Era impossível achar alguém mais sobrecarregado ou ocupado do que Anahís Rocha naquela delegacia. Seus olhos já não aguentavam mais ler aquelas dezenas de relatórios. Eram tantas tragédias que a mulher se sentia tonta só de lembrar dos inúmeros repórteres lhe rondando, além da cobrança da família das vítimas, tanto as vivas quanto as mortas.
Colocando tudo no papel ela tinha primeiramente: a morte de Hilda Camargo, que claramente foi um assassinato. A questão era achar a motivação de tal. Traçando o perfil da mulher ela não encontrou nada em particular que atrairia algum suspeito. Camargo não tinha nenhuma desavença com alguém da família ou do trabalho, não possuía grandes quantidades de dinheiro na conta bancária, apenas uma poupança singela que teve seu dinheiro retirado no dia em que ela pretendia sair da cidade, como as suas malas evidenciaram.
Outra incógnita era Alice Fernandéz ter achado o corpo. Anahís não era muito fã de coincidências, portanto não tardou esforços para investigar a adolescente. Notas acima da média, além de ter um ótimo relacionamento com os professores. Não se aprofundou mais na vida da garota, pois antes que tivesse a chance recebeu o chamado do ataque da infeliz no clube da cidade, no mesmo dia.
Voltando momentaneamente à professora, exames toxicológicos provaram que a única dependência que ela poderia ter era com cigarros e uns remédios para pressão, o que não caracterizaria um acerto de contas por dever a algum traficante.
Ponto dois: o requinte de crueldade. Não era um simples latrocínio, um simples assassinato feito pelo calor do momento. O maldito estudou e muito para aquele momento específico. E isso deixava a delegada mais nervosa do que tudo. Não estava lidando com uma pessoa inexperiente.
Ao final de tudo, Anahís Rocha tinha apenas uma certeza: Hilda Camargo havia sido assassinada. Um assassinato claramente qualificado.
Deixando os papeis de lado ela respirou fundo, vendo que já haviam passado das nove da noite. Pensando apenas em sua cama, pelo menos por enquanto, a mulher teve seus planos interrompidos quando um de seus subordinados entrou em sua sala.
— Chefe...
— Diga, Afonso. Como sempre você deve estar recheado de notícias boas.
O homem não se abateu pelo comentário, estando acostumado com o gênio estressado da mulher. Encostou a porta e se aproximou da mesa. O local era singelo, tendo apenas um ar-condicionado na porta, de um modelo antigo, uma mesa do outro lado da sala, na qual uma janela com uma cortina ficava por detrás. Era uma sala minúscula, reservada apenas para a delegada tomar as decisões e formular teorias sobre seus casos.
— Sheila e Karina Cavalcante querem conversar com a senhora.
— Mande-as virem aqui — ordenou, sem tirar os olhos da papelada, que ansiava em guardar dentro de uma pasta.
— Aqui na sua sala pessoal?
Anahís bufou, dando uma olhada para Afonso que o fez tremer por completo. O homem respirou fundo, preparando-se para a afronta iminente.
— Você é surdo, Afonso?! Se for te passo como funcionário PCD, porque sinceramente viu. Se eu disse aqui! É aqui!
— Si-sim senhora.
Anahís pegou seu telefone fixo. Discou o ramal da recepção, aguardando na linha alguns segundos.
— Pronto! — disse uma voz feminina.
— Elisa, faça uma coisa que preste na sua miserável vida e acompanhe as irmãs amaldiçoadas até minha sala. Peça para o policial Andrade vir junto, minha mente tá um caco pra outro problema! — Desligou o telefone antes que a recepcionista tivesse a chance de responder.
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RASTROS DE SANGUE (ANTIGO DOCE OBSESSÃO - EM BREVE FÍSICO) - DEGUSTAÇÃO
Horreur🏆 VENCEDOR WATTYS 2020🏆 Campos de Cordeiros nunca foi conhecida por ser uma cidade violenta e marginalizada. Isso até um assassino mascarado passar a aterrorizar seus moradores, dando início a uma caçada sanguinária, onde o passado parece se mistu...