| n o v e |

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 –Vai andando com ele, que eu vou ali comprar o nosso café– eu digo para o meu irmão.  

É domingo e está um lindo dia de sol, por isso decidi trazer James até ao parque para conviver com outras crianças. Como o meu irmão não tem vida para além do trabalho e hoje ele não trabalha, veio comigo para felicidade de James que só quer o tio Ive.

Entro no café que eu e James costumávamos frequentar imensas vezes. A primeira vez que estivemos aqui, o espaço tinha acabado de abrir, foi no nosso primeiro encontro a sério, na semana seguinte à festa em que nos conhecemos. Depois disso tantas foram as tardes que passámos aqui a estudar enquanto namorados, mais tarde durante a faculdade este era o nosso ponto de encontro nas raras vezes em que eu e James nos víamos e depois quando casámos vínhamos sempre aqui antes das missões de James. Foi aqui que ele me prometeu que seríamos pais quando ele voltasse de missão, mal sabíamos nós naquela altura que eu já estava grávida e que ele nunca voltaria da missão.

Suspiro enquanto peço os cafés e uma caixa de donuts.

O espaço continua quase igual. A enorme vitrine com bolos de fazer cair os olhos e muitas mesas, quase todas elas cheias, espalhadas por todo o espaço. A baixa iluminação e as velas tornam o lugar ainda mais acolhedor.

A atendente entrega-me o meu pedido e sorri. Eu agradeço tentando equilibrar tudo nas minhas mãos e saio, ainda com o cheiro a café, baunilha e chocolate impregnado em mim.

–Steve! Ajuda-me aqui– peço quando chego perto do meu irmão.

O meu irmão apressa-se a ajudar-me e só aí reparo que ele não estava sozinho, mas sim com uma mulher que eu não conheço nem me lembro de alguma vez  ter visto. Olho para Steve sugestivamente, será que ele finalmente desencalhou?

–Amora, esta é a Maria. Maria, é a Amora, a minha irmã– o meu irmão apresenta.

–Olá! É um prazer conhecer-te– eu respondo simpática, não quero afugentar a pobre rapariga, senão corro o risco do meu irmão ficar solteiro para sempre!

–O prazer é todo meu– Maria responde levemente corada.

Como ninguém fala mais nada instala-se um silêncio bastante desconfortável entre nós. O que me faz ter a certeza de que há alguma coisa entre estes dois.

–Eu interrompi alguma coisa?– pergunto por fim.

–Não– eles respondem os dois ao mesmo tempo.

Hu-hum, eu penso para mim mesma.

–Bem é melhor eu ir indo...– Maria diz visivelmente atrapalhada.

–Oh, não!– apresso-me a dizer –Porque não ficas connosco? Ou então podias vir almoçar lá a casa, não era Steve?– decido dar uma ajudinha ao meu irmão.

–Não. Obrigada pelo convite, é muito amável, mas eu não posso– Maria responde de imediato fazendo o meu irmão suspirar de alívio, se bem que eu não entendo o porquê.

–Oh, uma pena. Numa próxima talvez...– insisto.

Mas antes que Maria tenha tempo de responder uma criança muito fofa aproxima-se dela.

–Mamã– o menino chama –Vamos pala casa? Eu tenho fome– ele diz fofamente, dando vontade de apertar as suas bochechas.

–Sim, meu querido, vamos já– Maria responde agarrando-o ao colo –Bom, foi um prazer conhecer-te, Amora. Eu tenho de ir. Até amanhã Steve.

–Adeus– eu respondo desanimada por ela ir embora tão depressa e tentando processar o facto dela ter um filho.

Eles afastam-se caminhando em direção à saída do parque enquanto o meu irmão continua a babar nela na cara dura. 

–Ei!– eu digo estalando os dedos em frente ao seu rosto.

–Hã?– ele responde acordando finalmente.

–Hipnotizado, maninho?–provoco.

–Que ideia foi a tua de convidar Maria para ir almoçar lá a casa? Ela é a minha secretária!– ele diz irritado.

–Secretária?–Isso quer dizer que afinal o meu irmão continua solteiro? A não ser que ele esteja apaixonado pela secretária, clichê, mas bem possível –Ahhhhh, desculpa. Mas como tu a apresentaste apenas como Maria eu não sabia que ela era a tua secretária. E vocês pareciam cúmplices, eu achei que...

–Achaste mal!

–Também não precisas de ficar assim, não foi nada demais!– eu tento defender-me.

–Como não? Tu convidaste a minha secretária para almoçar lá em casa como se ela fosse uma amiga íntima da família! Quando sabes perfeitamente que eu odeio misturar trabalho com a minha vida pessoal.

–Ok, tens razão, eu não o devia ter feito, peço desculpa– eu admito por fim só para não ter de  ouvir –Mas vocês estavam os dois muito cúmplices e achei que estivesse a rolar alguma coisa entre vocês. E como tu nunca terias coragem de a convidar para ir lá a casa, eu decidi fazê-lo por ti.

–Amora, tu tens de parar com essa tua mania de me querer juntar com alguém. É sério.

–Tudo bem. Ela é casada?

–Quem?– ele pergunta fazendo-se desentendido.

–A Maria– eu respondo revirando os olhos impaciente.

–Não sei...– ele responde enquanto parece pensar sobre isso.

–Ela não está com o pai do filho?– pergunto curiosa.

–Não, ele morreu– ele responde com cautela.

–Oh– eu respondo simplesmente enquanto tento não pensar muito sobre isso –O filho dela é uma graça, não achas?– desvio o assunto.

–Sim, apesar de nem o ter conhecido direito. Mal ele chegou ela foi-se embora– ele diz desiludido –Porque alguém foi muito inconveniente– ele acrescenta agora num tom acusador.

–Tu querias que eles ficassem connosco mais tempo, era?– não resisto em provocar.

–Amora. Para– ele diz sério. Não que eu lhe vá obedecer.

–Qual é! Ela é linda, vocês parecem dar-se bem...

–E daí? Ela é minha funcionária, tem um filho, uma história complicada. Achas que eu vou dormir com ela e descartá-la depois?

–Óbvio que não! Mas uma relação séria, quem sabe? Acho que já está mais do que na altura de assentares– eu insisto.

–Tu sabes bem que eu não estou à procura de uma relação séria.

–Tudo bem, mas olha que o amor não avisa...

–Amora, para, por favor. Eu não gosto da Maria desse jeito! Ela é bonita, simpática, determinada, uma mãe incrível, mas eu não estou interessado nela, ok?

–Podes dizer o que quiseres. Mas o sorriso que eu vi na tua cara quando Maria agarrou o filho diz o contrário– digo dando um gole no meu café.

E antes que ele possa responder, eu viro costas para ir ter com o meu filho, com a certeza de que o deixei a pensar no assunto.


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Este capítulo não tem nenhum momento do passado, mas eu quis desenvolver um bocadinho a história no presente e este capítulo tem muitas informações importantes, mesmo que subentendidas.

Para quem ficou curioso com a história do Steve e da Maria, eles são os protagonistas do meu outro livro que podem encontrar no meu perfil!

E com isto já vamos a meio da primeira parte do livro! O que é que estão a achar até agora? Acham chato todos os flashbacks? Ou acham que dão uma boa dinâmica ao livro?

A vossa opinião é mesmo importante! E não se esqueçam de votar ;)

(Sobre)Viver Sem TiOnde histórias criam vida. Descubra agora