| q u i n z e |

70 15 7
                                    

–Uma proposta?– Maria pergunta confusa.

–Sim, uma proposta. A ideia foi surgindo na minha cabeça durante o jantar, depois de elogiares a minha tarde de amora. Como sabes eu adoro cozinhar, especialmente doces, e toda a gente está sempre a falar-me que eu devia ser cozinheira ou confeiteira, mas eu nunca os levei a sério, sempre pensei que era uma ideia totalmente descabida. Mas hoje, quando te vi tão feliz, concretizada e focada no teu projeto, eu pensei: porque não? Já há muito que eu não me sinto bem como advogada, portanto eu acho que já está na hora de eu fazer algo que realmente goste. Eu andei à procura de emprego, aliás supostamente eu iria substituir-te lá na empresa, mas não é algo que eu gosto de fazer, entendes? E tu vais tornar uma coisa que tu adoras na tua profissão, vais arriscar. E sei lá, talvez eu deva arriscar também, sabes?

–Sim...– Maria diz confusa, provavelmente por não estar a perceber onde isto nos vais levar.

–Eu pensei em abrir um cafezinho onde pudesse vender os meus bolos e doces, algo pequeno e acolhedor. E se a ideia antes me parecia um disparate, depois de te ver tão sonhadora com o teu projeto eu apercebi-me que um disparate é eu ter um emprego que eu não gosto quando podia estar a fazer algo que eu adoro. Mas eu não quero abrir um simples café, eu quero algo diferente e sofisticado. Foi por isso que eu  pensei em abrir o meu café junto com a tua florista– digo expectante.

–Uma florista e um café juntos? No mesmo espaço? Terra e bolos? Hã, okkk– ela diz visivelmente nada entusiasmada com a ideia.

–Não. Eu sei, assim de repente pode parecer uma ideia ridícula, mas deixa-me explicar!–eu digo tão entusiasmada que acho que a Maria não tem coragem de me interromper.

–Tu não vais propriamente vender flores em vasos, muito menos terra ou adubos. Também não vais cultivar as flores na florista, ou coisa que se pareça. Pelo que falaste estás a planear vender arranjos e ramos de flores e muito poucas flores em vasos, então eu pensei que seria genial juntar a tua florista a um cafezinho. Não será propriamente tudo junto. Teremos nomes diferentes e cada uma a sua entrada, mas por dentro juntamos os dois. De um lado a a tua florista e do outro o meu cafezinho. Imagina só o cheiro de bolos misturado com o perfume das flores! Seria sublime, e a decoração rústica que tu tinhas pensado misturada com um lugar onde se bebe chá e café com aquelas chávenas de porcelana meio antigas, seria perfeito. É uma ideia tão diferente, tão original que este espaço seria mais do que uma simples florista ou um café, seria um lugar emblemático, um ponto a passar quando se visita a cidade. Eu acho que seria um sucesso!– eu digo sonhadora, já imaginando como seria bom trabalhar num lugar assim.

–Eu não sei, Amora. Eu acho melhor ambas pensarmos antes de chegarmos a uma conclusão– Maria sorri mas parece um sorriso forçado. Muito sinceramente acho que ela não gostou da ideia.

–Claro, tens toda a razão. Eu só pensei nisto hoje, mas quis dizer-te antes que perdesse a coragem– eu digo para a tranquilizar.

–Claro. Vamos pensar sobre isso.

–Certo. Agora vai que o meu irmão deve estar ansioso à tua espera– eu digo piscando o olho.

Acho que ela entende a minha indireta porque fica logo corada.

Maria despede-se e eu fico a vê-la caminhar pelo corredor, enquanto eu me perco nos meus pensamentos mais uma vez.

Começo a imaginar o quanto tudo seria perfeito. A decoração rústica com muita madeira, cores  escuras e ligadas à natureza, uma lareira a um canto para acender no inverno. E a ementa? A atração principal seria, sem dúvida alguma, a minha tarte de amora. Mas também teria de haver bolo de chocolate, cupcakes e no inverno o meu chocolate quente faria um sucesso!

(Sobre)Viver Sem TiOnde histórias criam vida. Descubra agora