4 VELHOS HÁBITOS CUSTAM A MORRER

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Freedom grita pelo alto falante do alarme. Levanto a mão para tentar encontrar e desligar o maldito aparelho sem precisar olhá-lo. Dolorida como nunca estive antes sou surpreendida por um abraço aconchegado da bela loira que dorme a meu lado. Isto é suficiente para que todas as informações de duas noites atrás desabem como uma avalanche sobre mim. Já não sinto mais sono. Finalmente tenho êxito com o alarme, mas resolvo que é hora de levantar.

Amanda abraça meu travesseiro, resolvo por conta própria que dá para liberar mais dez minutos de sono para minha amiga. Ontem era Natal e ela acabou voltando de nossa cidade tarde da noite só para não me deixar sozinha. Vou acordá-la depois do banho. Enquanto ela se troca farei o café.

Como se as memórias não fossem suficientes, minha imagem no espelho do banheiro serve de reflexo de toda loucura passada. Cabelo destruído, pele pálida; quase encerada; olhos borrados e injetados de vermelho com pequenos vasos gritando: chore menos e durma mais! Porque é óbvio que aproveitei o apartamento só para mim e desabei como o Niagara Falls. Deus, nem chegamos no meio da semana e minha vida já parece tema ruim de novela mexicana.

Que merda eu estou fazendo comigo mesma?! Seja lá o que for, se encerra agora. Jogo a água fria da torneira no rosto. O choque serve para me acordar e dar ânimo de seguir em frente. Após retirar o resto de maquiagem e escovar os dentes, sigo para o chuveiro, que segue o exemplo da torneira e quase me causa hipotermia com a água absurdamente gelada.

Por que raios esse banheiro está parecendo o fodido Alasca?

A voz de Amanda ainda rouca pelas horas de sono me retira do caos ordenado que são meus pensamentos. Olho para minha amiga e percebo que apesar da falsa leveza utilizada apenas para respeitar meu espaço, preocupação ainda estampa seu semblante. Entre vomitar toda a merda da minha mente e arriscar tê-la abrindo um processo de interdição sobre mim até o final do dia e deixar a coisa no campo das amenidades, vou optar pela segunda alternativa.

−Precisava de um banho gelado para voltar a ser gente.

Você está tentando morrer congelada isso sim! Coloca isso no morno pelo amor de Deus!

Reviro os olhos e continuo meu banho, mas antes de sair já deixo o chuveiro regulado para lindinha não morrer com um choque hipotérmico.

No quarto, reviro minhas roupas e escolho um vestido abaixo dos joelhos com uma fenda até quase metade da coxa esquerda. Apesar da fenda dar um ar sexy a peça, o corte clássico sem decote, com magas curtas e o jogo de cores, onde do busto até a cintura alta ele é todo preto e depois ele se transforma em um tom de nude apenas com duas tarjas pretas, uma de cada lado paralelas a fenda, que se unem, contornando toda a barra da saia.

Ele me permite usar cintas ligas e meias que protegerão minhas pernas do frio, sem ficar dando lances indiscretos das mesmas. Assim opto por um par de meias pretas que retirará um pouco da atenção que a fenda vai chamar. Ou não, sabe-se lá! Resolvo fazer um coque baixo e uma maquiagem discreta, porém com lábios em um tom bloodmoon mate, que deixa minha boca elegante, porém chamativa. Finalizo calçando minhas botas de saltos em tons de nude e colocando sobretudo preto com o cachecol da mesma cor. Me avalio em frente ao espelho, está perfeito. Ninguém sequer imaginaria que aqui habita uma mulher destroçada. Foda-se! Desde quando perco tempo me lamentando pelo que não deu certo?! Já diziam os chineses "o fracasso é a mãe do sucesso". Essa loucura toda foi boa, serviu para comprovar que sempre estive certa. Danem-se os happy ends, o segredo do sucesso é uma boa foda, seguida de uma despedida sem chance de volta.

Ao sair do quarto, percebo que Amanda ainda esta no banheiro. Agilizo um café rápido e deixo em cima da mesa com uma nota simples justificando minha fuga com um "Estou atrasada, nos vemos a noite".

Garoto Ordinário - Série Garota Ordinária (Livro 3) Em BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora