um suspiro frustrado.

Estamos as três do costume no barzinho que frequentamos desde adolescentes, sentadas numa mesa junto à janela enquanto bebemos um chocolate quente delicioso e falamos sobre as banalidades do costume. Num daqueles momentos raros em que eu saio de casa, mas talvez isso esteja prestes a mudar.

–Ah, deixa para lá Vic, ele nem era tão bonito assim– Kate diz tentando animá-la.

–É...–eu confirmo não muito convencida. Para dizer a verdade, o cara era bem bonito.

–Acho que vou ficar solteira para sempre– ela retruca.

–Pensa pelo lado positivo: assim não precisas de dar satisfações a ninguém e podes continuar a sair e a pegar quem quiseres– eu digo piscando o olho.

–Mas e se eu quiser uma relação séria?– ela pergunta.

Troco um olhar preocupado com Kate. Vic nunca foi pessoa de querer um relacionamento sério, casamento, essas coisas. Ela própria chegou a referir que não se queria amarrar a ninguém, preferia ser livre para ficar com quem quisesse. Palavras dela.

–Sei lá. Eu estive a pensar e acho que seria bom ter alguém à minha espera em casa ao fim do dia, alguém com quem eu pudesse partilhar as minhas coisas. 

–Bom, nesse caso eu tenho a certeza que tu vais encontrar alguém. Tu és bonita, divertida e inteligente, o que não vão faltar são pretendentes!– Kate diz animada.

–Machistas como o... Taylor? Ou era Tyler? Tanto faz! De homens como ele eu quero é distância, nem que fique solteira para o resto da vida.

–Tu vais encontrar alguém. E sabes quando é que isso vai acontecer? Quando tu menos esperares– eu digo.

–Pois, para ti é fácil falar! Conheceste o amor da tua vida na adolescência.

–Sim, e ele morreu dez anos depois– eu respondo revirando os olhos.

–Desculpa, não era isso que eu queria dizer... É só que...–Vic parece ponderar sobre o que vai dizer –Tu e o James pareciam daqueles casais perfeitinhos dos filmes. Como... como se fossem feitos um para o outro– ela diz sincera.

–É. Vocês estavam sempre grudados e tinham uma química incrível, como se cada passo que vocês dessem fosse planeado para ser fofo. Mas não, esses eram vocês– Kate acrescenta.

–O quê?– eu digo chocada –É isso que vocês acham da minha relação com James? Que ela era perfeita?– eu pergunto e elas limitam-se a acenar afirmativamente –Meninas, nós somos seres humanos, e seres humanos erram. Por isso nenhuma relação é perfeita. Todas têm os seus altos e baixos.

Há três anos atrás...

«–James, onde estás? Eu cheguei em casa e não estavas, e como também não me avisaste que ias sair eu fiquei preocupada. Por favor, liga-me assim que ouvires esta mensagem– eu digo depois de ligar pela terceira vez para James sem que ele me atendesse.

Pouso o telemóvel na mesinha de centro da sala e ando de um lado para o outro preocupada. Desde que James chegou da última missão, ele está estranho. Mal fala, está sempre pensativo, quase nunca sai de casa e hoje saiu sem me avisar, e bom, já são onze da noite, era suposto ele estar em casa ou então avisar-me que ele não estaria quando eu chegasse.

Presumo que a última missão não tenha corrido bem, até porque ele nem quis falar no assunto. Não que ele costume falar muito sobre as suas missões, obviamente. Mas definitivamente, ele voltou desta missão diferente. E eu não sei como o abordar sobre o assunto sem o deixar desconfortável. Normalmente é um tema que ele só fala com o psicólogo.

(Sobre)Viver Sem TiOnde histórias criam vida. Descubra agora